Ligação estratégica para impulsionar economia e mobilidade

VALE NA EXPECTATIVA

Ligação estratégica para impulsionar economia e mobilidade

Região aguarda sinal verde do Estado para construção de nova ponte sobre o Rio Taquari. Estrutura projetada entre Estrela e Cruzeiro do Sul tem potencial para ser alternativa à BR-386 e minimizar risco de isolamento em casos de grandes enchentes

Ligação estratégica para impulsionar economia e mobilidade
Do lado de Estrela, o traçado iniciaria a partir da Transantarita, de fácil conexão com a 386. No lado de Cruzeiro do Sul, o acesso seria pela 130. (Foto: Felipe Neitzke)
Vale do Taquari

Líderes de entidades, empresários, gestores públicos e a comunidade. O Vale do Taquari vive a expectativa da confirmação do Estado em liberar recursos para a construção de uma nova ponte sobre o Rio Taquari, entre os municípios de Estrela e Cruzeiro do Sul. O projeto está em análise para financiamento via Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs). Resta o aval definitivo.

Avaliada em R$ 280 milhões, a nova estrutura integra um projeto robusto de mobilidade, interligando a BR-386 e a ERS-130. Para além de beneficiar os municípios envolvidos, a proposta também cria uma rota alternativa entre os vales do Taquari e Rio Pardo, com potencial para desafogar o trânsito da rodovia federal na ligação com a região metropolitana e a Serra.

A extensão total da ponte, conforme o projeto apresentado, é de 1.260 metros, entre acessos de ambos os lados, elevações e o trecho central de 300 metros. Do lado estrelense, o traçado iniciaria a partir da Transantarita, de fácil conexão com a 386. No lado cruzeirense, o acesso seria pela 130, próximo a uma antiga saibreira, e passaria nas proximidades da entrada da cidade.

Entre as lideranças ouvidas pela reportagem, o sentimento é de otimismo. Em reuniões recentes com autoridades gaúchas, como o vice-governador Gabriel Souza, houve a sinalização, por parte do Estado, em priorizar a obra para os próximos anos.

Avaliada em R$ 280 milhões, a nova estrutura integra um projeto robusto de mobilidade, interligando a BR-386 e a ERS-130

Projeto estratégico

Presidente do Codevat, Cintia Agostini acredita em uma decisão “nos próximos dias” e mantém o otimismo sobre o projeto, sobretudo por o governador ter considerado “pertinente e necessária” a obra da nova ponte. A proposta entregue ao Estado, segundo ela, é o “melhor tecnicamente” e, sendo bem visto pelo Estado, tem grandes chances de aprovação.

“Eles [o governador e o vice, Gabriel Souza] sempre viram com bons olhos. É um projeto pensado estrategicamente, pois nos atende bem, suporta nossas necessidades. Não apenas as de deslocamento, da mobilidade e logística, mas também nas questões de resiliência climática. E lembramos que não é só o Vale do Taquari. Falamos de cerca de metade do Estado que circula na nossa região e depende dessa passagem”, frisa.

A viabilidade também é defendida pelo diretor de logística da Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil) e empresário, Nilto Scapin. Responsável por apresentar o projeto a prefeitos e vereadores durante reunião da Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat), cita a obra como “fundamental e necessária” à logística e economia gaúcha.

“É importante não somente para os Vales. O Estado não pode ter apenas a alternativa Lajeado-Estrela. O projeto já foi estudado e se configura como muito viável econômica e tecnicamente. Precisamos elevar o patamar das rodovias gaúchas. Agora é esperar pela decisão do governador e do vice”, pontua.

Solução ao isolamento

Interdições da ponte da BR-386 e o risco de isolamento após enchentes reforçam a urgência de uma alternativa à ponte do Rio Taquari. As inundações expuseram a vulnerabilidade da infraestrutura viária do Vale. E, mesmo após obras de recuperação, a estrutura atual entre Lajeado e Estrela permanece com a mesma altura, suscetível a novas interrupções em caso de enchentes.

Para empresários do setor logístico, a construção de uma nova ponte representa muito mais do que uma solução emergencial. “A ponte atual continua sujeita a interdições. Se houver uma nova cheia, ela pode ser bloqueada novamente. Precisamos de uma alternativa robusta, que se mantenha operacional mesmo em situações críticas”, afirma Diego Tomasi.

O traçado elevado da nova ponte, lembra ele, evita áreas suscetíveis à inundação e, por isso, deve ser tratada como prioridade pelo governo estadual. “Essa continuidade elevada torna o projeto ainda mais interessante. Mesmo com cheias de grande porte, o trânsito seguiria garantido. O projeto é viável financeiramente e se encaixa nos recursos do Funrigs. A região precisa e merece essa estrutura”.

Já Andressa Scapini, integrante da diretoria do Setcergs, salienta a importância da nova ligação para as grandes indústrias sediadas na região, que exportam também para países vizinhos. “É imprescindível termos rotas alternativas de escoamento da produção. E não é só pelo transporte. Também fortalece o turismo, melhora a mobilidade urbana e amplia o atendimento em situações de emergência”, observa.

Uma segunda ponte, para Andressa, é uma resposta à altura dos desafios enfrentados com as catástrofes climáticas. “A enchente escancarou a necessidade de alternativas. Ficamos ilhados. E quando isso acontece, toda a logística e os serviços colapsam. Precisamos garantir que a região não fique refém de um único acesso”.

Expectativa nas cidades

Estrela e Cruzeiro do Sul estão entre as duas cidades mais impactadas pelas inundações históricas. E, ao passo em que a nova ponte representa um ganho logístico para ambas, também abre novas possibilidades para o desenvolvimento. Por isso, os gestores municipais demonstram grande expectativa com o projeto.

No caso de Estrela, o projeto se soma à proposta de duplicação da Transantarita, municipalizada ano passado. A prefeita Carine Schwingel acredita que a via deve se tornar a principal entrada do município, sobretudo por conta dos investimentos projetados, tanto do setor público quanto da iniciativa privada.

“É um projeto que atende as necessidades da região, não somente de Estrela. Foi constatado, junto ao governo do Estado, que a duplicação da via está interligada à construção da nova travessia que vai ligar o Vale do Taquari ao Vale do Rio Pardo, pois o acesso à nova ponte será feito pela Transantarita”, comenta.

Visão de futuro compartilhada por Dingola, prefeito de Cruzeiro do Sul. O traçado passa por dentro do município, tendo como ponto de partida a ERS-130, num dos locais em plena expansão após a enchente de maio. “A ponte representa agilidade no escoamento da produção, segurança para o tráfego e ainda abre novas possibilidades para o turismo entre os municípios. Estamos engajados nessa mobilização”, opinou, em reunião recente da Amvat.

Longo prazo

Professora do curso de engenharia civil da Univates e especialista em pontes, Rebeca Schmitz destaca a importância da futura travessia para a região. Segundo ela, por ser um investimento de grande porte, a comunidade precisa entender um provável longo prazo para execução.

“O que se busca é uma ponte resiliente. E é preciso aceitar que investimentos alternativos como esse levem mais tempo. Por mais que se tenha um senso de urgência, nem sempre é possível executá-los tão rápido”, observa.

Em relação à obra da ponte em si, ela destaca a importância de se trabalhar com um projeto robusto, e precisa ser executado por uma empresa capacitada técnica e economicamente e preparada para eventuais imprevistos.

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