Os municípios e os estados terão de cumprir metas de atendimento se quiserem receber a verba do governo federal destinado ao Sistema Único de Saúde. A nova regra entrou em vigor nesta terça-feira, quando o Diário Oficial da União publicou o decreto assinado pela presidente Dilma Rousseff.
Esta é a primeira vez que a União fixa regras para o serviço, criado há 21 anos e que ainda estava sem regulamentação. As metas serão estabelecidas mediante contrato firmado pelos prefeitos com os governos estadual e federal.
A secretária de Saúde de Estrela, Adriane Mallmann, destaca que o decreto apenas aprofunda as diretrizes estabelecidas pela lei 8.080, de 1990, que criou o SUS. Ela acrescenta que alguns municípios da região trabalham com as metas de atendimento há alguns anos.
Em Estrela, as metas são a redução da mortalidade infantil, o oferecimento de 1,5 consultas básicas por habitante durante um ano e o máximo de sete consultas pré-natal a cada gestante. As determinações são discutidas de acordo com os indicadores de saúde e aprovadas pelo Conselho Municipal de Saúde.
Para o secretário de Saúde de Lajeado, Renato Specht, o maior benefício do decreto é a regionalização dos atendimentos. Ele acredita que, agora, os municípios que tiverem a mesma característica de atendimento poderão interagir.
Specht acrescenta que este novo método de trabalho diminuirá o desperdício de dinheiro público na compra de equipamentos que ficam inutilizados em algumas cidades.
O responsável pela 16ª Coordenadoria Regional de Saúde, Jolci Léo Bolsi, destaca que, com o decreto, os municípios destinarão os recursos da área para o atendimento básico.
Conforme Bolsi, as administrações municipais têm investido mais nos serviços de média e alta complexidade, enquanto deveriam se focar na prevenção de doenças. “É claro que, agora, o estado tem que aumentar os investimentos. Não adianta só cobrar.”
Secretária ironiza possíveis punições
O Ministério da Saúde (MS) pode punir os municípios que não atingirem as metas estabelecidas. Para poder fazer a cobrança, o decreto determina que os prefeitos terão de firmar contratos de gestão com os governos estadual e federal.
As punições ainda estão indefinidas, mas o MS estuda bloquear o repasse das verbas do SUS caso os atendimentos feitos fiquem muito abaixo do acordado.
“Corte de repasses? Essa é a ameaça?”, questiona a secretária de Saúde de Estrela. Adriane critica a medida, porque tanto o estado quanto a União descumprem os percentuais de investimento na área – de 12% e 10% dos respectivos orçamentos.
Ela acrescenta que os municípios precisam destinar mais do que os 15% estabelecidos pela constituição porque os recursos destinados pelos demais gestores públicos são insuficientes para os atendimentos de média e alta complexidade.
Para Specht, a falha do decreto é deixar indefinidas as responsabilidades dos governos federal e estadual. Ele também critica a demora na regulamentação do SUS. “Isto mostra que a saúde nunca foi a preferência dos governos e que agora o fazem por questões políticas.”
Ministério cobrará relatórios
Os estados e os municípios terão de fazer relatórios periódicos para garantir ao MS que cumprem as metas e os indicadores. Com estes dados, o ministério definirá quem deverá receber recursos. Aqueles que estiverem acima do acordado poderão ganhar até o dobro da verba do SUS.
Até esta terça-feira, a lei não estabelecia punições aos que descumprissem as metas gerais. As punições eram aplicadas só quando irregularidades no uso do dinheiro fossem comprovadas.
Como ficará o serviço
Antes |
Depois |
Não havia metas sobre a quantidade de atendimentos |
Até o fim do ano, cada município terá metas de atendimento, de acordo com a necessidade de cada população |
O governo definia, a cada quatro anos, as metas gerais para a saúde |
O país será dividido em 419 regiões de saúde. Cada uma delas terá metas diferentes, de acordo com a realidade de cada uma |
Não havia punições para os que descumpriam as metas gerais |
As punições serão definidas para os estados e os municípios. OMS sinaliza com o bloqueio dos recursos e os mais eficientes poderão ganhar até o dobro do destinado |