O que começou de forma quase artesanal se transformou em uma das maiores referências em camurça bovina do mundo. Reconhecida por marcas internacionais e presente em cinco continentes, a trajetória do Curtume Rusan iniciou em 1985, quando Rubem Koefender, queria mais do que comercializar couros, mas sim ter um negócio próprio.
Na época, consertar sapatos com sola de couro era comum, o que criava uma demanda local constante. A partir disso, nasceu a ideia de produzir a camurça em pequena escala. E desde o início, a prioridade foi a qualidade, característica que a destacou no mercado. Com essa diretriz, a Rusan se especializou exclusivamente na produção de camurça bovina, utilizando matéria-prima selecionada do Brasil, da Argentina e do Uruguai.
O primeiro espaço do curtume foi construído na divisa de Lajeado com Cruzeiro, em um terreno que era parte do antigo sítio da família. Com o crescimento do negócio, Rubem negociou com a mãe e os irmãos e adquiriu toda a área, onde hoje funciona a sede do curtume.
“Pouca gente sabe disso, mas o Rusan quase se chamou Esquilo, por fazer alusão a um pequeno animal, mas trabalhador. Por fim, o nome surgiu da junção do meu (Rubem) com o da minha esposa (Sandra)”, lembra Rubem.
O material produzido pela Rusan é destinado à fabricação de calçados, bolsas e artigos de moda, com destaque para linhas especiais como a Camurça Viena, voltada ao mercado externo e ao público feminino. Ainda assim, o principal segmento atendido pela empresa é o esportivo. Para conquistar grandes marcas internacionais, como a Nike, a diretora Camila Koefender destaca que foi essencial alcançar os rigorosos padrões do Leather Working Group (LWG), certificação que avalia práticas ambientais e de responsabilidade na indústria do couro.
“No final de 2011 fomos auditados, conseguimos ser selo bronze na época. Com essa certificação começamos a entrar no mercado de marcas internacionais. Mas desde 2017 somos ouro e seguimos com a medalha, o que nos proporciona trabalhar com as marcas mais exigentes do mercado”, conta.
Tecnologia e consciência ecológica
Além da alta qualidade, a empresa se destaca pelo compromisso ambiental. Todo o processo de curtimento é feito com tecnologias modernas, que reduzem o uso de água, tratam resíduos e evitam passivos ambientais. O curtume opera com laudos técnicos atualizados e cumpre rigorosamente as exigências legais e ambientais do setor.
Ao exportar para os cinco continentes, a Rusan é hoje considerada exemplo de como aliar tradição, inovação e o cuidado com o meio ambiente, para alcançar o mercado global.
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Entrevista
Camila e Rubem Koefender • Proprietários do Curtume Rusan
“Família Koefender está envolvida há 115 anos com histórias em curtume”
Wink – A família Koefender sempre teve muitos negócios na área de curtume. Tem alguma explicação para se dedicarem a este modelo de negócio?
Rubem – Acho que a família Koefender está envolvida há 115 anos com histórias em curtume. O curtume Koefender, localizado no Morro 25, em Lajeado, deve ter entre 70 e 80 anos, época em que nosso avô veio e começou. É uma história longa, mas como iniciou esse envolvimento, não sabemos dizer. É interessante que quase todas as cidades do nosso estado começam ao redor de um curtume. Esse modelo é pioneiro em muitos sentidos porque, no interior, quando se começava uma pequena comunidade sempre tinha alguém que se dedicava a isso. E a nossa família começou por aí.
Wink – O que tu fazia antes?
Rubem – Antes de eu começar o curtume, também era comerciante. Na época, chegar com uma carga de 500 kg ou 1 mil kg não dava o poder de barganha no negócio. Mas ao obter 10 mil kg, aí mudava. Eu juntava de um e outro e quando tinha uma carga boa, começava a negociar. Depois que comecei o Curtume Rusan, ainda comercializei um pouco, mas logo depois me envolvi diretamente nas outras atividades.
Camila, tu fazia o que antes do curtume?
Camila – Estudei na Unisinos, em São Leopoldo, onde fazia Comércio Exterior. Sempre gostei dessa parte de negociação e me interessava muito por línguas, tinha inglês fluente e logo comecei o espanhol. Na época da Unisinos, eu morava em Porto Alegre. Mas quando fui para lá, meu pai disse uma coisa: “filha minha não vai morar em Porto Alegre só estudando, tem que trabalhar”. Então, desde sempre busquei algo. Comecei com uns estágios e depois me aprimorei na parte do Comércio Exterior e trabalhei em uma seguradora internacional e um trade de carne congelada. Estava bem nos negócios. Eu tinha 23 anos quando o pai me disse que precisava de ajuda e queria passar o negócio para alguém. Voltei em 2011.
Em algum momento tinha a possibilidade de tu não seguir no curtume ?
Camila – É complicada essa pergunta, porque, ao mesmo tempo que tenho total liberdade com o pai em dizer que não quero, tinha muito medo de decepcioná-lo. Então, posso dizer que foi um desafio pessoal. No final, acabei gostando. Não são tudo flores, mas é legal.
Uma família sempre precisa ter equilíbrio. A Sandra, tua esposa, também se envolveu no negócio. Como vocês administram o equilíbrio negócio X família?
Rubem – Quando a Camila veio trabalhar comigo, a Sandra já não atuava mais no curtume. E as coisas foram acontecendo ao natural. Mas sobre a Camila vir para o curtume, eu nunca disse para ela “tu tem que ficar aqui”. Falei que havia uma oportunidade e que o pai não ia continuar a vida toda aqui. Mostrei as possibilidades.