O encontro que comemorou o Dia do Trabalhador Rural, na comunidade de Amoras, interior de Tabaí, confirmou uma realidade preocupante, o envelhecimento rural. Com a idade avançada para seguir no campo e sem sucessores, pequenos produtores vendem terras ou param de produzir. Situação põe em risco o modelo de agricultura familiar característico da maioria dos municípios da região.Segundo pesquisa da Univates, em 2006, 18% da população morava no campo, sendo que dessas quase a metade não tinha sucessores. Eram 35 mil propriedades rurais, sendo que dez mil estão paralisadas, ou seja, não são autossuficientes para produção alimentícia muito menos para auxiliar no desenvolvimento do setor.
Um dos grandes desafios é manter o jovem na agricultura. Mesmo que em determinadas regiões do Vale existam trabalhos de incentivo à permanência no setor primário, a maioria dos filhos de produtores rurais ruma para os centros urbanos. E para mudar essa realidade, um dos objetivos será profissionalizar a produção rural e criar programas específicos e atrativos que possam garantir e manter a nova geração no meio rural.Diversas iniciativas estão em andamento no estado para reter os talentos qualificados no campo e ajudar a gerar mais renda na agricultura. Há cerca de um ano e meio, a Emater oferece qualificação e incentiva 60 mil jovens a permanecerem e produzirem no campo com o auxílio do Programa Rio Grande Jovem. A meta é estender o atendimento para 30 mil famílias por ano. A quantidade representa 20% da estimativa de 300 mil com idades entre 15 e 24 anos que estão no campo.
“Pequenas propriedades deverão sumir”
O modelo característico de produção, em que 95% das propriedades rurais são de agricultura familiar e 70% têm menos de 20 hectares, parece estar com os dias contados. Com o envelhecimento dos agricultores que têm em média 50 anos e a falta de sucessores fazem com que a maioria dos produtores arrende as terras. A tendência é de que, nas próximas décadas, haja concentração da produção de alimentos nas mãos de grandes produtores.
Adilson Metz, coordenador regional do movimento sindical do Vale do Taquari, estima que nos próximos anos deverá reduzir muito o número de agricultores. Um dos motivos para a redução da mão de obra ativa, principalmente, dos jovens é o êxodo rural. “A saída é profissionalizar, diversificar e organizar a propriedade. Isso garantirá rentabilidade e motivação para permanecer na zona rural”, aponta.
O sindicalista revela que até os sindicatos enfrentam dificuldades em se manter. Dados comprovam que nos últimos anos o quadro social diminuiu 6% ao ano. “Hoje temos 350 sindicatos. Em dez anos muitos deles se tornarão inviáveis pela falta de associados. Por isso, precisamos mudar nosso perfil e tentar formar novas lideranças para acompanhar as mudanças que chegarão”, comenta.
Produtor pós-graduado
Sucessão empresarial não é mais uma preocupação exclusiva do mundo coorporativo. A inquietação dos produtores rurais é apontada como uma das alternativas para estagnar o processo histórico de êxodo rural. Segundo o engenheiro agrônomo Nilo Cortez, os jovens que pretendem continuar na lavoura buscam se qualificar por meio de cursos e especializações. “O segredo para se manter na lavoura é fazer o trabalho com dedicação e profissionalismo. O novo produtor precisa diversificar e estar atento às novas tecnologias de produção”, afirma.
Cortez aponta que o campo perdeu capacidade de produção devido à saída do jovem. “A qualificação aliada às novas tecnologias e diversificação poderão ser uma nova oportunidade para quem continuar no campo. Com isso poderemos até suprir o problema da falta de matéria-prima que hoje atinge as agroindústrias”, observa.
Foto Giovane Weber