Ao perder a casa, mãe  interna marido e filhos

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Ao perder a casa, mãe interna marido e filhos

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crackAs histórias com o crack aumentam. Em Lajeado, se­guem os casos, como o da mulher de 41 anos que internou o marido usuá­rio de crack e os seis filhos, que não são dependentes químicos, para impedir que a droga fizesse mais vítimas na família. Em vista disso ocor­re, em Porto Alegre, até esta sexta-feira o 1º Congresso In­ternacional de Crack e outras Drogas que discute medidas para amenizar o sofrimento vivido pelas famílias. Com mais de 1,2 mil ins­critos para acompanhar os painéis, conferências e ofi­cinas no Salão de Atos da Ufrgs, o debate social trouxe palestrantes da Colômbia, México e Argentina, que apresentaram suas vivências e suas formas de atuações contras as drogas nesses paí­ses. A abertura do evento foi conduzida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Em sua ma­nifestação, ele alertou para a necessidade de ações conjun­tas entre o poder constituído e a sociedade organizada.

Na tarde de quinta-feira, um dos coordenadores das 16 oficinas simultâneas ministra­das nas áreas de prevenção, tratamento e redução de oferta foi o presidente do Fórum da Drogadição de Lajeado, o promotor Sérgio Diefen­bach. Na oportunidade, ele apresentou a iniciativa em andamento no município do Plano Municipal de Enfrenta­mento à Drogadição, na qual representantes de diversos segmentos ligados diretamen­te ao atendimento de usuários de drogas participam.

“Minha família foi internada devido ao crack”

O pai usa a droga há mais de 20 anos, e a mãe e os seis filhos querem manter-se longe dela. Uma mulher de 41 anos, de Lajeado, internou, com o auxílio da igreja, toda a família em uma clínica de tratamento em São Paulo. Eles permaneceram no local por dois anos e quando o marido foi liberado, porque es­tava um período sem usar a droga, voltaram a morar em Lajeado. Em poucos meses o homem recaiu e em apenas um gesto destruiu tudo o que a família havia cons­truído – sob o efeito da droga ele ateou fogo na própria casa. Por dois meses, a mulher e os filhos moraram na casa de passagem em Cruzeiro do Sul. O homem ficou preso por cinco meses porque não acatou a decisão judicial de reconstruir o imóvel para a família morar. Na prisão, o vício agravou-se. De volta à casa, recebeu novamente o apoio e o acolhi­mento da família, mas como continuou a usar a droga, foi expulso pela mulher e passou a mendigar.

Há duas semanas, a mulher deu ao seu marido mais uma oportunidade de abandonar o vício e conviver com a família. “Tomei essa decisão porque meu filho de 15 anos estava re­voltado com o pai e tive medo que acontecesse uma tragédia”, revela. Ela conta que os filhos são conscientes e não querem seguir o mesmo caminho do pai, por isso não o deixam usar drogas em casa e brigam com ele. “Nunca coloquei meus filhos contra ele. Eu quero ter minha família uni­da”, emociona-se.

Durante o dia, a mulher trabalha com o público na rua e à noite faz fa­xina na residência de uma família que a ajudou a comprar uma casa popular construída pelo município em um bairro carente da cidade. É com o dinheiro que recebe nos dois trabalhos que ela sustenta a família. No entanto, ela não recrimina o marido quanto a isso, porque na sua visão ele é trabalhador, mas gasta tudo no crack. “Ele não rouba de ninguém. Ele usa o salário que ganha e vende as ferramentas para comprar a droga”, frisa. Conforme a mulher, a família passa por muitas necessidades financeiras e em algumas situ­ações ela e os filhos ficam dias sem alimentar-se. “Quando ele consegue ficar sem usar drogas, a família se reergue e compra coisas, mas quando se afunda no vício, vamos juntos”, constata.

Sem receber auxílios a mu­lher está desacreditada nas leis e nas autoridades e diz que a internação torna os drogados ainda mais vítimas da situação. “Minha vida é toda negativa por causa das drogas. Tenho apenas sofrimento para con­tar”, declara.

Toda a família frequenta uma igreja evangélica do bairro e no momento é essa alterna­tiva que a mulher utiliza para tentar manter o marido longe das drogas. As demais, como mudanças de endereço para mantê-lo longe de amizades e internações não funcionaram.

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