Por trás de sintomas como cansaço, ganho ou perda de peso, ansiedade e até alterações no ritmo intestinal, pode estar um desequilíbrio hormonal, causado por uma glândula pequena, mas essencial, a tireoide.
Localizada na parte inferior do pescoço, ela é responsável por produzir hormônios que regulam todo o metabolismo do corpo. Responsáveis, por exemplo, por garantir que órgãos como o coração e o cérebro exerçam suas funções de forma adequada. E, quando há uma superprodução ou quando ela não atinge a quantidade necessária, surgem os problemas, que podem variar e incluir, inclusive, um câncer.
Os chamados distúrbios da tireoide afetam, em especial, as mulheres, com uma proporção que varia de 5 a 7 mulheres para cada homem. O câncer de tireoide também é mais frequente entre o público feminino. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), estima-se que cerca de 16,6 mil novos casos sejam diagnosticados por ano.

Médico cirurgião de cabeça e pescoço, Dr. Marco Seferin alerta para os sintomas que podem aparecer na região do pescoço (Foto: Bibiana Faleiro).
Em descompasso
Médico cirurgião de cabeça e pescoço, Dr. Marco Seferin explica que quando há alterações no funcionamento da tireoide, ela pode ocasionar o hipotireoidismo, quando a glândula produz menos hormônio do que o necessário, ou hipertireoidismo, quando há produção excessiva de hormônios, acelerando o metabolismo.
No primeiro caso, o metabolismo fica mais lento, gerando sintomas como cansaço, ganho de peso, intestino preso, queda de cabelo e pele seca. Já no hipertireoidismo, os sintomas incluem ansiedade, irritabilidade, tremores, perda de peso, insônia e aumento dos batimentos cardíacos.
O médico ainda cita nódulos que podem se formar na tireoide, sendo a maioria benignos. Mesmo assim, afirma haver uma preocupação crescente com o câncer de tireoide, cuja incidência tem aumentado nas últimas décadas.
Segundo Seferin, parte desse crescimento se deve aos avanços no diagnóstico, com maior acesso a exames de imagem que conseguem detectar nódulos muito pequenos, antes despercebidos.
“Mas também existe a possibilidade de que fatores ambientais estejam contribuindo para esse aumento, embora não haja uma relação completamente estabelecida na ciência”, pontua o médico. Entre os fatores suspeitos, estão a exposição à radiação, histórico familiar e, em alguns estudos, até pesticidas e poluição.
O tipo mais comum de câncer de tireoide é o carcinoma papilífero, que costuma ter bom prognóstico e altas taxas de cura. Já tipos mais raros, como o carcinoma anaplásico, são mais agressivos.
“Curamos entre 95% e 99% dos casos, mesmo considerando pacientes com metástases. É uma taxa muito alta”, destaca o cirurgião.
Sinais
Entre os tipos de distúrbios, Seferin cita a tireoidite de Hashimoto como a causa mais comum de hipotireoidismo. Trata-se de uma doença autoimune, na qual o próprio sistema imunológico ataca a tireoide, causando inflamação, destruição das células e, consequentemente, falha na produção dos hormônios. Além de afetar a função, essa inflamação também pode levar à formação de nódulos.
Em todos os casos de distúrbios, a predisposição genética é um fator importante. “Sempre que a gente investiga, descobre alguém na família que também teve problema na tireoide”, comenta o especialista.
O médico ainda afirma que o tratamento depende do tipo de alteração. As disfunções hormonais, por exemplo, são tratadas com medicamentos que repõem ou regulam os hormônios.
Já nódulos ou cânceres podem exigir cirurgia para remoção da tireoide. Para quem retira completamente a glândula, Seferin cita como principal mudança na vida, a necessidade de reposição hormonal diária. “Nos primeiros dois meses, há um período de ajuste até encontrar a dose certa, mas depois disso a vida segue normalmente. É como quem tem pressão alta e precisa tomar remédio todos os dias”, compara.
A tireoide é uma das glândulas mais estudadas no mundo e os avanços tecnológicos têm permitido tratamentos cada vez mais precisos e individualizados, oferecendo mais segurança e qualidade de vida aos pacientes.
“É uma engrenagem”
A médica endocrinologista Dra. Ramona Reckziegel, destaca que o equilíbrio da tireoide depende de uma comunicação precisa com o cérebro. Segundo a especialista, a hipófise, localizada na base do cérebro, produz o hormônio TSH, responsável por estimular a glândula.
“É uma verdadeira engrenagem. Dependendo da demanda do organismo, a produção hormonal pode aumentar ou diminuir”, ressalta a endocrinologista.
Crianças também podem ser afetadas por disfunções da tireoide, em especial, pelo hipotireoidismo, que pode comprometer o crescimento e o desenvolvimento se não diagnosticado a tempo. Por isso, a avaliação da função tireoidiana faz parte dos exames pediátricos de rotina, especialmente quando há sinais como atraso no crescimento ou ganho excessivo de peso.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico dos distúrbios da tireoide é feito principalmente por meio de exames de sangue, que avaliam os níveis de TSH e dos hormônios T3 e T4. Exames de imagem, como ultrassonografia, também podem ser necessários para avaliar a anatomia da glândula.
O tratamento é simples, mas exige acompanhamento médico contínuo, conforme afirma Ramona. No hipotireoidismo, repõe-se o hormônio que falta. No hipertireoidismo, há opções que vão desde medicações que controlam a produção hormonal até tratamentos definitivos, como cirurgia ou iodoterapia.
Durante a gestação, o funcionamento da tireoide merece ainda mais atenção. Isso porque, até por volta da 18ª a 22ª semana, o feto não possui uma tireoide completamente desenvolvida e depende dos hormônios da mãe. “Se a mulher já tem uma glândula que não funciona tão bem, esse é o momento em que essas alterações podem aparecer ou se agravar”, explica a médica.
Se identificado o hipotiroidismo durante a gravidez, é comum que a mulher precise de reposição hormonal temporária, já que a demanda metabólica é maior. “Após o parto, quando essa demanda diminui, muitas vezes não há mais necessidade da medicação”, explica. Já no caso do hipertireoidismo, pode ocorrer uma confusão hormonal natural causada pela semelhança estrutural entre o hormônio beta-HCG, típico da gestação, e o TSH, o que pode levar a alterações transitórias que, em geral, se resolvem de forma espontânea após o parto.
Boa alimentação
A especialista ainda destaca a importância de uma alimentação balanceada para manter a tireoide em bom funcionamento.
Segundo Ramona, a glândula depende de nutrientes como o iodo, presente no sal iodado, e o selênio, encontrado em alimentos como castanha-do-pará, frutos do mar e carnes. “Com uma alimentação equilibrada, conseguimos suprir essas necessidades”, explica. Suplementações específicas só são recomendadas em casos pontuais, sempre com orientação médica.
Os avanços no diagnóstico e tratamento são comemorados pelo médica. “Exames como a ecografia e as dosagens hormonais estão mais acessíveis e com custos menores, o que favorece o diagnóstico precoce e tratamentos mais eficazes”.
Apesar dos cuidados, não há como prevenir os problemas da tireoide. Por isso observar os sinais do próprio corpo se torna uma ferramenta essencial para evitar complicaçoẽs mais graves e garantir qualidade de vida.
Fique alerta aos sintomas
Hipotireoidismo
– Sentir-se constantemente cansado e com falta de energia;
– Ganho de peso sem explicação;
– Sensibilidade ao frio e dificuldade em manter a temperatura corporal;
– Mudanças no humor, depressão, irritabilidade e ansiedade;
– Pele seca e áspera, cabelos finos e quebradiços;
– Irregularidades menstruais em mulheres;
– Dificuldade para evacuar e prisão de ventre;
– Dores em músculos e articulações;
– Dificuldade em se lembrar de coisas e em focar.
Hipertireoidismo
– Perda de peso mesmo comendo em excesso;
– Aumento da frequência cardíaca e palpitações;
– Sentir-se agitado, nervoso e ansioso;
– Dificuldade em dormir e insônia;
– Sentir-se sempre quente e intolerância ao calor;
– Suor excessivo e aumento da transpiração;
– Dores e fraqueza nos músculos;
– Irregularidades menstruais em mulheres.
Nódulos na tireoide
– Sensação de caroços ou aperto no pescoço;
– Dor na região da frente do pescoço;
– Rouquidão, mudanças no timbre da voz ou dificuldade para
engolir e respirar.