O que te motivou a buscar uma formação acadêmica nos Estados Unidos?
O sonho de estudar fora surgiu em 2012 (na época eu tinha 10 anos), enquanto assistia ao programa Soletrando do Luciano Huck e o assunto foi abordado. O que mais me encantou nesse dia foi saber que o processo para estudar fora englobava mais do que notas. Era um conjunto de fatores que buscavam avaliar o estudante num contexto holístico. Esse sonho foi, aos poucos, se tornando um objetivo mais concreto conforme eu me envolvia em atividades extracurriculares como olimpíadas e feiras científicas.
Quais os maiores aprendizados pessoais que essa mudança te proporcionou?
Meu maior aprendizado foi entender que, antes de você tentar abraçar o mundo, precisa abraçar a si mesmo. Entrei na faculdade com a vontade de aproveitar ao máximo cada oportunidade, como se tivesse uma cobrança interna constante, consciente do quanto foi difícil chegar ali e do privilégio que é estar nesse espaço. Com o tempo, entendi que essa pressa em dizer sim para tudo me afastava de mim mesmo, e que cuidar da minha saúde mental, celebrar pequenos momentos, cultivar relacionamentos e tempos de lazer também era um investimento e não “perda de tempo”.
Como foi receber o convite para ser o orador da turma na cerimônia de formatura?
Sempre vi esse momento como uma oportunidade de transmitir uma mensagem pessoal e, ao mesmo tempo, universal — algo que tocasse não só os formandos, mas todos os presentes. Apesar do nervosismo, a vontade de comunicar algo significativo prevaleceu. O processo de seleção exigia a submissão do discurso por escrito. Fui um dos dez finalistas a apresentá-lo ao vivo para um comitê ligado à presidência da faculdade. A reação deles foi marcante: alguns choravam, outros consolavam — uma cena emocionante e até um pouco engraçada.
O que te motivou a incluir em seu discurso a situação do Vale do Taquari e as enchentes de maio de 2024?
Para mim, um tema que realmente atravessa a experiência de qualquer estudante de graduação é a resiliência. Esse é um período desafiador não apenas no aspecto acadêmico, mas também por marcar o início da vida adulta, com todas as incertezas e transformações que ele traz. Para ilustrar essa ideia, recorri a uma imagem muito próxima da minha realidade: como gaúcho e morador de uma região marcada por enchentes, não havia exemplo mais forte do que a lembrança da tragédia do ano passado. O que presenciei ao chegar na minha cidade foi profundamente marcante. Ver o esforço dos voluntários e a união da comunidade foi inspirador. Ainda assim, não imaginei que o discurso teria tanta repercussão, especialmente o trecho em que falo sobre as cheias.
Qual foi a reação do público ao ouvir sobre a tragédia em sua cidade natal durante a formatura?
Durante e logo após o discurso, senti que tinha cumprido o que eu queria, mas ainda não sabia ao certo como ele tinha sido recebido; afinal, a cerimônia continuava e meu discurso foi logo no início. Só ao final percebi o impacto, quando fui calorosamente abordado por colegas, familiares, professores, funcionários e até pelo presidente da universidade. Nunca tinha falado para tanta gente (cerca de 8 mil pessoas) e muito menos em outra língua. Ainda assim, meu desejo era apenas viver aquele momento também. De nada adiantaria ter escrito algo tão verdadeiro para mim se eu não conseguisse senti-lo e transmiti-lo. E, pelas vezes que precisei segurar o choro, acredito que emoção não faltou!