Justo no momento em que o Brasil passava a ocupar posição de destaque no mercado devido a produção de aves, a descoberta de contaminação por gripe aviária em propriedade de Montenegro faz os compradores internacionais recuarem.
Até a tarde de ontem, pelo menos 14 países haviam anunciado embargos para o produto nacional, em especial do Rio Grande do Sul. De janeiro a maio, o país teve um crescimento de 1,14% nas exportações, com um total comercializado de 117,2 bilhões de dólares.
“Ainda é muito cedo para sabermos como isso vai interferir no setor. Mesmo assim, estamos acompanhando os desdobramentos e estudando como agir”, destaca o presidente Executivo da Dália Alimentos, Carlos Freitas.
O superintendente de Indústria e Fomento da Languiru, Anderson Xavier, vai na mesma linha. De acordo com ele, os principais mercados da cooperativa ainda não anunciaram qualquer bloqueio. Ainda assim, antecipa que a principal preocupação é a superoferta de carne de frango no mercado interno, o que pode reduzir o preço do produto para o consumidor e fazer com que a indústria perca competitividade.
Em um primeiro momento, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) acredita ser possível retomar as exportações para a maioria dos destinos em até 28 dias. Para tanto, órgãos de fiscalização dos poderes públicos atuam para conter o risco de novos contágios, em especial nas propriedades comerciais.
Em coletiva na tarde de ontem em Brasília, o ministro Carlos Fávaro, afirmou que assim que os exames comprovaram a contaminação no RS, foram adotadas medidas para reduzir o risco de propagação do vírus.
“O importante é fazer o bloqueio e o rastreamento de tudo o que saiu da granja. Foram inutilizados todos os produtos e, assim, a gente diminuiu o risco de novos casos”. De acordo com ele, mesmo com a normalização do status de zona livre da doença, as exportações serão gradativas, acredita Fávaro.
“Isso quer dizer que não significa que todos os mercados se abrirão imediatamente. Muitos vão questionar, e isso é normal.”
Também haverá um mutirão para aumentar as testagens em áreas próximas ao foco da doença e aposta na comunicação, para mostrar ao mundo que as medidas sanitárias são cumpridas conforme os regulamentos internacionais.
O MAPA estima que o Brasil pode deixar de exportar de US$ 100 milhões a US$ 200 milhões em frango e derivados por mês em virtude da suspensão das exportações parcial ou total para alguns destinos.
Suspeitas pelo país
Além da propriedade em Montenegro, o Mapa investiga mais duas granjas comerciais suspeitas de contaminação, no Tocantins e em Santa Catarina. Também há outras três apurações, em criações de subsistência, no Ceará, Mato Grosso e em Sergipe.
Vendas à China
As cooperativas Dália e Languiru têm certificação para venda ao gigante asiático e um dos principais parceiros comerciais do Brasil. Porém, as compras estão suspensas desde junho do ano passado, quando foi confirmada a presença da doença de Newcastle em Anta Gorda.
“Estávamos próximos de retomar as vendas e agora temos uma nova barreira. Fizemos adaptações na indústria e conseguimos a certificação. Porém, nenhuma venda foi feita”, destaca o superintendente da Languiru. Em meio ao processo de recuperação da cooperativa, a produção de aves no frigorífico de Westfália é estratégica para viabilizar o plano de renegociação.
Mercado interno
Na unidade em Westfália, a Languiru divide a produção entre prestação de serviço à JBS e para a marca própria. Com o rótulo da cooperativa, são cerca de 35 mil abates. Deste total, 85% é para o mercado interno e o restante para exportação. “Dos 15% que temos de contratos, nenhum país comunicou de maneira direta algum embargo.”
De acordo com ele, a maior preocupação está no mercado interno, pois grandes marcas com mais participação no exterior irão enviar esse excedente para o mercado nacional. “Nossa maior parcela é vendas internas. O que temos de avaliar é como serão os próximos dias em termos de controle da doença. Vemos que os órgãos de controle estão mobilizados e acredito que logo tudo volta ao normal.”
Já a cooperativa de Encantado, a Dália Alimentos, abate em média 50 mil aves no frigorífico de Arroio do Meio. “O principal agora é saber se os países vão fechar para toda a produção brasileira, ou vão regionalizar, no caso para o Rio Grande do Sul ou propriedades próximas ao foco”, conta o presidente Executivo, Carlos Freitas. De acordo com ele, 95% da produção da Dália é voltada ao mercado nacional.
Riscos ao consumidor
Apesar de letal entre animais, o contágio em humanos é limitado. O risco de infecção ocorre pelo contato direto com aves infectadas, vivas ou mortas, ou com superfícies contaminadas. Profissionais que trabalham em granjas e no setor avícola estão mais expostos a essa possibilidade.
Apesar da baixa transmissão para humanos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) monitora a evolução do vírus, pois mutações podem torná-lo mais perigoso. Em surtos anteriores, casos humanos foram registrados, com uma taxa de letalidade superior a 50% entre os infectados. A doença não é transmitida pelo consumo de carne de frango ou ovos, desde que cozidos.
Rio Grande do Sul
Produção de carne: 803 milhões de aves abatidas. Equivale a 1,8 milhão de toneladas.
Produção de aves e ovos
- O Brasil é o 2º maior produtor mundial de carne de frango.
- Conforme a Associação Brasileira de Proteína Animal, (ABPA), foram produzidas 14,9 milhões de toneladas em 2023 (2024)
- O país representa cerca de 15% da produção global de frango
Exportações
- 739,5 mil toneladas
- Receita de US$ 1,2 bilhão O RS é o terceiro maior exportador do país.
- Atrás apenas do Paraná (US$ 3,9 bilhões) e de Santa Catarina (US$ 1,9 bilhão).
Consumo
- 65,4% da carne de frango vai para o mercado interno
- Enquanto 34,6% para exportação.
Exportação
- 5,2 milhões de toneladas (2024, ABPA)
- Entre 1998 e 2023, as exportações cresceram 694%.
- O Brasil é o 1º exportador mundial, sendo responsável por 36,9% das exportações globais.
Vale do Taquari
A região representa 21% da produção gaúcha de carne de frango.
Países com restrições ou embargos:
- China
- União Europeia
- Argentina
- Uruguai
- Chile
- México
- Arábia Saudita
- Japão (apenas de Montenegro)
- África do Sul
- Canadá
- Coreia do Sul
- Emirados Árabes Unidos (apenas da área afetada)
- Filipinas (apenas da área afetada)
- Japão (aves vivas do RS. Carne e ovos de Montenegro)
Sanidade (Influenza Aviária)
- A primeira confirmação no Brasil ocorreu em 15 de maio de 2023.
- Ao longo de um ano, foram mais de 160 focos. A maioria em propriedades para subsistência e três em aves silvestres.
- Em 16 de maio de 2025, foi registrado o primeiro caso em propriedade comercial em dois anos. Em uma granja de Montenegro.