Vale do Taquari -Um dos ramos que mais empregava pessoas na região, hoje enfrenta dificuldades de encontrar mão de obra para suprir as vagas. Fábricas de calçados procuram mais de 500 funcionários em pelo menos seis cidades do Vale. No entanto, há poucos interessados devido aos baixos salários e benefícios e à instabilidade do setor.
Exemplo é a Calçados Beira Rio S/A que adquiriu parte dos prédios da Calçados Andreza, em Santa Clara do Sul, e firmou compromisso de absorver os 300 empregados demitidos. No entanto, está com dificuldades de contratar 200 pessoas. A Calçados Bottero, que negocia a compra dos prédios da Calçados Majolo, no bairro São Caetano em Arroio do Meio, fará nos próximos dias um pré-recrutamento para selecionar cem pessoas e verificar se há mão de obra qualificada para a empresa instalar-se na cidade. A mesma empresa tem uma unidade em Travesseiro, onde foram abertas mais cem vagas, e para preenchê-las estão contratando funcionários de cidades como Forquetinha e Pouso Novo.
A secretária da Indústria e Comércio de Arroio do Meio, Jaqueline Kuhn conta que mais de 80 pessoas da cidade que trabalhavam na Calçados Majolo conseguiram emprego em fábricas de Muçum e Roca Sales. Ela entrou em contato com alguns para que voltassem a trabalhar na cidade. O presidente do Sindicato dos Calçadistas, Gerson Valdir Brackmann, desacredita no retorno dos empregados e diz que a nova fábrica enfrentará problemas para encontrar mão de obra na cidade.
Em Lajeado, foi registrada uma queda de 65% no número de trabalhadores do ramo calçadista, em relação aos últimos quatro anos. Estão instaladas na cidade 16 fábricas do setor, que empregam juntas cerca de 900 pessoas. Conforme o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias e Ateliers do Calçado e do Vestuário, Marcos Signori, a instabilidade do setor e a baix
a remuneração fazem com que os empregados migrem entre os setores. “A troca mais comum é para o ramo alimentício. Em que as exigências são semelhantes”, conta. Marcos relata que as fábricas de alimentos são mais estáveis e pagam mais. O piso inicial para o trabalhador da alimentação é de R$ 570, ou seja, R$ 40 a mais que o do calçado.
Em Teutônia, a sobra de vagas repete-se. As quatro empresas de calçados existentes na cidade sempre têm mais de dez vagas disponíveis, e conforme o gerente do Sistema Nacional de Emprego (Sine) local todas as pessoas que procuram emprego no segmento são admitidos imediatamente.
Fábricas favorecem arrecadação
Se para os trabalhadores as indústrias calçadistas deixaram de ser atrativas, prefeitos da região comemoram suas instalações nos municípios, pois visam o crescimento econômico.
Em Travesseiro, conforme a auxiliar administrativa do município, Carla Henz, a Bottero recebe um incentivo de R$ 10 mil mensais, durante 12 meses, para custear o aluguel do prédio da Calçados Majolo. Em contrapartida a empresa estima gerar 74% da arrecadação no setor industrial, o que em um ano equivalerá a R$ 10 milhões em valor adicionado.
Em Santa Clara do Sul, município e empresa anteciparam suas tratativas em um protocolo de intenções. A prefeitura não cobrará o Imposto sobre Transmissão de Bens e Imóveis (ITBI); reduzirá 50% sobre o incremento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), cedeu a terraplenagem, instalação telefônica, luz, água, licenças como ambientais e de construção, vagas para creche e participação de limpeza no prédio antes das novas instalações. Em contrapartida a empresa deverá gerar em oito anos R$ 115 milhões em valor adicionado para o município e ser responsável pela empregabilidade de 10% da população local. O prefeito Paulo Kohlrausch pretende tornar a cidade um grande parque industrial.
Dos calçados para a construção civil
Marcelo Legamanti, 25 anos, trabalhava na Calçados Majolo de Travesseiro e quando a empresa faliu ficou desempregado. A primeira oportunidade que surgiu o foi na construção civil. Hoje, ele teria como voltar a trabalhar com calçados, mas prefere a profissão de servente de pedreiro porque o salário é maior.
Os casos repetem-se para o pedreiro Eliseu Heck, 44 anos, e para o azulejista Maico Rodrigo Wickert, 29 anos, que trabalharam durante nove e sete anos, respectivamente, no ramo calçadista. Heck comenta que além de ser financeiramente mais vantajoso, o trabalho com construção civil, comparado com o calçadista, é melhor.