Comunidades são extintas pelo êxodo rural

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Comunidades são extintas pelo êxodo rural

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Há 20 anos, Linha Natal, Fortaleza e Herval estão sem moradores. As três localidades estão isoladas por falta de cuidados. O mato to­mou conta de campos de fute­bol, escolas e uma igreja.

O casal Carmen e Nelson Steiger, 62 e 63 anos, deixou a comunidade de Herval há duas décadas para morar no centro do município. Optaram por dar uma melhor qualidade de vida aos dois filhos.

comunidadeCarmen lembra que traba­lhava na lavoura e todos os dias ela e seu marido carrega­vam 20 litros de leite até a es­trada principal, cerca de cinco quilômetros. “O trabalho era cansativo, mas tínhamos re­torno.”

Eles trocaram 17 hectares de terras por um terreno no cen­tro, em que vivem até hoje. Em Herval não passa ônibus, nem carros. Sem moradores, a ad­ministração municipal não ar­ruma as estradas. As proprie­dades foram vendidas e agora são utilizadas para plantações de acácia.

Steiger conta que há 43 anos moraram 28 famílias em Her­val. Ela era dividida em Herval Alto e Herval Baixo. A agricul­tura era coletiva e a ida ao centro, só uma vez por mês.

Carmen confessa que mes­mo com as dificuldades, tem saudades de viver lá devido à tranquilidade. Ela conta que a falta de energia elétrica e água encanada a motivaram a se mudar.

José Paulo Konrath, 59 anos, mora próximo da entrada da comunidade Fortaleza. Ele la­menta que as pessoas deixa­ram o local porque ficou aban­donado. Todas as casas foram demolidas e hoje há apenas morros e vegetação. A comu­nidade tinha até um time de futebol.

Uma colônia que virou floresta

Fundada em 1915 por imi­grantes alemães e italianos nos morros que dividem os municípios de Capitão e Tra­vesseiro, Linha Natal tinha casas de madeira, campo de futebol, bar, escola, igreja e cemitério. Hoje, sobraram fa­chadas destruídas e tomadas pelo mato.

O nome Natal vem do latim e significa nascimento. Natal abrigava mais de 40 famílias e centenas de moradores três décadas atrás. Hoje, não há ninguém.

Da igreja, construção para a qual cada família dedicou 18 dias de trabalho, sobra­ram as paredes. Os santos foram transferidos para outra capela. Bancos, portas e ja­nelas viraram lenha.

Em 1993, a Escola Olavo Bilac foi demolida, motivan­do ainda mais a saída dos moradores da localidade. E os tijolos foram usados na construção de um loteamen­to popular no centro do mu­nicípio.

A terra da erva-mate

Herval surgiu há 130 anos. Só ha­via mato e animais selvagens. Na época da revolução dos Maragatos, dois posseiros, Manuel Julio e Fran­celino Julio, que vieram fugidos de Arroio do Meio com mulheres rou­badas das famílias Fontana e Schi­mizt. Atravessaram matos a cavalo, fazendo trilhas com facão por vários dias, à procura de um lugar adequa­do para morarem e não serem des­cobertos.

Três anos depois, Seberino da Cos­ta e José Ferreira foram morar na localidade. Herval foi o esconderijo escolhido por ter água boa, frutas silvestres e estar situado longe de Ar­roio do Meio.

As primeiras casas foram cons­truídas com paredes de pau, telhado de capim e reforçadas com barro. E o principal cultivo foi o milho, arroz, feijão e mandioca. Mais tarde, culti­varam a erva-mate, sendo a mais importante cultura de subsistência, passando a ser uma fonte de renda. O nome de Linha Herval veio do cul­tivo da erva-mate.

O cavalo era o meio de transporte utilizado devido à estrada ruim. A primeira missa da comunidade foi rezada na casa de Leopoldo Camini, pai da Ana Dill e avô do Wagner Dill.

Elísia de Castro foi a segunda pro­fessora que trabalhou por 24 anos nesta comunidade, ia do centro da cidade a Herval galopando, levando 20 minutos para percorrer o trajeto. Nesta época, havia 36 alunos de 1ª a 5ª séries. Os alunos sentavam no chão porque não tinham classes, nem quadro.

Na década de 90, os jovens come­çaram a sair da comunidade para buscar uma vida melhor na cida­de, como estudo e trabalho em res­taurantes. Os idosos morreram e a escola com apenas cinco alunos foi fechada.

Fortaleza abandonada

Linha Fortaleza se situava no distrito de Travesseiro que pertencia ao município de Ar­roio do Meio. Sua povoação começou em 1910 e teve cerca de 113 habitantes distribuí­dos em 27 famílias.

Os habitantes plantavam soja, milho, feijão e trigo e criavam animais para o pró­prio sustento e comércio. Cul­tivavam parreirais para fa­bricação de vinhos.

Alguns moradores martela­vam pedras para fazer parale­lepípedos que eram vendidos no próprio município para construção de ruas e funda­mento de casas. A comuni­dade tinha como ponto de referência a Escola Municipal Fortaleza, construída em área cedida pelos senhores Affonso Scheibel e Abílio Delazeri.

Como não havia luz elétri­ca e água encanada muitos migraram para o centro de Travesseiro, buscando melhor qualidade de vida. O êxodo re­duziu drasticamente o núme­ro de moradores e de alunos. Em 1982, a escola foi desati­vada e a comunidade ficou sozinha.

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