Isolados

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A queda de duas pontes com a força das águas, no dia 4 de janeiro de 2010, trouxe um pre­juízo de R$ 8,5 milhões aos mu­nicípios de Progresso, Fontoura Xavier e Barros Cassal.

As estruturas construídas por volta de 1970 eram a principal ligação entre as cidades. Há 18 meses esperando por uma so­lução, os motoristas são obri­gados a trafegar por caminhos alternativos que chegam a cem quilômetros. Os moradores es­tão isolados e se arriscam atra­vessando o rio de barco e até a nado.

Apesar das reclamações das famílias, nenhum recurso foi li­berado para iniciar a obra. Em Progresso, a reconstrução da ponte, localizada na comuni­dade de Barra do Duduia, está estimada em R$ 5 milhões.

ponteO prefeito Edegar Cerbaro diz que a administração aguarda a liberação de verbas dos go­vernos estadual e federal para reconstruir a estrutura. “Esta semana estive em Brasília para agilizar a liberação dos recursos, mas não temos data para que as obras iniciem. Será muito difícil a ponte ser reconstruída, tendo em vista as poucas famílias que moram nas localidades.”

Outro projeto que foi elabo­rado e enviado ao governo do estado é a construção de estiva na comunidade de Três Lagoas. O custo está orçado em R$ 500 mil. “Caso não seja liberado este valor, tentaremos fazer uma parceria com a administração de Pouso Novo para construir a ligação.”

Estiva é alternativa

Cerbaro garante que o recolhi­mento de leite e o transporte esco­lar seguem normalmente. Lamen­ta que as pessoas estejam isoladas. “Temos pouco a fazer para resolver o problema. O município não tem recursos para realizar a obra. Res­ta ter paciência.”

Situação semelhante ocorre na divisa entre os municípios de Barros Cassal e Fontoura Xavier. A ponte, com extensão de 75 me­tros, foi destruída pela força das águas, causando um prejuízo de R$ 3,5 milhões. O trajeto de 30 quilômetros, que antes ligava as duas cidades, foi estendido para mais de 130.

O prefeito de Barros Cassal, Ivo Francisco Fachi calcula que depois da queda das pontes, cer­ca de 500 pessoas deixaram as comunidades próximas. “Nem o leiteiro consegue recolher a pro­dução. Sem alternativa de lucro e isolados, muitos agricultores deixaram o campo. Se nada for feito, esse número continuará crescendo.”

Fachi observa que o município começa a registrar perdas na arrecadação depois que muitos agricultores abandonaram suas propriedades. “Até agora só escu­tamos promessas. Está na hora de os discursos darem lugar a atitudes práticas.”

Para facilitar a passagem das pessoas de um lado para o ou­tro do rio, a administração pro­videnciou a construção de uma pinguela. Para chegar às cidades, os motoristas precisam utilizar outro acesso. Um pela rodovia Barros Cassal-Soledade, pela BR-153 ou Soledade-Fontoura Xavier, pela BR-386.

Recursos dependem da União

O projeto de reconstrução das pontes foi encaminhado ao Ministério da Integração Nacional, em janeiro de 2010. Apenas em abril deste ano ele foi relacionado para inspeção in loco pela Defesa Civil, conforme o Ministério.

De acordo com o secretário de Administração de Barros Cassal, Wagner de Oliveira, o valor necessário para reconstruir o acesso é de R$ 3,5 milhões.

“Meu filho morreu por descaso dos políticos”

A agricultora Ivani da Silva de Brum, da comunidade de Barra de Tocas, em Progres­so, diz que pela inércia dos políticos seu filho Jocinei, 19, morreu afogado tentando atravessar a nado o rio de­pois que a ponte caiu há um ano. “Ele tentou buscar um caíque que estava do outro lado da margem para aju­dar a atravessar a sua irmã”, lembra. “Esta perda nenhum político conseguirá trazer de volta. É um descaso. Uma vergonha. Estamos isolados e esquecidos.”

Com a queda da ponte, a única alternativa de lucro da família foi prejudicada. Eles fabricavam queijo colonial e o vendiam para mercados do município de Pouso Novo em troca de outros alimentos. “Os comerciantes deixaram de passar. Apenas o trans­porte escolar continua.”

Há cinco meses, outra tra­gédia assola a família. Ivani quebrou a perna e devido ao acesso precário, teve que aguardar 33 dias para fazer a cirurgia. “Nem a ambu­lância vem me buscar. Te­mos que contratar um carro particular e pagar R$ 70 por viagem para chegar ao cen­tro de onde sigo para o trata­mento em Arroio do Meio.”

O marido Nelson diz que uma das saídas seria deixar a localidade. “Se tivéssemos estudo, teríamos nos muda­do para a cidade há muito tempo. Estamos largados à própria sorte. Acho que os políticos nem sabem mais que vivemos isolados aqui.”

Famílias abandonam as propriedades em busca de qualidade de vida

Claudiomiro Trombini perdeu a conta de quantos vizinhos e conhecidos se mudaram para a a cidade ou outras localidades onde o acesso é mais fácil.

Seu próprio irmão, esta semana, se mudou para a cidade de Pouso Novo, onde começou a gerenciar uma churrascaria. “Plantávamos fumo em parceria, mas como ele morava do outro lado do rio, deci­diu largar tudo e se mudar para a cidade. Se nada for feito, outros moradores farão o mesmo.”

O filho Willian pensa em se­guir os passos do tio. “Não te­mos como ficar. Nem uma ponte conseguem construir. Que futu­ro teremos aqui?”

Assim como a maioria das famílias, atravessam o rio de caíque ou a nado quando pre­cisam se deslocar aos municí­pios localizados do outro lado da margem como Pouso Novo e Fontoura Xavier.

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