Falta estrutura e conhecimento técnico para acolher idosos

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Falta estrutura e conhecimento técnico para acolher idosos

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Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Dezenove idosos ficarão sem mora­dia, caso o Lar de Idosos São José de Conventos feche as portas. A vigilância sanitária da Coor­denadoria Regional de Saúde esteve no asilo, na semana pas­sada, e verificou que o ambien­te é inadequado para abrigá-los. A dirigente da casa particular, Claudete Strasburger, diz que não terá condições financeiras para adaptar o local que antes era um hospital.

O forro que deveria proteger os idosos é de madeira. Cupins, frestas e goteiras comprome­tem a estrutura. As camas são deslocadas ou improvisadas nos corredores. Na parede a fiação quase encosta na cabe­ceira dos leitos. No entanto, os idosos dizem estar satisfeitos com a moradia.

Conforme o coordenador regional de Saúde, Auran Terra, esse lar está se tornando um “depósito” de pessoas. A fisca­lização solicitou melhorias no ambiente e estipulou um prazo de seis meses para as adequações. “Temos que manter o asilo aber­to porque não há local para encaminhar os idosos, mas temos que exigir melhorias”, cita Terra. A sugestão para a administração do asilo foi de encaminhar os idosos para outra casa ou então para os familiares até que as reformas estejam concluídas.

Cuidadora de idosos há mais de 11 anos, Claudete, diz que a casa é alugada, e a men­salidade recebida dos clientes, de um salário e meio, é sufi­ciente apenas para os tratos dos idosos. “As vezes temos vontade de desistir de tudo. Sabemos que o local é humilde e precisa de melhorias, mas não temos dinheiro”, diz.

Os remédios dos hóspedes são adquiridos pelos familia­res ou fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Men­salmente, empresas auxiliam com produtos de limpeza e o Mesa Brasil com comida. Desde o início das atividades nunca foram feitas reformas. O proprietário do imóvel não tem condições de auxiliar, visto que o valor cobrado do aluguel é baixo.

A solução para o problema desse lar, conforme Terra, é de a diretora da casa criar um projeto de adequação do prédio e tentar sensibilizar os órgãos públicos para que os os auxiliem com recursos para a reforma.

Preparação técnica

Hoje, são cerca de 19 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, o que representa cerca de 10% da população do país. Segundo dados da Orga­nização Mundial de Saúde (OMS), até 2025, o Brasil será o sexto país com mais idosos no mundo e terá um mercado que requisitará profissionais especializados ao longo dos anos.

O que preocupa é a falta de preparação téc­nica para exercer essa profissão. Dados do Mi­nistério da Saúde revelam que há 3,8 milhões de idosos com algum grau de dependência no país. Eles necessitam de acom­panhamento técnico para ter sua qualidade de vida assegurada. A diretora da Escola Técnica de Saúde Pública de Porto Alegre, Sandra Regina Martini Vial, concorda que esse é um mercado promissor. “É uma das profissões que exige o dom. É preciso pa­ciência, calma, saber ouvir e ter sensibilidade. Na parte prática, é essencial entender o funcionamento físico e psicológico do ido­so, por isso, é importante a qualificação”, ressalta.

Sandra acrescenta que a capacitação prepara os cuidadores para adminis­tração de medicamentos, prevenção de acidentes domésticos, diagnósti­cos de dificuldades e a inserção social do idoso. Com carga horária de 160 horas, o curso é aberto a todos os interessados que sejam maiores de 18 anos e tenham Ensino Funda­mental completo.

Procura-se cuidadores

idososNa região, a profissão está em alta, porém faltam profissionais qualificados para preencher as vagas nas clínicas, nas casas de repouso e nos domicílios dos idosos. A administra­dora do Lar dos Idosos Tabita do bairro Conventos, em Lajeado, Julci Miranda dos Santos, enfrenta essa dificuldade. A entidade re­formou suas instalações por recomendação da vigilância e agora necessita de pessoas qualificadas para o trabalho. Das oito funcionárias que ajudam a cuidar dos 17 internados, nenhuma tem formação. “Fomos obriga­dos a contratar duas enfer­meiras para auxiliar. Cuidar de idosos exige paciência e preparo psicológico”, afirma.

Betânia Rejane Pires, 52 anos, cuida de idosos há 12 anos e nunca frequentou um curso. “Acredito que isso ajudaria a melhorar meu trabalho, porém o custo des­ses cursos é alto e não tenho condições de pagar”, diz.

Marili Simonetti Fröder, 42 anos, passa a maior parte do dia fazendo companhia aos idosos que estão in­ternados em hospitais da região. “Trabalho há seis anos. Apesar de não ter formação, acredito que consigo prestar uma boa assistência. Um curso de capacitação é importante, mas muitos fazem e não se adaptam”, destaca. A remuneração chega a R$ 25 por dia.

Em Lajeado, há pouca procura pelos cursos

A grade de cursos do Servi­ço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) conta com atividades voltadas à profis­sionalização de Cuidadores de Idosos. As aulas ocorrem em todo o país e abordam temas como a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, velhi­ce e as principais síndromes e doenças, nutrição, emergên­cias, prevenção e cuidados, morte e os direitos e deveres de quem trabalha na área. Com duração de 160 horas presenciais, o equivalente a quatro meses, o curso incenti­va a autonomia e independên­cia para garantir qualidade de vida aos idosos.

Porém, a pouca demanda na unidade de Lajeado, o oposto do que ocorre no curso de massoterapia, oferecido na área da saúde, impossibi­lita a formação de turmas. A pedagoga Etiene Azambuja, responsável pelos cursos da instituição, conta que há dois anos uma parceria com o governo federal possibilitou a formação gratuita de uma turma de 20 profissionais em Bom Retiro do Sul. “A enti­dade oferece as atividades de acordo com a demanda local. Por enquanto, não há uma previsão para a contratação de profissionais ou liberação de espaço para as atividades em Lajeado”, explica Etiene.

A profissão é reconhecida pela Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), do Mi­nistério Trabalho e Emprego, mas ainda é considerada como uma ocupação. A média sala­rial vai de R$ 520 a R$ 800, mas pode chegar a R$ 3 mil, quando o cuidador acompa­nha integralmente o idoso.

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