Vale dos Lácteos

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Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Pioneiro em todo território brasileiro, o Plano Nacional de Controle e Erra­dicação da Brucelose e Tuberculose Bovina (PNCEBT) começa a se tornar realidade. Ontem, 20 propriedades rurais foram certificadas como zonas livres das zoonoses. Segundo o coordenador do plano, Oreno Ardêmio Heineck, todos os rebanhos passaram por três análises criteriosas antes de receberem a distinção. “Há 70 proprieda­des prontas para serem certificadas em Nova Bréscia e mais 57 em Capitão”, adianta.

leiteO secretário Nacional de Defesa Agrope­cuária, Francisco Sergio Ferreira Jardim, que estava em Capitão durante a entrega, garante que as demais propriedades serão certificadas até julho de 2011, quando a região será oficialmente declarada como livre das doenças, podendo assim expor­tar produtos. “A integração entre os pro­dutores é a particularidade para o sucesso do projeto”, afirma, acrescentando que o plano será usado como exemplo em outras regiões do país.

Jardim enaltece a utilização da tecnolo­gia na busca pela sanidade animal. Como exemplo, ele cita a futura certificação do laboratório de leite da Univates pelo Mapa. “Isto está próximo”, garante. Segundo ele, o resultado do plano trará um valor maior ao produto, uma valorização de toda a ca­deia leiteira da região e segurança para a saúde pública, tirando do mercado produ­tores irregulares.

“Brasil precisa exportar”

O coordenador do PNCEBT, José Ricardo Lobo, comenta que o Brasil é autossustentável na área do leite e que existe a necessidade iminen­te de exportar. No entanto, lembra ele, o país está atrasado na ques­tão sanitária, não atendendo exi­gências internacionais e perdendo assim para países menores, como Colômbia e Argentina. “Ambos têm cerca de quatro mil proprie­dades certificadas. A Colômbia, inclusive, exporta queijo para os Estados Unidos”, afirma.

Lobo informa que o plano da Comarca de Arroio do Meio foi requisitado por diversos estados brasileiros, e dez municípios de outras regiões do Rio Grande do Sul iniciam em breve o controle. “Este problema atinge quase 25% do rebanho nacional”, alerta. Se­gundo o coordenador, além do certificado, a zona livre torna des­necessária a aplicação de vacinas preventivas para as zoonoses, gerando economia ao produtor. “São doenças causadoras de im­pacto econômico e que podem ser transmitidas aos seres humanos. A certificação traz benefícios dire­tos aos pecuaristas, às indústrias de lácteos e aos consumidores”, finaliza.

Pioneirismo registrado

Para o secretário de Agricultura do estado, Gilmar Tietböhl, a região da Comarca ficará na história pelo pioneirismo. Ele cita a integração entre governos municipal, estadual e federal como fundamental para a manutenção do plano. Segundo Tietböhl, o processo de erradicação deve ser permanente, exigindo fis­calização constante.

Ele acredita que nem todas as propriedades conseguirão o certi­ficado e que estas devem sair do mercado para não prejudicar as demais. Para o secretário, os pró­prios produtores devem auxiliar na fiscalização de propriedades vizinhas.

“Sem dinheiro federal e estadual será difícil”

O prefeito de Anta Gorda e integrante da comitiva que foi à Galícia em março, Vanderlei Moresco (PMDB) destacou a im­portância da União e estado repassarem dinheiro para o programa ser efetivado em todo Vale. Para ele, está difícil cons­cientizar muitos produtores que não en­tendem a necessidade de ter as proprie­dades certificadas sanitariamente.

Moresco defende divisão de custos e uma política pública federal ou estadual que exija adequação de cada produtor. “Não adianta se iludir e pensar que será fácil. Cada um precisa fazer sua parte”, reforça.

O prefeito de Arroio do Meio, Sidinei Eckert (PMDB), alerta para a mesma situ­ação. Para amenizar a irritação de produ­tores usou dinheiro municipal para quitar um quarto da indenização de animais que cabia ao Ministério da Agricultura. “Os governos precisam ajudar, pois sozinhos os prefeitos têm dificuldades para conven­cer os produtores”, adianta.

Como funciona o plano

O programa lançado há 14 meses busca trans­formar a microrregião da Comarca de Arroio do Meio – Capitão, Arroio do Meio, Travesseiro, Co­queiro Baixo, Nova Bréscia e Pouso Novo, em zona livre de brucelose e tuberculose bovinas. A área é de 634,7 quilômetros quadrados, com 34,4 mil animais distribuídos em 2.723 propriedades.

Os bovinos são examinados três vezes e aque­les que estiverem contaminados são sacrificados. O proprietário paga 25% do valor do animal, o restante da indenização é dividida pelo Fundesa, Mapa e administração municipal, sendo 25% para cada um.

Após os três exames, a propriedade recebe o cer­tificado de zona livre de zoonoses, válido por 12 meses. Após o período, nova análise será feita para renovação. Os animais também serão identifica­dos com série numérica do Sisbov, e indústrias que comprarem produtos de propriedades certificadas deverão receber selo de qualidade do Mapa.


Opinião dos produtores

Dono de um rebanho com 32 va­cas, Armando Clemente Satler, de Capitão demonstra satisfação com o certificado. Ele produz, diariamen­te, de 400 a 500 litros de leite. “Estou tranquilo em vender meu produto, pois não houve casos de doenças no rebanho”, diz. Satler está preocupa­do com a doença pelo fato de ela ser contagiosa.

Paulo Weber, produtor de Nova Bréscia, cobra mais recursos por parte dos governos estadual e fede­ral. Para ele, o projeto é importante para produtores e consumidores, mas acredita que muitos podem ter prejuízos. “Acho que não precisavam cobrar as análises, e o valor da in­denização deveria ser maior”, recla­ma. Hoje, o valor da indenização por animal abatido é de R$ 1,5 mil.

União de esforços

Foi o promotor da Comarca, Paulo Araújo, quem autorizou o início das inspeções obriga­tórias nas propriedades. Para ele, a compreensão dos pro­dutores, e integração de esta­do, união e município, com as entidades como a Univates, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), e principalmente o Fundo Estadual de Sanidade Animal (Fundesa), deve servir de exemplo para todo o país. “Isto nunca foi feito na histó­ria”, afirma.

Durante a entrega dos cer­tificados estavam presentes o superintendente Estadual do Mapa, Francisco Signor; o chefe estadual do Serviço de Defesa e Sanidade Animal do Mapa, Bernardo Todeschini; e o coordenador estadual do PNCEBT, Jorge Meana.

Produtor consciente

Em agosto de 2008, antes de ser lançado o projeto piloto na Comarca de Arroio do Meio, o agricultor André Gerhardt, de Forqueta Baixa, procu­rou ajuda das autoridades para com­bater, por meio de análises, a brucelo­se e tuberculose que atormentavam boa parte de suas vacas. Este pedido, mais tarde, daria início ao plano.

Feitas as análises, 17 animais fo­ram condenados, totalizando um prejuízo de R$ 50 mil. Insatisfeito com a perda de metade do rebanho, André reconheceu a importância de abater os animais e produzir leite melhor sem correr riscos de compro­meter a saúde dos bichos nem das pessoas. “Sei que é difícil abater as vacas quando condenadas, mas pre­cisamos estar conscientes de que o mais importante é a nossa saúde”, entende.

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