Dezoito cidades da região querem municipalizar prédios abandonados pelo governo do estado. A demora no processo impede que os imóveis abriguem agroindústrias, sedes de associações ou se transformem em escolas municipais, conforme desejam alguns prefeitos.
Na última reunião da Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat), o prefeito de Anta Gorda, Vanderlei Moresco, pediu à entidade para encaminhar uma audiência com a Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul.
Ao todo são 43 escolas que poderiam integrar o patrimônio dos municípios, conforme levantamento realizado pela reportagem do Jornal A Hora.
Em Muçum, cinco imóveis aguardam decisão estadual. O prefeito Tarso Bastiane diz que o parecer favorável da 3ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) foi concedido. No entanto, o processo parou no governo do estado.
Segundo a 3ª CRE, o caminho para a municipalização parte de levantamento que demonstre ao estado não haver necessidade em manter a escola. “Esses dados levam em consideração os objetivos do município em utilizar o prédio e a área”, explica a coordenadora Marisa Bastos.
Para o presidente da Amvat, Sérgio Marasca, tanto os terrenos quanto os prédios podem ser melhor aproveitados se estiverem sob responsabilidade dos municípios. “Prefeitos só pretendem investir quando obtiverem a posse das áreas.”
A Amvat e a 3ª CRE encaminharão o pedido de doações à Secretaria Estadual de Educação. De acordo com Marasca, uma audiência será marcada para demonstrar o abandono do patrimônio público.
Outra medida possível para agilizar o processo é solicitar o interesse no Departamento de Administração do Patrimônio do Estado. Depois, o projeto de repasse do bem deve ser encaminhado à Secretaria da Educação do Estado.
Mais perto de municipalizar
Segundo a 3a CRE, Muçum e Cruzeiro do Sul estão mais próximos de receber a doação.
Dos cinco prédios desativados em Muçum, quatro são utilizados pelas comunidades, que se responsabilizaram pela limpeza e reparos. Mesmo assim, os imóveis necessitam de levantamento para saber as condições da infraestrutura predial.
Morador há 35 anos de Linha Bacharel, no interior de Muçum, Valdear Miotto, 54, conta que a diretoria da comunidade local conserva o imóvel. Hoje, a antiga escola serve de depósito para utensílios diveros, como de cadeiras e mesas.
A escola mais deteriorada fica em Linha Barra das Contas. A estrutura de madeira deve ser demolida. A ideia é utilizar a área para projetos de horta escolar.
Vandalismo e descaso
Dos 46 prédios desativados, a maioria está depredada e exposta à ação do tempo, contribuindo para tornar aquilo que um dia foi espaço dedicado à promoção do conhecimento em terrenos baldios.
Enquanto algumas administrações municipais buscam a doação do governo estadual, em Taquari é diferente. Dois prédios foram invadidos e a administração municipal não tem interesse na municipalização. “O estado precisa se responsabilizar”, desabafa o assessor do gabinete do prefeito, Cláudio Bastos.
Em alguns casos, o prejuízo vai além do patrimônio. Comunidades do interior perderam a referência da escola. Em Anta Gorda e Bom Retiro do Sul, os prédios estão desativados há mais de 15 anos, dificultando qualquer tentativa de restauração.
Em Arroio do Meio, há três colégios desativados. Um deles é conservado pela comunidade do Distrito de Forqueta. Conforme o prefeito Sidnei Eckert, a Escola de Ensino Fundamental Professor Reinoldo Scherer pode se tornar um colégio de educação infantil. Mas, é preciso que estado repasse o imóvel ao município.
O exemplo de Fazenda Vilanova
Desde o fim da década de 90, a Administração Municipal de Fazenda Vilanova se organizou para municipalizar as duas escolas estaduais do interior. O colégio de Santana, que passou à administração municipal em 2009, atende 40 alunos e se prepara para atividades em turno integral.
A outra escola, da localidade de Matutu, recebe alunos para projeto de horta escolar. Uma vez por mês, os estudantes vão ao local, acompanhados por um extensionista da Emater/Ascar-RS, para aprender sobre a produção de verduras para a merenda escolar.
Segundo o prefeito José Cenci, depois de passar pelo processo de avaliação da 3a CRE, o governo do estado deve encaminhar um projeto de lei repassando os imóveis ao município. “Tendo o parecer favorável da 3a CRE fica simples.”
Outros municípios utilizam o prédio por meio de sessão de uso, como é o caso de Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo. A cada quatro anos, a administração municipal solicita a prorrogação do termo. Ao todo são seis prédios utilizados pelas comunidades do interior.
Municípios com escolas desativadas
Anta Gorda (3) – Há 15 anos, três escolas estaduais foram desativadas em Linha Borgheto, Linha Contini e Linha Cordilheira.
Arroio do Meio (3) – Escolas desativadas há mais de 20 anos.
Bom Retiro do Sul (4) – Há mais de 15 anos.
Capitão (1) – A escola estadual de 1° grau incompleto Jacob Sattler, da localidade de São Luis, fechou em 2005.
Coqueiro Baixo (3) – Colégios desativados há mais de 15 anos.
Cruzeiro do Sul (3) – Eram quatro escolas. Mas, 2010, a São Rafael foi municipalizada.
Dois Lajeados (1) – Em 1992, uma escola foi desativada.
Encantado (4) – Os prédios ficam em Linha Argola, Linha Auxiliadora, Linha São Luiz e em Linha Guaporé o prédio é usado para um Posto de Saúde.
Marques de Souza (1) – O prédio da Sociedade escolar não é ocupado pela Escola Ana Néri.
Muçum (5) – Os prédios ficam em Linha 28 de setembro, Linha Barra das Contas, Linha Bras Charleu, Linha 13 de Maio e Linha 20 de Setembro.
Nova Bréscia (2) – Em Jacarezinho e Linha Caçador estão desativadas há cinco anos.
Poço das Antas (1) – Desativado há 15 anos, o prédio fica em Vila Esperança.
Pouso Novo (2) – Nas localidades de Barro Preto e Medorema. Abandonados há 15 anos, os prédios estão sem condições de uso.
Putinga (1) – O colégio, desativado há 12 anos, está deteriorado. A localização é de difícil acesso.
Roca Sales (4) – As escolas ficam em Linha João Abott, Linha Pinheirinho e Linha Marques do Herval.
Sério (1) – Parada há dez anos, a escola fica na localidade de Sete de Setembro.
Taquari (2) – Uma em Linha Francisca Calçada e outra em Fazenda Lengler.
Travesseiro (2) – Os colégios ficam em Barra do Fão e em Linha Cairú.