Funai cria empecilhos,  mas duplicação começa

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Funai cria empecilhos, mas duplicação começa

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Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Vale do Taquari –O início das obras de duplicação da BR-386 será autoriza­do pelo ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, amanhã. A obra é esperada há 29 anos e sua execução iniciará em um mês. No entanto, surge um novo impasse ambiental em uma parte do tre­cho – nas proximidades da área indígena, em Estrela. A Fundação Nacional do Índio (Funai) exige do Departamento Nacional de In­fraestrutura de Transportes (Dnit) benefícios para a tribo caingangue que vive nas margens da rodovia, como túnel, ciclovia para caminha­das e um quiosque para a venda dos artesanatos. indio

O superintendente estadual do Dnit, Vladimir Casa, confirma que essa situação continua pendente, mas garante que não será empe­cilho para o início das obras. “Há muita coisa para se fazer antes, e esse pedacinho não será mexido até isso ser resolvido”, adianta. Casa diz que o departamento gos­taria de ter uma solução, entretanto afirma que não é algo que lhes preocupe, já que é uma questão corriqueira em obras.

Conforme o presidente do Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat), Ney Lazzari, o obra tem prazo de tér­mino de três anos, facilitando as negociações entre Dnit e Funai. Ele afirma que o primeiro pedido dos índios foi por um pedágio na localidade. Após as tratativas, an­tropólogos, Fepam e Ibama foram até a aldeia, e os benefícios foram modificados e ampliados. Lazzari esclarece que algumas adaptações estão incluídas no orçamento e serão feitas simultaneamente com a duplicação. “O cante
iro central do perímetro duplicado terá seis metros de largura, mas no trecho da área indígena a rodovia será estreitada. O canteiro será uma mureta”, diz.

Para o prefeito de Fazenda Vi­lanova, José Cenci, que também é vice-presidente do Codevat, os índios apropriaram-se há dez anos daquela área. Após o estado a doou para eles. “Agora tem mais bran­cos do que índios morando lá”, cita. Cenci conta que terá que vir mais verba da União para construir tudo o que

eles estão pedindo. “O Dnit negocia para que algumas obras deles sejam feitas apenas após as da duplicação.”

O cacique, Jair Soares, 37 anos, acredita que as obras na aldeia ini­ciam com a duplicação. Ele afirma que a tribo com 22 famílias, rece­berá melhorias, entre elas 16 casas de alvenaria e uma nova escola. “Vamos ganhar como se fosse uma indenização, pois algumas casas serão retiradas para a obra”, diz. Soares conta que os responsáveis pela obra sugeriram aos índios uma passarela para atravessar a BR, mas eles consideraram muito perigoso por causa das crianças e pediram um túnel.

A obra dos 33 quilômetros (Tabaí/Estrela) de duplicação da BR-386 faz parte do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) e está orçada em R$ 147 milhões. Para este ano, estão previstos R$ 50 milhões no orçamento da União. No perímetro serão feitos cerca de dez túneis para travessias de animais. “Será a maior obra da região nestes três anos e terá planejamento futurista”, diz Ney Lazzari. Agora a meta da região é mobilizar-se para garantir o restante do valor nos dois próxi­mos orçamentos.

Para o construtor Nil­to Scapin, o início das obras marca a história de reivindicações do Vale, visto que é a principal rodovia de escoamento da produção da região.

Lula, apenas por teleconferência

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, deverá comunicar-se com a região apenas por teleconferência. O con­sórcio construtor da obra, formado pelas empresas Conpasul, Cotrel, Iccila e Momento Engenharia, receberá o documento de ordem de início das obras das mãos do ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, e do diretor de Infraestrutura Rodoviária do Dnit, Hideraldo Caron.

Conforme a organização do evento, junto à estrutura da cerimônia terá um telão em que via sistema digital, o ministro Passos falará com o presidente Lula, que estará em Porto Alegre, em outra inauguração de rodovia. Centenas de pessoas são esperadas para o evento.

Motoristas, fiquem atentos

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) monitora amanhã o fluxo de veículos na BR-386. Por volta de 11 horas inicia a cerimônia de entrega da ordem de início dos serviços para a duplicação da rodovia.

O evento será às margens da BR, no quilômetro 353,5 de Estrela. A pista não será interditada, mas os motoristas deverão ter cuidados na passagem pelo local.

Acompanhe atrajetória da BR-386

No início do século XIX, foi projetada uma ferrovia que deveria ligar Taquari, Estrela, Lajeado, Soledade e Passo Fundo. O primeiro projeto da rodovia foi elaborado em 1955. Em julho de 1957, a Federação das Empresas de Transportes Rodovi­ários do Rio Grande do Sul concluiu o Projeto do Terminal da Estrada da Produção, de Lajeado a Porto Alegre, via Rio Guaíba. O percurso de 184 quilômetros foi reduzido para 107, com economia de 42%.

Em 1961, as obras da estrada tiveram um prosse­guimento acelerado. Após um século de travessia lenta por balsas, barcas e canoas, terminou a cons­trução da ponte sobre o Rio Taquari, inaugurada na data farroupilha de 20 de setembro de 1962. Os primeiros sinais de construção malfeita apa­receram logo depois. Em 1966, enormes rachaduras obrigaram a interrupção do trânsito e reforma da ponte que foi interditada novamente em 26 de julho de 1994 e uma nova ponte foi inaugurada em 11 de março 1995, dentro do projeto maior da duplica­ção, especialmente entre Lajeado e Estrela. A nova ponte da segunda pista foi inaugurada em 2001, sendo a última obra da rodovia.

A BR-386 foi a primeira rodovia no Brasil a ser cons­truída nos moldes modernos da época, da compactação do leito de 30 em 30 cen­tímetros. A estrada foi pla­nejada pelo Departamento Autônomo de Estrada de Rodagem (Daer) e cons­truída com a largura total de 13 metros. Os trevos de Lajeado e de Estrela foram construídos em 1967. Os 34 quilômetros da Barra do Fão até São José do Herval foram inaugurados em 8 de novembro 1969.

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