Gripe aviária preocupa setor e reduz exportações

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Gripe aviária preocupa setor e reduz exportações

Barreiras, testagens e transparência com o mercado são as apostas do Ministério da Agricultura para derrubar os embargos internacionais à produção de frango e ovos do país. Cooperativas da região avaliam como principal consequência o aumento da oferta de carne e de ovos no mercado interno

Gripe aviária preocupa setor e reduz exportações
Desinfecção em áreas próximas a propriedades busca reduzir o risco de que o vírus se espalhe para mais regiões do RS. São sete barreiras em funcionamento. (Foto: GABRIEL SANTOS)
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Justo no momento em que o Brasil passava a ocupar posição de destaque no mercado devido a produção de aves, a descoberta de contaminação por gripe aviária em propriedade de Montenegro faz os compradores internacionais recuarem.

Até a tarde de ontem, pelo menos 14 países haviam anunciado embargos para o produto nacional, em especial do Rio Grande do Sul. De janeiro a maio, o país teve um crescimento de 1,14% nas exportações, com um total comercializado de 117,2 bilhões de dólares.

“Ainda é muito cedo para sabermos como isso vai interferir no setor. Mesmo assim, estamos acompanhando os desdobramentos e estudando como agir”, destaca o presidente Executivo da Dália Alimentos, Carlos Freitas.

O superintendente de Indústria e Fomento da Languiru, Anderson Xavier, vai na mesma linha. De acordo com ele, os principais mercados da cooperativa ainda não anunciaram qualquer bloqueio. Ainda assim, antecipa que a principal preocupação é a superoferta de carne de frango no mercado interno, o que pode reduzir o preço do produto para o consumidor e fazer com que a indústria perca competitividade.

Em um primeiro momento, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) acredita ser possível retomar as exportações para a maioria dos destinos em até 28 dias. Para tanto, órgãos de fiscalização dos poderes públicos atuam para conter o risco de novos contágios, em especial nas propriedades comerciais.

Em coletiva na tarde de ontem em Brasília, o ministro Carlos Fávaro, afirmou que assim que os exames comprovaram a contaminação no RS, foram adotadas medidas para reduzir o risco de propagação do vírus.

“O importante é fazer o bloqueio e o rastreamento de tudo o que saiu da granja. Foram inutilizados todos os produtos e, assim, a gente diminuiu o risco de novos casos”. De acordo com ele, mesmo com a normalização do status de zona livre da doença, as exportações serão gradativas, acredita Fávaro.

“Isso quer dizer que não significa que todos os mercados se abrirão imediatamente. Muitos vão questionar, e isso é normal.”

Serviço estadual faz inspeção em propriedades no entorno da granja com o foco

Também haverá um mutirão para aumentar as testagens em áreas próximas ao foco da doença e aposta na comunicação, para mostrar ao mundo que as medidas sanitárias são cumpridas conforme os regulamentos internacionais.

O MAPA estima que o Brasil pode deixar de exportar de US$ 100 milhões a US$ 200 milhões em frango e derivados por mês em virtude da suspensão das exportações parcial ou total para alguns destinos.

Suspeitas pelo país

Além da propriedade em Montenegro, o Mapa investiga mais duas granjas comerciais suspeitas de contaminação, no Tocantins e em Santa Catarina. Também há outras três apurações, em criações de subsistência, no Ceará, Mato Grosso e em Sergipe.

Vendas à China

As cooperativas Dália e Languiru têm certificação para venda ao gigante asiático e um dos principais parceiros comerciais do Brasil. Porém, as compras estão suspensas desde junho do ano passado, quando foi confirmada a presença da doença de Newcastle em Anta Gorda.

“Estávamos próximos de retomar as vendas e agora temos uma nova barreira. Fizemos adaptações na indústria e conseguimos a certificação. Porém, nenhuma venda foi feita”, destaca o superintendente da Languiru. Em meio ao processo de recuperação da cooperativa, a produção de aves no frigorífico de Westfália é estratégica para viabilizar o plano de renegociação.

Mercado interno

Na unidade em Westfália, a Languiru divide a produção entre prestação de serviço à JBS e para a marca própria. Com o rótulo da cooperativa, são cerca de 35 mil abates. Deste total, 85% é para o mercado interno e o restante para exportação. “Dos 15% que temos de contratos, nenhum país comunicou de maneira direta algum embargo.”

De acordo com ele, a maior preocupação está no mercado interno, pois grandes marcas com mais participação no exterior irão enviar esse excedente para o mercado nacional. “Nossa maior parcela é vendas internas. O que temos de avaliar é como serão os próximos dias em termos de controle da doença. Vemos que os órgãos de controle estão mobilizados e acredito que logo tudo volta ao normal.”

Já a cooperativa de Encantado, a Dália Alimentos, abate em média 50 mil aves no frigorífico de Arroio do Meio. “O principal agora é saber se os países vão fechar para toda a produção brasileira, ou vão regionalizar, no caso para o Rio Grande do Sul ou propriedades próximas ao foco”, conta o presidente Executivo, Carlos Freitas. De acordo com ele, 95% da produção da Dália é voltada ao mercado nacional.

Riscos ao consumidor

Apesar de letal entre animais, o contágio em humanos é limitado. O risco de infecção ocorre pelo contato direto com aves infectadas, vivas ou mortas, ou com superfícies contaminadas. Profissionais que trabalham em granjas e no setor avícola estão mais expostos a essa possibilidade.

Apesar da baixa transmissão para humanos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) monitora a evolução do vírus, pois mutações podem torná-lo mais perigoso. Em surtos anteriores, casos humanos foram registrados, com uma taxa de letalidade superior a 50% entre os infectados. A doença não é transmitida pelo consumo de carne de frango ou ovos, desde que cozidos.

Rio Grande do Sul

Produção de carne: 803 milhões de aves abatidas. Equivale a 1,8 milhão de toneladas.

Produção de aves e ovos

  • O Brasil é o 2º maior produtor mundial de carne de frango.
  • Conforme a Associação Brasileira de Proteína Animal, (ABPA), foram produzidas 14,9 milhões de toneladas em 2023 (2024)
  • O país representa cerca de 15% da produção global de frango

Exportações

  • 739,5 mil toneladas
  • Receita de US$ 1,2 bilhão O RS é o terceiro maior exportador do país.
  • Atrás apenas do Paraná (US$ 3,9 bilhões) e de Santa Catarina (US$ 1,9 bilhão).

Consumo

  • 65,4% da carne de frango vai para o mercado interno
  • Enquanto 34,6% para exportação.

Exportação

  • 5,2 milhões de toneladas (2024, ABPA)
  • Entre 1998 e 2023, as exportações cresceram 694%.
  • O Brasil é o 1º exportador mundial, sendo responsável por 36,9% das exportações globais.

Vale do Taquari

A região representa 21% da produção gaúcha de carne de frango.

Países com restrições ou embargos:

  • China
  • União Europeia
  • Argentina
  • Uruguai
  • Chile
  • México
  • Arábia Saudita
  • Japão (apenas de Montenegro)
  • África do Sul
  • Canadá
  • Coreia do Sul
  • Emirados Árabes Unidos (apenas da área afetada)
  • Filipinas (apenas da área afetada)
  • Japão (aves vivas do RS. Carne e ovos de Montenegro)

Sanidade (Influenza Aviária)

  • A primeira confirmação no Brasil ocorreu em 15 de maio de 2023.
  • Ao longo de um ano, foram mais de 160 focos. A maioria em propriedades para subsistência e três em aves silvestres.
  • Em 16 de maio de 2025, foi registrado o primeiro caso em propriedade comercial em dois anos. Em uma granja de Montenegro.

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