Auf Wiedersehen, Harry Loeffler

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Auf Wiedersehen, Harry Loeffler

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Na madrugada de ontem, morreu, aos 81 anos, o comunicador Harry Loeffler. Ele sofria de insuficiência respiratória e estava afastado do trabalho no rádio havia cerca de um ano. O velório na manhã de ontem foi marcado por homenagens e risos que afloravam quando seus “causos” eram relembrados.

O humorista, comunicador, fundador do Bloco dos Palhaços, pintor e quase um craque do Botafogo, time carioca no qual fez um teste de admissão durante a juventude, deixa a esposa Dulcy, quatro filhas e seis netos. Natural de Santa Cruz do Sul foi agraciado com o título de Cidadão Lajeadense, em 2001, e ficou conhecido pelo trabalho na Rádio Independente.

Nos próximos dias, a mulher com quem foi casado por 58 anos atende o pedido de lançar as cinzas de cima da ponte do Rio Taquari em um dia de vento forte. “As ondas vão e voltam e são sempre as mesas.”

A filha Tânia Neves conta que mesmo nos últimos momentos Loeffler, que ainda recebia cartas de fãs em várias cidades da região, não abandonou o senso de humor e a alegria de estar com a família. “A dor da perda fica mais leve com o tempo”, diz. “Fica o exemplo de que é melhor levar a vida com humor.”v

Foi esta característica que fez com que em 1963, o pintor “bom de improviso” iniciasse a sua trajetória no rádio. Começou em um programa de auditório chamado Grande Rodeio Independente, no qual precisavam de alguém que fizesse o papel de humorista.

Anos depois, A Barbearia do Hans apresentou ao Vale o personagem que falava com seus auxiliares em dialeto alemão e português germanizado e se tornaria marca registrada de Loeffler que, de fato, sabia pouco do idioma. “Meu sonho de menino era ser palhaço, acho que consegui chegar lá”, disse em entrevista concedida ao A Hora em 2010.

Ele era responsável pela apresentação de anúncios que muitas vezes viram piada e ao lado do humor levava informação aos ouvintes. O comunicador Paulo Rogério dos Santos conta que Loeffler não deixava de ler três jornais por dia e que algumas de suas provocações geraram a ira de políticos e autoridades.

O Escuta Vovó, no qual Hans dava lugar ao Harry, para apresentar o trabalho de bandas de baile da região sul. Foi o último a dispensar os discos de vinil do acervo da emissora. Ambos programas foram apresentados pela última vez em 2010, quando o comunicador se afastou para cuidar da saúde.

Última entrevista

Vendaval de 1967: Aconteceu o seguinte. Derrubou as torres, tudo. A rádio tinha saído do ar. Então foi feito rapidamente uma antena com um pau de eucalipto no Hidráulica, acho que até arame farpado tinha. Tudo para entrar um pouco no ar. Para poder divulgar uma coisa. Ela ficou precária, mas funcionou até outra antena ser instalada num outro lugar.

Mudanças no rádio: Mudou muita coisa porque hoje a tecnologia é bem mais avançada. Antes era tudo a manivela. Claro, a programação hoje é bem mais ativa e mais variada. O Lauro Müller era um grande jornalista, gostava de notícia. A rádio nunca facilitou com jornalismo, mas abria espaço para o humor. Tu fazia porque gostava. A recompensa sempre foi o carinho do ouvinte, da população.

Saudade dos colegas

O amigo e colega Ditmar Born participou da última fase da Barbearia do Hans ao lado do fotógrafo Ademir Beckmann. Ele lembra os eventos realizados nas localidades do interior. Nestas ocasiões, quando questionado sobre nome da atração, definia: “A barbearia é o lugar onde tem bastante fuxico”.

O programa era apresentado ao vivo, direto das comunidades e programações festivas. Segundo Born, o personagem conquistou o carinho no interior e na cidade. “Muitos profissionais liberais saíam para o almoço e ligavam o rádio para rir com o Hans.”

O radialista Jacy Pretto conheceu Loeffler há 21 anos. Neste período descobriu uma pessoa “de personalidade forte, mas muito tímida” que encontrou na comédia uma válvula de escape e de comunicação com o mundo. Lembra com saudade a figura que tinha gosto pela vida e sempre um comentário inteligente na “ponta da língua”. “Tenho certeza que é desta forma e com muita saudade que a comunidade se lembrará dele.”

Para Paulo Rogério, sua morte representa a perda de um patrimônio histórico da Rádio Independente e da comunicação social do interior do estado. Com o jornalismo cada vez mais sério e profissionalizado, sobra cada vez menos o espaço para improvisadores e humoristas como Harry. “O humor feito com inteligência é uma espécie de charge da realidade.”

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