O bom momento vivido pelo mercado da construção civil, promovido principalmente pelos programas habitacionais do governo e financiamentos privados, tem aumentado a procura por materiais de construção em todo o país.
O excesso de demanda afeta a produção dos materiais de base da construção, gera filas em busca de produtos de base nas lojas do ramo e afeta os prazos de entrega dos imóveis.
Conforme representantes do setor, a previsão é de que o cenário se mantenha por mais dois ou três anos. Isto demanda mudanças na logística de produção e na entrega para quem trabalha com os produtos de base da construção, eletrodomésticos e mobiliário.
Para Juarez Zagonel, gerente de uma loja de materiais de construção em Lajeado, a diversificação das linhas de produtos contribui para a demora da entrega.
“Cada fábrica tem sua logística de produção e a maioria é afetada pela grande procura por um tipo de produto, neste caso os materiais de base. Assim, é necessário interromper algumas linhas específicas para dar vazão a essa demanda”, afirma.
O cimento é um dos principais caos no panorama atual. Escasso nos estoques de diversos estabelecimentos comerciais do Vale, muitas vezes há filas para comprá-lo.
Hoje, um saco custa R$ 17,50, um aumento de 4% em relação ao ano passado, quando o mesmo produto valia R$ 16,80. “Não houve um encarecimento, o problema está na entrega das encomendas”, conta.
Ele diz que o fato é nocivo para as pequenas empresas do setor e construtores autônomos. Estes profissionais precisam pagar pela ociosidade de empregados à espera dos materiais, como o cimento e os azulejos e estão sujeitos a multas referentes ao prazo de entrega dos imóveis.
Se antes o tempo médio de espera para os materiais era de três a cinco dias, hoje alcança dez, podendo chegar 20 em alguns casos, principalmente nas linhas específicas.
Diferente da maioria dos materiais de base da construção, os tijolos não sofrem este atraso, pois o verão facilita a secagem, garantindo o aumento da produção.
A dica do profissional é investir na estocagem de materiais e na logística das obras. “O cimento pode permanecer até 20 dias em boas condições de depósito. Com mutirões de trabalho é possível aproveitar melhor as equipes em diversos locais”, aconselha.
De acordo com o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o custo da construção no país registrou, de janeiro a outubro deste ano, alta de 6,56%. Nos últimos 12 meses, a elevação foi de 6,97%.
Comerciantes registram prejuízos
Em Santa Clara do Sul, a empresa de materiais de construção dos irmãos Willers não consegue atender aos novos clientes. Eles reclamam das dificuldades em suprir a demanda pelos produtos, como cimento, prontilaje e canos. “Todo dia deixamos de vender e não é por causa do preço, mas por falta de produto. Nosso estoque está zerado e não conseguimos fazer a reposição”, queixa-se Arlindo.
Lauro diz que antes fazia o pedido, e a entrega era feita em três dias. Hoje, o cimento chega dez dias após a solicitação para a fábrica.
Lauro lembra que chegaram a paralisar a venda por 14 dias. “O dinheiro ficou depositado por dois meses e não recebemos o produto. A empresa devolveu o valor, alegando falta do material e tivemos prejuízos”, lamenta. Hoje, para colocar o caixa em dia e atender a todos os pedidos eles trabalham de 12 a 14 horas por dia, inclusive nos fins de semana.
Faltam materiais e mão de obra
Luís Carlos Müller, gerente de RH e suprimentos de uma construtora lajeadense, afirma que mesmo empresas de maior porte encontram dificuldades com a escassez de produtos, principalmente cimento, louças e azulejos.
Se antes esses produtos demoravam de dez a 15 dias, em média, hoje a espera pode chegar a 50 na pior hipótese. “O preço do cimento, que está racionado, varia semanalmente de acordo com a procura pelo produto. Assim, fica difícil planejar gastos”, reclama.
De acordo com Müller, o aquecimento do mercado não traz apenas benefícios para quem trabalha na área. Segundo ele, o setor não estava preparado para um aumento de demanda tão acentuado que somado com a escassez de mão de obra tem exigido jogo de cintura para o cumprimento dos prazos.
Com a falta dos materiais há a possibilidade de deslocar equipes para outros canteiros de obras. Mesmo assim, a quebra do ritmo de trabalho atrapalha. A solução encontrada por muitos destes empreendimentos é investir em estocagem e na logística de funcionários e máquinas.
Para Müller, os consumidores estão a cada dia mais informado sobre tipos de produtos e peculiaridades das construções. Sendo assim, cada um quer um imóvel único, gerando mais problemas com prazos para linhas de produtos exclusivas “que são atrasadas devido à fabricação dos produtos de base”, conta.