Há oito dias Brigada Militar (BM) e cinco assaltantes confrontam-se nos matagais dos vales do Taquari e Rio Pardo. Após a frustrada tentativa de assalto à agência do Banco do Brasil do município do Vale do Sol, criminosos refugiaram-se em Canudos do Vale e Progresso, onde segundo a polícia mantêm-se com o auxílio da população que vende comida e facilita o acesso à comunicação.
Conforme o chefe do setor de inteligência do Comando Regional de Polícia Ostensiva (CRPO-VT), major Vinicius Renner, as buscas só se encerram quando todos os bandidos forem presos. Renner cita que a população dificulta o trabalho e atrasa a prisão dos três que seguem foragidos. O major afirma que a brigada descobriu quem são os envolvidos e que dois deles ainda podem estar armados. Ele pede para que a população tenha cautela e evite vender produtos para os bandidos, uma vez que a polícia monitora os comércios. “Sabemos de diversos locais que venderam comida e até bateria de celular para os assaltantes”, conta.
A BM trabalha com mais de 200 homens nessa operação, divididos em duas equipes. Uma está em Progresso, onde estariam dois dos foragidos e a outra em Canudos do Vale, onde foram presos outros dois – o chefe da quadrilha Luciano Bischof Comper, 33 anos, que tem antecedentes criminais em roubo a banco e William Antonio de Jesus Costa, o “Wil”, de 25 anos, com antecedentes em narcotráfico.
Comper foi preso no domingo durante o dia, quando tentava telefonar em um orelhão na rodoviária no centro da cidade e Wil foi encontrado na mata na noite de segunda-feira. Ambos estavam sujos, com aparência cansada e os pés machucados. Os dois assaltantes confessaram informalmente a participação no crime para a BM.
Como foi a tentativa de assalto
Cinco homens armados com fuzis invadiram uma agência bancária às 4h30min e explodiram o cofre. Dois policiais militares foram acionados e entraram em confronto com os bandidos. Para facilitar a fuga, eles fizeram mais de 20 pessoas de reféns que serviram como escudo humano. Elas estavam dentro de um ônibus da Secretaria Municipal de Saúde do município.
Os bandidos fugiram em direção a Gramado Xavier com um Golf, que foi incendiado por Wil, e um Astra, abandonado porque estragou no caminho. Os cinco bandidos seguiram a pé em direção a Boqueirão do Leão, pediram resgate a outro integrante de Porto Alegre, Rodrigo Souza da Silva, que foi preso com um Punto amarelo. Na sexta-feira, os bandidos seguiram para Progresso, onde o CRPO-VT assumiu as investigações e trocou tiros com os bandidos. No sábado, a BM descobriu vestígios dos bandidos e que eles se dispersaram – dois ficaram em Progresso e três foram para Canudos do Vale.
Calcula-se que até a tarde de ontem os bandidos teriam percorrido mais de 126 quilômetros, destes 56 foram a pé.
Oito dias de correria
São 200 homens na ativa durante 12 horas diárias. Embrenhados na mata durante os sete dias de buscas eles passaram por seis cidades. Os policiais fazem parte do Comando Regional de Polícia Ostensiva do Vale do Taquari e Rio Pardo, 1ª Companhia do Batalhão de Operações Especiais (BOE) e Batalhão de Aviação, que realizam buscas com um helicóptero.
O policial militar de Sério, Ricardo Schuh, que participou da operação, ressalta as dificuldades de encontrar os foragidos. “A área de procura é ampla e com bastante mato, isso torna o nosso trabalho complicado”, cita. Eles contam que cercam a área e agem de acordo com as informações dos moradores. Ambos participam de barreiras montadas em pontos estratégicos da região e vistoriam os veículos que transitam pelo local. “Avaliamos as condições do veículo e o estado emocional do motorista, se algo parecer incomum, revistamos. Pode haver alguém escondido no compartimento de carga ou até mesmo embaixo do automóvel.”
Ligação com o Seco
O integrante preso no domingo, Comper, em depoimento à BM citou que no total a quadrilha tem nove integrantes e todos se conheceram em uma penitenciária em Porto Alegre. A suspeita do setor de investigações da BM é que dois desses membros estariam ligados aos assaltos a carros-fortes comandados por José Carlos dos Santos, o “Seco”. A hipótese é que Seco, preso na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), estaria comandando os assaltos de dentro da cadeia.
Conforme o tenente-coronel Antônio Scussel, o comando-geral do BM trabalha com possibilidades e está investigando o caso.
Moradores estão assustados
A agricultora aposentada, Ilse Pilger, 60 anos, que reside na localidade de Baixo-Canudos, está com medo de sair de casa. “No fim da tarde de domingo vimos um estranho caminhando pela região e logo ligamos para a brigada”, diz. Seu receio é que os bandidos venham até sua casa em busca de comida. “Não tenho telefone em casa, se tiver que pedir socorro tenho que ir até o vizinho”, diz.
A agricultora Romilda Schweiger, 59 anos, mora no Morro Gaúcho. “Por volta de 6h, eu e meu vizinho vimos um desconhecido entrando no mato pela estrada de roça. Ele era igual ao homem descrito no rádio e logo ligamos para a brigada.” Romilda diz que dormirá na vizinha com medo de que alguém tente arrombar a residência, enquanto dorme.
O casal de agricultores Elzira e Elimar Ledur tem mais de 70 anos. Moradores da localidade Nova Paris, estão receosos e deixam de fazer serviços da propriedade com medo de que algum dos foragidos invada sua casa. “Adiantamos todo o serviço com os animais e agora estamos dentro de casa com medo. Se os bandidos vierem não podemos fazer nada, o jeito é se prevenir e trancar tudo”, contam.