Pelo menos três bairros da região têm população maior do que a maioria das 37 cidades que integram a Associação de Municípios do Vale do Taquari (Amvat).
O Canabarro, em Teutônia, tem 10.789 moradores e lidera o ranking. A seguir aparecem o Centro e o São Cristóvão, em Lajeado e o Boa União, em Estrela. No total, somam mais de 29 mil habitantes.
Estas áreas receberam investimentos em estrutura para acompanhar o desenvolvimento da produção fabril gaúcha. A migração fez crescer a variedade de culturas e sotaques nestas áreas e a instalação de empresas e serviços públicos fez com que muitos não precisassem mais se deslocar a outras partes da cidade.
Segundo dados coletados na pesquisa do Censo 2010, em cerca de dois anos o São Cristóvão será o maior bairro de Lajeado. Sua tendência de crescimento é de 46 moradores a cada ano. O Centro, primeiro colocado, perde 25 pessoas no mesmo período.
Em uma área estimada em 2 quilômetros quadrados vivem 7.039 pessoas. O triplo da população de Travesseiro. Cerca de cinco vezes mais do que Coqueiro Baixo, a cidade menos populosa do Vale.
Em 2010, a administração municipal de Lajeado autorizou 1.384 projetos de construção civil em uma área total de 298.231 metros quadrados. O São Cristóvão foi um dos bairros que mais abriram espaços para o setor. Aos poucos o local deixa para trás o perfil residencial e enfrenta problemas típicos das grandes cidades.
Segundo a Secretaria de Planejamento de Lajeado, cerca de 600 empresas operam no local. Entre elas, um shopping center, restaurantes, locadoras de filmes, igrejas, redes de bancos, uma franquia de hipermercado.
O presidente do bairro, Carlos Kayser mora no local há 20 anos. Segundo ele, os habitantes se mantêm integrados e ativos na vida comunitária.
O tráfego na Av. Senador Alberto Pasqualini em direção a Univates, um dos principais polos de tecnologia e formação profissional da região, é a principal fonte de reclamações.
A administração municipal espera contornar o problema com a abertura de uma via pública ao lado do Maxi Atacado. No local serão oferecidos cinco terrenos para a instalação de empreendimentos como a sede da Unimed e da Cooperativa Sicredi.
“As áreas verdes serão mantidas e abertas para o uso dos moradores”, diz Kayser.
Rodovias contribuem para o crescimento do Boa União
Boa União, o maior dos 13 bairros de Estrela moram mais de 4,2 mil pessoas. A maioria entre 20 e 24 anos. O economista Adriano Strassburger acredita que o potencial de expansão se relaciona à proximidade da BR-386 e da RS-453.
Isso facilita o transporte de mão de obra para outros locais e motiva a instalação de indústrias. A que mais se destaca pertence ao ramo têxtil.
Outra fonte de emprego é a fábrica de produtos lácteos no distrito de Novo Paraíso, destino diário de muitas pessoas do Boa União.
Renato Alfredo Horn, o Bonitinho, 57, foi quatro vezes eleito vereador pela população local. Segundo ele, a principal reivindicação dos moradores é por investimentos em calçamento e pavimentações.
Ele cita a quantidade de linhas de ônibus como responsável pelo grande movimento no local.
O segundo mais populoso é o bairro das Indústrias, com 3.590 habitantes.
Canabarro entre os 20 maiores do estado
O Canabarro é o mais populoso bairro da região. De acordo com os dados do IBGE, com exceção da região metropolitana, ele fica entre os 20 maiores do estado.
No local estão instaladas duas grandes indústrias calçadistas e uma fábrica de laticínios que, segundo dados da administração municipal, correspondem a mais de 60% do faturamento do município.Dos seus 10.789 habitantes de Teutônia, cerca de 980 estão na faixa dos 10 aos 19 anos.
Três vereadores e o prefeito moram no local que concentra o principal polo industrial calçadista do Vale.
Cleni Machado, 41, chegou na cidade acompanhada dos pais e irmãos aos 11 anos de idade. Eles vieram de Pelotas atraídos pelos salários das fábricas.
Aos 14 ela começou a trabalhar em uma onde conheceu o marido operário.
Ela poucas vezes deixou o local que considera tranquilo e bem organizado e não teme as consequências da queda da produção frente à concorrência estrangeira. “Temos a infraestrutura para receber as empresas”, diz. “O ramo pode mudar, mas a mão de obra é indispensável.”
Elton Kplepker, 83, foi o primeiro prefeito do município que até 1981 pertencia a Estrela. Ele ocupou o cargo duas vezes e se orgulha de ter lutado pela emancipação do que foi considerada “a Bélgica brasileira”.
Ele provoca dizendo que 95% da população não sabe onde fica a sede da cidade. “É instituída por lei como a soma dos três principais bairros e suas zonas intermediárias.
Segundo Klepker, era exigido que as indústrias empregassem pessoas alfabetizadas e que seria exigido vínculo profissional e comprovante de moradia para “que se pudesse parar por aqui”.
Ele conta que o jornalista Élio Gaspari lhe acusou de expulsar do município quatro famílias nunca identificadas. Ele nega que havia discriminação de qualquer espécie.
De Piraí para São Cristóvão
O bairro foi separado do centro em 1985 e recebeu o nome de Piraí. Cerca de 30 anos antes, a inauguração de indústrias como a Souza Cruz e Industrial de Papel Pirahy, vinda do Rio de Janeiro, motivou a vinda de centenas de famílias de diversas partes do estado. Como havia muitos motoristas e a sede de uma empresa de transporte urbano, a devoção a São Cristóvão motivou a escolha do nome.
Desde que nasceu, o empresário Desmar Dente, 54, mora no local. Seus pais eram agricultores que decidiram trocar a lida no campo pelo trabalho nas fábricas instaladas no local. Ele lembra quando o bairro era dividido em dois pela Av. Senador Alberto Pasqualini. “De um lado era o São Cristóvão, do outro o Piraí.”
Esportes, namoros, entre outros, despertavam a rivalidade que às vezes virava briga. O problema começou a ser resolvido com a extinção do nome Piraí, em 1985. Segundo Dente, o local foi por muitos anos um polo de investimento da administração municipal. Fato que hoje se reflete no número de obras e na atração de pessoas dispostas a morar e trabalhar no local.
Ele diz que é hora do bairro contar com uma sede policial para que o estado esteja mais presente e possa evitar crimes com mais presteza. Ele adianta que começou nesta semana a construção da nova sede da Associação dos Deficientes Físicos de Lajeado (Adefil), um ginásio no Loteamento dos Médicos.