Trânsito lento em horários de pico, movimentação crescente de veículos pesados por conta das rotas alternativas à Arroio do Meio, vias estreitas demais, problemas no asfalto e cruzamentos perigosos. A mobilidade urbana se apresenta como um dos principais desafios, com potencial para travar o desenvolvimento dos bairros Campestre, Olarias e Santo André.
Situadas entre as duas rodovias mais importantes que cruzam Lajeado, essas comunidades exigem soluções imediatas para minimizar os gargalos do trânsito e da infraestrutura. No entanto, alguns dos projetos previstos pelo governo municipal tendem a contemplar as principais ruas somente no médio e no longo prazo.
Um exemplo é a rua João Goulart. Iniciada no Campestre, a via se estende até o Olarias, onde se encontra com a rua Paulo Emílio Thiesen. Por um tempo, cortava uma região estritamente residencial. Hoje, o surgimento de vários comércios, além do campus do IFSul, trouxe nova perspectiva à área. Mas trouxe junto o ônus de um crescimento pouco planejado.
A Paulo Emílio Thiesen, no alto do Olarias, também representa um gargalo dentro da região. Assim como na João Goulart, a presença de comércios às margens da via impulsiona o movimento de veículos. Além disso, há uma escola municipal e também uma igreja, além de servir de acesso ao único posto de saúde do entorno.
Em outra ponta, a Romeu Júlio Scherer ganhou os holofotes em 2024 por conta da montagem da ponte temporária sobre o Rio Forqueta. A via se tornou a rota principal para caminhões pesados entre Lajeado e Arroio do Meio, até a inauguração da ponte da ERS-130, em abril deste ano.
Insatisfação
Proprietário de uma agropecuária localizada no Campestre, às margens da João Goulart, Paulo César Schmitz da Cunha, o PC tem acompanhado de perto as mudanças no trânsito da região. E não esconde a insatisfação com as condições atuais do trecho. Segundo ele, a via tem fluxo constante de veículos e caminhões, mas as intervenções feitas têm gerado mais problemas do que soluções.
“Em vez de alargar, encheram de tachões em forma de um triângulo. Esses dias, um cara fez a curva, se distraiu e teve perda total. Já tentaram fazer uma rótula, mas ficou toda errada. Se tirassem o excesso de tachões, o trânsito iria melhorar bem mais”, aponta o comerciante.
Para ele, a sinalização mal planejada é um dos principais gargalos. “Quem vem do lado oposto da loja e quer cruzar pro estacionamento precisa fazer uma manobra que nem é permitida. Não vai adiantar só alargar. Era melhor deixar como estava antes. Dá pouco acidente, ainda.”
A preocupação aumenta com o movimento crescente de caminhões, mesmo após a liberação da ponte da 130. PC defende que o município ouça mais os moradores antes de executar mudanças. “Tem que ouvir quem mora aqui. Ver se vai ajudar ou atrapalhar, como está acontecendo. Daria pra melhorar alargando, mas fazendo uma sinalização melhor.”

Rotatória deve ser implementada em cruzamento crítico / Crédito: Maira Schneider
Projeto antigo
Outro comerciante, Dieison Feliciti tem uma distribuidora de bebidas e também se mostra preocupado com os problemas no trânsito. Segundo ele, o espaço ocupado hoje por calçada e estacionamento deveria, na verdade fazer parte da própria rua, conforme um projeto antigo de alargamento.
“Aqui no meu ponto, a calçada tem uns três ou quatro metros. Depois dela, tem uma área que usamos para estacionamento, mas essa área, na verdade, deveria ser a rua. Daria um alargamento de uns seis metros. Mas o que fizeram foi quebrar a calçada e depois refizeram para aumentar meio metro da rua. Nem sei se deu isso tudo”.
O comerciante destaca ainda que há complicações técnicas que impedem um alargamento completo, como a presença de postes de alta tensão. “Não é só mexer com pavimentação, envolve energia, estrutura”. Para ele, o caminho mais adequado seria retomar o projeto original de alargamento da via. “Falam em rotatória, mas não vejo como solução. O trânsito só vai piorar ainda mais”.
Precariedade
Já o motorista de van escolar Roberto Paludo, aponta problemas com mudanças recentes no trânsito no bairro Santo André. O bloqueio de um acesso tradicional, nas imediações do Posto do Arco, às margens da ERS-130, tem gerado, segundo ele “voltas longas e perigosas”.
“Sempre teve aquela entrada ali, mas, do nada, trancaram. Agora os motoristas que vem do São Cristóvão precisa ir até o túnel para fazer o retorno. É um trajeto longo, confuso e perigoso”, alerta. Para ele, uma alternativa seria fazer um acesso direto entre os dois bairros, nas imediações da Arla. “Mas não quiseram fazer”.
Segundo Paludo, a precariedade das vias no entorno revela uma situação de abandono no bairro. “É buraco para todo lado, caminhão estacionado onde quer. Não tem sinalização, não tem pintura. A gente cobra há tempos”.
O vereador Jones Vavá, que reside no Santo André, cita que a rota entre o bairro e a rua Getúlio Vargas virou “terra de ninguém” e lembra que a João Goulart sofre com a falta de calçadas e sinalização adequada. Já a eliminação do semáforo na ERS-130, segundo ele, piorou a situação.
“É comum moradores saírem com uma hora de antecedência para conseguir chegar ao centro”, relata. Ele lembra, por exemplo, do caso de uma paciente de hemodiálise que precisava sair de casa às 5h da manhã para chegar a tempo ao hospital”, comenta.

Trecho do Campestre preocupa por conta dos acidentes / Crédito: Maira Schneider
Ações do município
Ainda não há uma projeção de quando o município pretende atuar em melhorias nas principais ruas desses bairros. Mas há iniciativas na mira da Secretaria Municipal de Planejamento, Urbanismo e Mobilidade.
Uma delas, segundo o titular da pasta, Alex Schmitt, é alterar o fluxo na parte central do Campestre. “Temos um projeto que torna sentido único as ruas João Goulart e Getúlio Vargas, a partir do cruzamento entre elas até as ERS-130”, comenta.
Também está em andamento um projeto de rotatória no cruzamento da João Goulart com as ruas Paulo Emílio Thiesen e Romeu Júlio Scherer. “O restante [da João Goulart] tem previsão de alargamento, mas por ora sem projeto”, detalha, ao lembrar que essas ações dependem também das negociações com proprietários de recuos viários.
AS VIAS E OS PROBLEMAS
RUA JOÃO GOULART
– Uma das principais ruas dos bairros Campestre e Olarias, se tornou uma “válvula de escape” para moradores dessas comunidades se deslocarem ao Centro durante as obras de duplicação da BR-386;
– Um alargamento da via é defendido por moradores e comerciantes. Mesmo com a conclusão do trecho duplicado na rodovia federal, há um temor grande pelo futuro na rua.
PAULO EMÍLIO THIESEN E ROMEU JÚLIO SCHERER
– As ruas sofreram com o tráfego pesado de veículos no período de funcionamento da ponte temporária do Exército. Agora, com a reabertura do trânsito na ERS-130, o fluxo tende a diminuir drasticamente;
– O governo municipal já promove o recapeamento completo da Paulo Emílio Thiesen. Já na Romeu Júlio Scherer, há projeto cadastrado no Estado para buscar a pavimentação do trecho que vai até a travessia recém-desativada.
ACESSOS AO BAIRRO SANTO ANDRÉ
– A entrada e saída do bairro, via BR-386 e rua 13 de Junho, são feitas pela mesma alça, o que incomoda motoristas e gera risco à comunidade;
– Com a instalação de um atacarejo da bandeira Stok Center, se faz necessária adaptações no trecho. No ano passado, governo municipal e a empresa responsável pelo empreendimento abriram tratativas com a CCR ViaSul;
– Já nas imediações do Posto do Arco, um dos acessos diretos ao bairro foi fechado, o que gera críticas de moradores.