
Lajeado figura entre os municípios mais bem avaliados do Brasil em áreas como saúde, educação e geração de renda. O mais recente destaque veio com o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) 2024, que colocou a cidade como a mais desenvolvida do RS e a 11ª no ranking nacional, entre mais de 5,5 mil municípios. Mas, apesar do reconhecimento, um desafio estrutural ainda compromete a busca por um futuro mais equilibrado e sustentável: o saneamento básico.
Um avanço travado
Enquanto a cidade exibe bons números em áreas visíveis, menos de 2% das economias de Lajeado contam com ligação à rede de esgoto — cerca de 1,5 mil imóveis, em um universo superior a 40 mil. A carência de cobertura em esgotamento sanitário afeta diretamente a saúde pública, o meio ambiente e o desenvolvimento urbano equilibrado. E mais: freia o potencial de Lajeado de se tornar referência em qualidade de vida em todas as frentes.
Saneamento e desenvolvimento
A vice-reitora da Univates e doutora em Desenvolvimento Regional, Cíntia Agostini, reforça que o saneamento básico é essencial para sustentar o crescimento das cidades. “Sem uma infraestrutura adequada – que inclui água, resíduos, drenagem e esgoto – aumentam os riscos à saúde, os impactos ambientais e os prejuízos à economia. Desenvolvimento sustentável exige equilíbrio e hoje o saneamento ainda pesa negativamente nessa balança”, analisa a economista.
Doenças e desigualdade
A ausência de rede coletora de esgoto não afeta apenas o meio ambiente. Também adoece a população — física e emocionalmente. A doutora em Enfermagem e professora da Univates, Cássia Regina Gotler Medeiros, alerta para as múltiplas formas com que a falta de saneamento afeta a saúde. “É causa de inúmeras doenças infecciosas, mas também provoca impactos na autoestima e saúde mental de quem vive em meio ao mau cheiro, sujeira e ausência de dignidade ambiental”, frisa.
A enfermeira sanitarista cita ainda que, segundo o Instituto Trata Brasil, o país pode economizar mais de R$ 25 bilhões em saúde até 2040 com a universalização do saneamento, o que significaria R$ 1,25 bilhão em economia ao ano.
Impactos na economia
Além dos efeitos diretos na saúde, o saneamento básico tem reflexo direto na dinâmica econômica. Para a empresária Bruna Finger Arnholdt, da Artem Engenharia, soluções sustentáveis valorizam cidades e atraem investidores. “Resolver as pendências do saneamento vai eliminar entraves ambientais, acelerar processos e dar credibilidade ao município. Lajeado tem tudo para ser referência, desde que supere as consequências da enchente de 2024 e avance com coragem nesse tema essencial”, salienta.
Maior plano de saneamento da história do RS
A Aegea/Corsan lançou, em abril, o maior plano de saneamento já realizado no estado. O investimento total é de R$ 15 bilhões, com meta de elevar a cobertura de esgoto de 35% para 90% até 2033 em 317 municípios, inclusive Lajeado.
No município, estão previstos R$ 300 milhões em investimentos e a implantação de uma estrutura robusta, com milhares de metros de redes coletoras, estações de bombeamento e estações de tratamento. “Estamos prontos para universalizar o atendimento em Lajeado. O contrato já existe, mas falta a assinatura do aditivo por parte da prefeitura para que possamos dar início ao plano”, explica o vice-presidente de Relações Institucionais da Aegea/Corsan, Fabiano Dallazen.
Parceria com a comunidade
Assim que os trâmites forem resolvidos com o município, a companhia planeja uma grande campanha de mobilização e conscientização para envolver a população nas obras e na importância das ligações domiciliares. “É uma transformação que pode causar transtornos temporários, mas que trará benefícios permanentes. Para isso, é preciso o envolvimento de todos: poder público, empresas e comunidade”, ressalta o diretor da Aegea/Corsan, César Faccioli.