“É preciso romper o silêncio”

ABRE ASPAS

“É preciso romper o silêncio”

Bibiana Fensterseifer é Educadora Parental com ênfase em Disciplina Positiva. Ao longo de maio – mês de combate ao abuso sexual de crianças e adolescentes – criou o projeto “Em Maio, falamos de respeito”, proposta que oferece conhecimento, informação, oportunidades de diálogo e ferramentas práticas

“É preciso romper o silêncio”
Foto: divulgação

Por que é urgente falarmos sobre abuso sexual infantil no Brasil?

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2023 foi registrado um estupro a cada 6 minutos no país. Em 2024, foram 65.174 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes — mas estima-se que apenas 10% dos casos são notificados. Ou seja, podemos estar diante de mais de 650 mil ocorrências por ano. São números alarmantes. Mas a realidade é ainda pior.

Onde esses abusos ocorrem com mais frequência?

Dentro de casa. Cerca de 71% dos casos acontecem no próprio lar da criança ou adolescente, segundo pesquisa da psicóloga Leiliane Rocha. E 86% dos abusadores fazem parte da família ou do círculo de confiança — pai, padrasto, avô, tio, primo, irmão ou amigos próximos. Isso revela o quanto nossas crianças estão desprotegidas dentro dos próprios lares e desamparadas pelas comunidades onde vivem. Por isso, é preciso refletir: há ou não urgência em mudar esse cenário? É preciso romper o silêncio, combater a cultura da violência e construir uma nova forma de educar, proteger e amar nossas crianças.

Quais são os principais mitos que você enfrenta ao abordar o tema da Educação Sexual com famílias?

Quando falamos sobre como proteger a criança do abuso sexual, a resposta mais poderosa é: Educação Sexual. Mas então surgem as dúvidas: “Falar sobre sexualidade não vai incentivar o início precoce da vida sexual?”. “Existe sexualidade na infância?”. Essas são apenas algumas das muitas perguntas que surgem, reflexo direto da falta de informação e do tabu que ainda envolve o tema. Sexualidade é um aspecto central da vida do ser humano. Ela não se resume ao ato sexual.

A partir de que idade devemos conversar com as crianças sobre isso?

Ao conversar com uma criança, é essencial abordar não só os aspectos físicos, mas também os emocionais – como, por exemplo, ao explicar como ela nasceu. A resposta deve ser adequada à idade e estágio de desenvolvimento da criança, mas o que sentimos ao viver aquele momento é tão importante quanto os fatos em si.

Por que falar sobre esse tema ainda é um tabu?

Porque nós, adultos, muitas vezes não estamos preparados para falar sobre isso. Não tivemos referências positivas ou saudáveis na nossa infância. Crescemos com silêncio, medo e vergonha ao redor desse tema. E, mesmo quando conseguimos falar, frequentemente entregamos a informação de forma incompleta, confusa ou equivocada. Nesse cenário de desinformação, o risco maior é a criança buscar a resposta sozinha, com colegas mais velhos, na internet ou adultos desconhecidos.

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