Infância sem fim

Opinião

Marcos Frank

Marcos Frank

Médico neurocirurgião

Colunista

Infância sem fim

“Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!” – Casemiro de Abreu

A infância como um período dedicado a aprendizagem e as brincadeiras e rememorado como o período mais feliz da vida, é uma invenção social recente. Até por volta do século XII não havia uma concepção de infância e muito menos algo específico voltado para ela. Na idade média a criança era vista como um adulto em miniatura: trabalhavam nos mesmos locais e até usavam as mesmas roupas.

Por não haver distinção entre adulto e criança, cabia a elas aprender as tarefas do dia a dia, trabalhando e ajudando os mais velhos nos serviços. Pouco tempo após o período de amamentação, a criança já passava a fazer companhia aos adultos para que aprendesse a servir e trabalhar.

Foi no decorrer do século XVII que são dados os primeiros passos para a separação do adulto e da criança através da escolarização. Um dos maiores contribuintes para tal mudança foi a igreja, que além de criar escolas, teve um papel fundamental ao associar a imagem das crianças com a de anjos.

De lá para cá as famílias foram diminuindo, os cuidados com as crianças aumentando e o período de cuidados dos pais chegou até a adolescência.

A infância se tornou um local especial, protegido, ampliado e considerado essencial para uma vida adulta saudável. Na opinião de Freud, a infância é crucial na formação da personalidade, sendo um período de intenso desenvolvimento psicossexual e emocional. Ele descreve a infância como um palco onde as primeiras experiências, especialmente as relações com os pais, moldam o sujeito ao longo de sua vida.

Por isso, já adultos, em momentos de crise existencial, existe uma tendência de “retornarmos” a infância. A regressão, enquanto mecanismo de defesa na psicologia, é esse retorno a um estado de desenvolvimento anterior, frequentemente infantil, para lidar com situações de estresse ou conflito interno. A regressão pode manifestar-se em diversas formas, desde chorar copiosamente, exibir comportamentos emburrados, comer excessivamente ou recorrer a ofensas.

Tudo isso para dizer que o tal bebê reborn pode ser usado como um mecanismo de defesa contra a realidade, como uma forma de negar a falta de um filho ou a perda de um bebê, ou como uma forma de projetar desejos e fantasias relacionadas à maternidade. Uma mulher adulta ao exagerar e não distinguir entre a realidade e a imaginação, está no fundo voltando a infância e implorando por cuidado e carinho. Mais do que julgamento, elas precisam é de terapia.

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