As chuvas desta semana aliviaram, momentaneamente, a falta de umidade do solo. Porém, forma abaixo da média, influenciadas pelo fenômeno meteorológico La Niña, cuja característica é pouca chuva e dias quentes.
É cedo para prever perdas, mas se sabe que as condições meteorológicas podem comprometer a safra, caso o volume de chuvas não se mantenha estável nas próximas semanas.
A situação transtorna os produtores, desde outubro, quando o índice não passou de 60 milímetros. O engenheiro agrônomo Nilo Cortez diz que as chuvas amenizaram a situação das lavouras, mas não muda a previsão de seca nos próximos dias.
Ele diz que as plantações foram prejudicadas pela baixa umidade do solo e isto afetou o desenvolvimento, principalmente, das pastagens e lavouras de milho e soja.
Cortez calcula que o rendimento das lavouras destinadas para silagem fique 40% abaixo do esperado. “A plantação precisa de mais água porque as espigas começam a se formar”, diz.
De acordo com Juliana Tomasini, do Centro de Informações Hidrometeorológicas da Univates de Lajeado, o volume de chuvas não passou de 26 milímetros na última quarta-feira até as 17h. “Em novembro, choveu 88 milímetros, quando o necessário era 150. A tendência é de que os volumes continuem baixos”, diz.
A previsão é de novas pancadas de chuva na segunda-feira, e o volume não deve passar de 15 milímetros.
Previsão de estiagem até abril
Conforme a meteorologista Estael Sias, da Central de Meteorologia, a seca poderá se estender até abril. “Com o avanço do La Niña as chuvas serão de baixo volume e mal distribuídas”, diz.
Estael diz que este ano os efeitos da estiagem serão percebidos mais cedo. Este ano, a chuva parou em outubro, quando o normal é em dezembro.
O resfriamento do Pacífico deixa a atmosfera mais fria durante a primavera, facilitando a formação de granizo que pode trazer prejuízos para as lavouras, como foi registrado há poucos dias na região alta do Vale do Taquari.
Como estão as culturas de verã
– A colheita do trigo chega a 79% da área cultivada com destaque para excelente qualidade dos grãos.
– As lavouras de arroz têm 97% da área semeada. Falta de umidade prejudica a germinação.
– A semeadura de soja chega a 50%. A germinação está lenta e irregular, deixando falhas nas lavouras.
– A semeadura de milho chega a 78% da área cultivada, sendo que 58% está na época de floração e formação de espigas. A falta de umidade pode provocar perda de 40% no milho destinado para silagem.
– As lavouras de hortigranjeiros perderam com as fortes chuvas e a queda de granizo. Com isso os preços de alguns produtos serão reajustados.
– As pastagens de verão começaram a germinar após as chuvas e favorecem a estabilidade da produção de leite nos próximos meses, se a chuva continuar estável.
– A safra de fumo é antecipada para evitar que o excesso de sol possa queimar as folhas.
Preocupação continua
A chuva aliviou parte das lavouras, mas a previsão da calor nos próximos dias projeta estiagem.
Donato Mallmann, 52 anos, de São Bento, Cruzeiro do Sul, aproveitou a umidade do solo para aplicar insumos. Nesta safra, ele cultivou 5 hectares de milho que serão destinados à silagem e quatro de soja. “A chuva veio na hora certa. Espero que os volumes aumentem para evitar perdas”, comenta.
O produtor de leite, Rogério Franz, 52 anos, de Nova Santa Cruz, Santa Clara do Sul, diz que as sementes da pastagem de verão começaram a brotar e garantirão pasto ao rebanho de 45 vacas que produzem diariamente 900 litros de leite.
Franz está preocupado com a previsão de estiagem para janeiro e fevereiro. “Com isso a pastagem seca, e os custos de produção aumentam”, estima.
Saiba mais
Segundo o professor Marcelino Hoppe, do setor de meteorologia da Universidade de Santa Cruz do Sul, em novembro de 1917, choveu apenas dez milímetros.
O trimestre mais seco que se tem notícia foi o de novembro de 1942 a janeiro de 1943, quando choveu apenas 96,9 milímetros. No fim de 2009, o penúltimo mês teve recorde pluviométrico com 410 milímetros – cerca de 39,5% a mais do que a histórica enxurrada de 1941.