“Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!” – Casemiro de Abreu
A infância como um período dedicado a aprendizagem e as brincadeiras e rememorado como o período mais feliz da vida, é uma invenção social recente. Até por volta do século XII não havia uma concepção de infância e muito menos algo específico voltado para ela. Na idade média a criança era vista como um adulto em miniatura: trabalhavam nos mesmos locais e até usavam as mesmas roupas.
Por não haver distinção entre adulto e criança, cabia a elas aprender as tarefas do dia a dia, trabalhando e ajudando os mais velhos nos serviços. Pouco tempo após o período de amamentação, a criança já passava a fazer companhia aos adultos para que aprendesse a servir e trabalhar.
Foi no decorrer do século XVII que são dados os primeiros passos para a separação do adulto e da criança através da escolarização. Um dos maiores contribuintes para tal mudança foi a igreja, que além de criar escolas, teve um papel fundamental ao associar a imagem das crianças com a de anjos.
De lá para cá as famílias foram diminuindo, os cuidados com as crianças aumentando e o período de cuidados dos pais chegou até a adolescência.
A infância se tornou um local especial, protegido, ampliado e considerado essencial para uma vida adulta saudável. Na opinião de Freud, a infância é crucial na formação da personalidade, sendo um período de intenso desenvolvimento psicossexual e emocional. Ele descreve a infância como um palco onde as primeiras experiências, especialmente as relações com os pais, moldam o sujeito ao longo de sua vida.
Por isso, já adultos, em momentos de crise existencial, existe uma tendência de “retornarmos” a infância. A regressão, enquanto mecanismo de defesa na psicologia, é esse retorno a um estado de desenvolvimento anterior, frequentemente infantil, para lidar com situações de estresse ou conflito interno. A regressão pode manifestar-se em diversas formas, desde chorar copiosamente, exibir comportamentos emburrados, comer excessivamente ou recorrer a ofensas.
Tudo isso para dizer que o tal bebê reborn pode ser usado como um mecanismo de defesa contra a realidade, como uma forma de negar a falta de um filho ou a perda de um bebê, ou como uma forma de projetar desejos e fantasias relacionadas à maternidade. Uma mulher adulta ao exagerar e não distinguir entre a realidade e a imaginação, está no fundo voltando a infância e implorando por cuidado e carinho. Mais do que julgamento, elas precisam é de terapia.