O medo de deixar todos os bens para trás e se refugiar em um local seco faz parte do cotidiano de centenas de famílias. Duas semanas após o Rio Taquari atingir quase 27 metros, as chuvas torrenciais voltam a inquietar.
De acordo com Alexandre Aguiar, da Metsul Meteorologia, até as 16h30min de ontem, foi registrado 110 milímetros de chuva em Lajeado. A média mensal varia de 130 a 150. No mesmo período, as cidades de Soledade e Farroupilha registraram 46 e 55 milímetros. “A previsão é que aumente hoje a chuva na Serra. Isto refletirá no nível do Rio Taquari.”
Aguiar adianta que o leito do rio terá alterações. Uma cheia semelhante àquela de julho está descartada. “Mas há sim a possibilidade de novas enchentes. Quem mora em áreas ribeirinhas ou alagáveis deve ficar alerta.” A chuva deverá cessar só amanhã. Para quinta e sexta-feira, a previsão é de sol com temperaturas altas.
De acordo com o coordenador regional da Defesa Civil, major Vinicius Renner Galvani, os municípios foram contatados para averiguar a situação dos principais arroios. que as equipes alertam para possíveis deslizamentos de terra, em locais como margens, encostas, estradas e morros. “Não há previsão de enchente ou remoção de famílias nas próximas 24 horas.”
Angústia bate a porta
Os móveis perdidos nem foram recolhidos e a possibilidade de outra enchente leva os moradores de áreas alagáveis à apreensão. A comerciante Elza Schmidt, 49, mora há cinco anos numa casa de 40 metros quadrados na rua Décio Martins Costa, onde o Arroio do Engenho foi canalizado. Ela e outras cinco pessoas foram atingidas na enchente do dia 21 de julho, quando a casa ficou submersa.
Afirma que após o aterramento de algumas áreas próximas, a enchente passou a invadir a residência com mais frequência. Agora, qualquer chuva torrencial preocupa. Na última enchente perdeu máquinas de costura e de lavar, colchões, material de trabalho e 240 bancos estofados prontos para entrega.
A proprietária da estofaria diz que perdeu quase tudo, apesar de ter solicitado socorro à Defesa Civil. “Salvei algumas coisas pequenas.” Elza critica a administração municipal. “Eu pago IPTU, mas nunca recebo ajuda.”
Se arrepende de ter comprado a casa e quer vendê-la, pois só em 2010 a casa foi atingida três vezes pelas cheias. “Estamos abalados, nem conseguimos mais dormir.” O lixo e a proliferação de insetos e animais peçonhentos aumentam os problemas.