O novo modelo de concessão de rodovias proposto pelo governo do Estado, com cobrança automática (free flow), foi tema de reunião entre vereadores de Lajeado e representantes da Câmara da Indústria, Comércio e Serviços do Vale do Taquari (CIC-VT).
O encontro ocorreu na tarde de ontem, no Legislativo. Teve como objetivo esclarecer os avanços e desafios do sistema. Dos 15 vereadores, 13 participaram do debate. Por parte do grupo de trabalho, participaram o diretor de Infraestrutura da entidade, Leandro Eckert, e o economista e empresário Ardêmio Heineck.
Eckert defendeu o free flow como uma alternativa viável diante do abandono das rodovias estaduais. Segundo ele, dos mais de R$ 5 bilhões arrecadados com IPVA nos últimos dez anos, menos de 10% foram investidos na malha viária. “Não é justo pagar IPVA e ainda pedágio, mas se não fizer concessão, não teremos obras. E sem infraestrutura, empresas vão embora”, alertou.
O dirigente argumenta que, com rodovias duplicadas, o custo do pedágio compensará pela economia de tempo e combustível. “Hoje, para ir de Lajeado a Arroio do Meio são 30 minutos de engarrafamento. Com a duplicação, será R$ 2 para fazer em cinco minutos. Pergunta para um motorista se ele prefere perder tempo ou pagar R$ 2?”
Ardêmio Heineck lembrou que o grupo acompanha o tema desde 2021. “A primeira proposta era ruim. Foi suspensa porque houve mobilização política e da sociedade civil. Agora temos um modelo mais equilibrado.”
Para ele, o Estado precisa rever alguns pontos da proposta. Como o custo da tarifa (estimado em R$ 0,23 por km/rodado), aumento do aporte público (hoje em R$ 1,3 bilhão pelo Fundo da Reconstrução – Funrigs) e rever o Volume Diário Médio (VDM, que calcula o fluxo de veículos nas rodovias. “Queremos um valor máximo de R$ 0,14 por km rodado e que o Estado faça aporte de R$ 900 milhões, nem que seja mais tarde, lá pelo sétimo ano da concessão, mas que esteja previsto em contrato.”
O Bloco 2 envolve 415 quilômetros de rodovias, entre as quais trechos regionais nas ERSs-128, 129, 130 e 453. Ao longo de todo o trecho, serão 24 pórticos de cobrança de free flow. O investimento previsto é de R$ 6,7 bilhões em 30 anos.
O que é o free flow?
É um sistema de cobrança de pedágio automático, sem paradas em praças. A cobrança é feita por meio de pórticos equipados com câmeras e sensores, que registram a passagem dos veículos. O pagamento pode ser por carteira digital, com depósitos prévios, ou com cobrança posterior. Apesar de ser visto como uma solução moderna, o sistema ainda está em fase experimental no Brasil.
Reações dos vereadores
Após a apresentação dos líderes empresariais, dos 13 vereadores presentes, dez se manifestaram. A presidente, Ana da Apama (PP), conduziu a reunião e abriu mão de se pronunciar. Neco dos Santos (PL) concedeu o tempo dele para Ramatis de Oliveira (PL). Rosane Cardoso (PT) não participou e Jones Barbosa (MDB) chegou no fim da reunião.
- Éder Spohr (MDB)
“O pedágio é necessário. O custo do tempo perdido no trânsito é muito alto. Parar meia hora significa prejuízo. Se for R$ 1, R$ 2 entre Lajeado e Arroio do Meio para ganhar agilidade, compensa.” - Waldir Blau (MDB)
“Não sou contra esse modelo. Andar a 40 km/h não faz sentido. As obras na ERS-130 têm que começar no primeiro ano de concessão.” - Paula Thomas (PSDB)
“Essa é uma luta de mais de quatro anos. A EGR não é uma privatização pura, é uma empresa estatal. Precisamos esclarecer dúvidas e garantir uma tarifa justa, mas o investimento é necessário.” - Antônio Oliveira (Podemos)
“O projeto é importante, mas a população não tem garantias de que as obras vão acontecer. Precisamos colocar no papel e cobrar garantias.” - Marcos Schefer (MDB)
“Sou contra nesse formato. Já se arrecadou muito e vimos pouco retorno. A população desconfia, e com razão.” - Aquiles Mallmann (PP)
“Se queremos crescer como região, temos que pensar grande. E pensar grande, infelizmente, hoje passa pelo pedágio. Desde que seja justo para todos.” - Ramatis de Oliveira (PL)
“O dinheiro está lá. Não é falta de arrecadação, é escolha política. Quando aceitamos a concessão, damos um atestado de incompetência ao governo. Dizemos: ‘Tu não sabes gerir, então eu pago’. Isso é preocupante.” - Mano Pereira (PL)
“Há pressão popular contra esse modelo. Somos representantes do povo. Precisamos manifestar nosso descontentamento e reforçar esse debate.” - Lisandra Quinot (PP)
“O debate é muito importante. Precisamos de esclarecimentos sobre o funcionamento do modelo. Sabemos que as melhorias na nossa infraestrutura são urgentes.” - Lorival Silveira (PP)
“O modelo penaliza os trabalhadores. O frete vai repassar o custo do pedágio, o empresário também. No fim, quem paga é o povo, que não terá aumento de salário para isso. Sou contra”