A merenda escolar é, para muitas crianças, a principal fonte de alimentação do dia. E o que vai no prato delas importa não só pelo valor nutricional. Afinal, incluir alimentos orgânicos na rotina das escolas é mais do que oferecer opções saudáveis. É ensinar, desde cedo, de onde vêm os alimentos, quem os produz e como cada escolha impacta a saúde, o meio ambiente e a comunidade.
Orgânicos são alimentos produzidos sem agrotóxicos, transgênicos ou fertilizantes químicos. Eles respeitam o solo, a água, a biodiversidade e a saúde de quem consome, como explica a nutricionista e extensionista da Emater/RS – Ascar, Tatiane Turatti. “Para o alimento ser considerado realmente orgânico, ao menos 95% dos ingredientes devem ser certificados, sem aditivos artificiais. A certificação orgânica é feita por órgãos credenciados, e a fiscalização cabe ao Ministério da Agricultura”.
Para Tati, a escolha por alimentos orgânicos, especialmente no ambiente escolar, é significativa. Um dos maiores benefícios dos orgânicos para as crianças é a menor exposição a agrotóxicos. “Se sabe que, mesmo em pequenas doses repetidas, essas substâncias podem afetar o sistema nervoso, hormonal e imunológico das crianças”, destaca.
Também sabe-se que os alimentos orgânicos têm, comprovadamente, mais nutrientes e antioxidantes – substâncias que protegem as células. Outra vantagem é a de que, ao consumir alimentos frescos e de origem conhecida, as crianças desenvolvem uma relação mais positiva e consciente com a comida.
Já do ponto de vista social e econômico, Tati reforça que a compra de orgânicos da agricultura familiar fortalece a economia local e valoriza práticas agrícolas sustentáveis. Ao adotar produtos orgânicos, o município também dá exemplo de compromisso com a saúde pública e a preservação ambiental.
Produção escolar
No Vale do Taquari, algumas escolas já dão passos importantes para garantir uma alimentação mais saudável e consciente aos seus estudantes. Com o incentivo do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), agricultores familiares que produzem alimentos orgânicos ou estão em transição agroecológica podem fornecer seus produtos diretamente às escolas e ainda receber até 30% a mais sobre o valor de referência — conforme previsto na Resolução nº 6/2020 do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). A medida, segundo Tatti, busca estimular práticas sustentáveis no campo e levar alimentos de maior qualidade às mesas dos alunos.
Foi por meio do PNAE que o Organic Garden, propriedade rural localizada em Forqueta, no interior de Arroio do Meio, transformou sua produção em um elo direto com a alimentação escolar. Há cerca de cinco anos, a produtora Edna Weizenmann e o marido fomentaram o cultivo de orgânicos da família, prática que já fazia parte da rotina e foi herança da mãe de Edna, uma das pioneiras na plantação de orgânicos na região, junto de outras mulheres.
A produtora conta que, durante a pandemia, o consumo por alimentos naturais e livres de agrotóxicos aumentou, e a propriedade intensificou seu trabalho com entregas em domicílio para Lajeado, Estrela e Arroio do Meio. “No início, achava que não ia dar certo, porque pensava que todo mundo plantava. Mas percebi que não era bem assim”, conta Edna, que viveu por 20 anos em Porto Alegre e considera ter voltado para o campo um recomeço gratificante.
A diversidade de cultivos de hortifruti é um dos pontos fortes do local. Além de hortaliças variadas conforme a época do ano, o destaque da produção são os morangos, o carro-chefe da propriedade.
Atualmente, apesar de não fazer mais parte do PNAE, os alimentos orgânicos da família também são destinados ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), em que a entrega é feita ao CRAS do município, responsável por distribuir os produtos à comunidade. “Em 2025, Arroio do Meio foi contemplado com um recurso para atender também a escola estadual. Apesar de não estarmos mais no PNAE continuaremos a auxiliar a comunidade escolar de alguma forma, pois sabemos a importância de ampliar o alcance dos alimentos saudáveis”.
Dica da Nutri Tati Turatti
Purê de Abóbora Cabotiá com Cheiro-verde (orgânico)
Confira uma receita prática com alimentos orgânicos da estação para fazer em casa ou inserir no cardápio do almoço escolar.
Ingredientes:
• 1 kg de abóbora cabotiá orgânica (descascada e cortada em cubos)
• 2 colheres de sopa de óleo ou azeite
• 1 cebola média picada
• 2 dentes de alho picados
• Sal a gosto
• Cheiro-verde orgânico picado (salsinha e cebolinha)
• (Opcional) 1 colher de sopa de requeijão ou creme de leite
Modo de preparo:
1. Cozinhe a abóbora no vapor ou em água até ficar bem macia.
2. Em outra panela, refogue a cebola e o alho no óleo até dourar.
3. Amasse a abóbora com um garfo ou bata no liquidificador/ processador, conforme a textura desejada.
4. Misture a abóbora ao refogado e acerte o sal.
5. Finalize com o cheiro-verde picado e, se quiser, adicione o requeijão para um toque mais cremoso.
6. Sirva morno como acompanhamento de carnes ou recheio de tortas e panquecas.