Catadores sofrem com a desvalorização

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Catadores sofrem com a desvalorização

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Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

A queda do preço do alumínio, um dos descartes mais rentáveis da indústria da reciclagem, chegou a mais de 50% desde a crise de 2008. A desvalorização atingiu em menor grau plásticos e papéis afetando famílias que sobrevivem da coleta desses materiais.

Antes o preço do quilo de alumínio vendido para depósitos no Vale alcançava R$4, hoje este valor não ultrapassa R$2. Com o objetivo de suprir a necessidade de qualificação e representatividade dessa classe, sábado ocorre a cerimônia de formação da primeira turma lajeadense do curso de Cooperativismo em Reciclagem.

catadoresParticiparam deste grupo 25 pessoas vinculadas à Associação de coletores Sepé Tiarajú, do Bairro Santo Antônio. As atividades foram ministradas pela sede santa-cruzense do Movimento Nacional de Catadores, cujo objetivo é formar líderes no município.

Os membros do grupo estão concluindo a construção de um depósito para o recebimento, compra e triagem do material reciclável. Segundo a Irmã Adolfina Morar, a formatura coincidirá com a inauguração do espaço que entra em funcionamento na próxima semana.

Ela destaca a necessidade de organização para facilitar o acesso a recursos públicos, acompanhamento técnico e a negociação de preços com as empresas intermediárias.

Adolfina relata um exemplo da falta de perspectiva dos catadores atualmente. Em setembro do ano passado, após dias de trabalho, eles entregaram uma grande carga de plástico para uma empresa de reciclagem. Em troca receberam R$90. “Não sobrou nem R$10 para cada um deles”, diz. No bairro Santo Antônio existe outro grupo de catadores, o Simon Bolívar. Juntos, eles agregam mais de 30 pessoas. No município vivem mais de cem catadores sem vínculos com entidades representativas.

Serviço organizado

Trabalhando em conjunto com outros seis catadores, em um terreno localizado no bairro Centro, Adriano Luis da Silva, reclama do descaso das pessoas no momento de separar o lixo doméstico. Segundo ele, além da desvalorização dos produtos, o fato acarreta perigo para os trabalhadores. “Seguidamente nos cortamos com cacos de vidro, ou ficamos doentes devido aos produtos tóxicos”, diz.

Para ele, o serviço dos catadores é desvalorizado pela comunidade. “Sofremos preconceito, mesmo trabalhando honestamente, e em prol da limpeza pública”, declara.

Sobre a organização dos catadores, ele diz que todos têm horários e responsabilidades. O recolhimento é realizado nas primeiras horas da manhã, e no final do dia, para evitar exposição demasiada ao sol. Ele diz que todos colaboram com o aluguel de uma máquina de prensar material, e que o objetivo é comprar um aparelho novo.

O catador conta que a relação deles com a sociedade muitas vezes é complicada. Segundo ele, muitos chegam a ofendê-los, principalmente no trânsito, enquanto outros elogiam o trabalho.

Silva diz que alguns moradores os contratam para limpezas de terrenos, e os empresários fazem acordos com os papeleiros, para uma melhor distribuição de papelões e plásticos

Preços dos materiais

Cobre – R$7,00 kg (Comprado apenas de empresas registradas)

Ferro – R$ 0,15 kg

Papelão – R$ 0,20 kg

Alumínio – de R$1,20 a R$2,00 kg

Grupos esperam centro de triagem coletivo

De acordo com Isidoro Fornari, Secretário para Assuntos Extraordinários de Lajeado, o poder público conseguiu a liberação de R$ 300 mil da Caixa Econômica Federal (CEF) para a construção de um centro de recebimento e triagem de materiais descartáveis no bairro Santo Antônio.

A administração municipal aguarda a liberação para autorizar a licitação da obra. Fornari acredita que a obra seja concluída no primeiro semestre.

Ele diz que é fundamental que as associações de catadores se reúnam sob a direção única para a definição de horários e normas para o centro de triagem. “Com organização todos serão beneficiados”, conclui.

Muito trabalho e pouco dinheiro

Alessandra Couto, representante da Cooperativa de Reciclagem do Vale do Taquari (CORVT) diz que desde 2009, muitos catadores precisaram dobrar o tempo de trabalho para manter os ganhos. “Isso prejudica muito a saúde e a família dessas pessoas”, diz.

O proprietário de um ferro velho em Lajeado, que está no mercado de alumínio há 20 anos, confirma que o preço pago pelo produto ficou reduzido pela metade após a crise internacional. Entre os motivos, ele aponta a entrada no mercado de linguotes de alumínio produzidos na China e Colômbia com preços mais baixos que o material reciclado.

A desvalorização dos recicláveis faz com que os intermediários da região que negociam com fábricas de São Paulo, destino de mais de 75% do produto no país, paguem menos aos catadores. “O efeito disto é sentido na ponta mais fraca, as pessoas que recolhem os materiais nas ruas”, diz Alessandra.

Segundo um comprador, quem se empenha e utiliza carroções para o transporte de grandes cargas consegue obter de R$700 a R$1 mil por mês. No entanto, a incerteza de um rendimento fixo desmotiva os trabalhadores. “Se em alguns dias eles conseguem ganhar R$200, em outros esse valor não passa de R$40”.

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