Entre consultas médicas, fisioterapia e massagem, Mara Rejane Machado Rodrigues, 50, convive com dores na coluna há mais de 10 anos. A lajeadense procurou ajuda desde os primeiros sintomas, mas a trajetória foi longa até encontrar o tratamento ideal. Com exercícios diários e dedicação às caminhadas, ela aprendeu a respeitar o próprio corpo para viver com saúde e qualidade.
Foi no fim do ano passado, quando conheceu o Instituto Coluna em Movimento (ICM), de Lajeado, que ela teve uma melhora mais significativa. “Todo o tratamento que eu fazia durava uma semana ou duas sem dor e depois ela voltava. Eu caminhava um pouco e minhas pernas travavam”, recorda.
Com quatro sessões de fisioterapia no instituto, e exercícios diários em casa, ela se sente melhor. As dores ainda aparecem dependendo do esforço que faz, mas as caminhadas ao ar livre voltaram a fazer parte da rotina dela sem dor.
Diagnóstico comum
Quem tratou Mara foi a fisioterapeuta especialista em coluna, Glaucea Vrielink. Ela explica que a principal causa da dor era por uma obstrução na coluna lombar, proveniente de uma desordem mecânica da região do quadril. “A gente tratou a região do quadril, tirou a tensão da musculatura de glúteo, e automaticamente
a lombar começou a aliviar junto”, relata Glaucea.
A profissional destaca que a dor na coluna é uma experiência comum. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 80% da população mundial terá dor na coluna ao longo da vida. Entre as dores nas costas, a que afeta a região lombar é a mais comum. Embora possa ser causada por vários fatores, na grande maioria dos casos, não se deve a uma doença grave.
Segundo a fisioterapeuta, um dos grandes problemas hoje é atribuir a dor exclusivamente à má postura. “Não é a postura em si, mas o tempo que se permanece nela. Ficar muito tempo na mesma posição, mesmo que ‘correta’, pode causar dor. O corpo foi feito para o movimento”, explica. A recomendação é levantar-se a
cada 40 a 60 minutos.
Glaucea diferencia os tipos de dor mais comuns. A dor óssea e articular, como nos casos de artrose, costuma ser localizada e relacionada ao movimento. Já a dor muscular pode ter origem em lesões ou contraturas e, muitas vezes, é reflexo de uma disfunção na coluna. “Às vezes, o nervo está sendo irritado na raiz e o músculo entra em contratura constante. O paciente segue tratando o sintoma, sem olhar para a causa”.
Ela explica também sobre condições muito temidas pela população, como o bico de papagaio (osteófitos), e a hérnia de disco. No caso da hérnia, Glaucia afirma que a dor ocorre quando o núcleo do disco intervertebral extravasa e toca um nervo, gerando inflamação.
A reabilitação, segundo ela, deve sempre ser orientada por um profissional especializado em coluna. Exercícios mal orientados podem agravar o quadro. Já o bico de papagaio é uma condição em que ocorre o crescimento anormal de tecido ósseo, geralmente em torno das articulações. Lombalgia, escoliose e estenose espinhal também estão entre os problemas de coluna mais comuns.
Estar em movimento
Um dos maiores entraves à recuperação de pacientes com dores na região lombar, cervical ou outras áreas da coluna é o medo. “A dor vai muito além de uma lesão. Envolve emoção, interpretação cerebral e crenças enraizadas”, explica a também fisioterapeuta especialista em coluna, Julia Zen. Segundo ela, esse medo pode, inclusive, aumentar a dor, mesmo em casos sem lesões graves.
A especialista afirma que pessoas com musculatura fortalecida e que praticam atividades físicas regularmente tendem a sentir menos dores, mesmo mantendo posturas semelhantes às de quem sofre com dores crônicas.
“Movimento é parte do tratamento. O medo de se mexer só agrava o quadro. Nosso trabalho começa justamente em ajudar o paciente a perder o medo e voltar a se mover, com orientação”.
A especialista ainda diz que questões emocionais, como estresse, depressão e falta de sono, também interferem na intensidade da dor, já que afetam os neurotransmissores que atuam na inibição ou amplificação das sensações dolorosas. A dor ciática, por exemplo, pode confundir o paciente.
“Muitas vezes a dor se manifesta no joelho ou pé, mas a origem está na raiz nervosa comprimida na coluna. É comum o paciente demorar a buscar o tratamento adequado por não associar os sintomas com a coluna”, afirma Julia. O mesmo vale para a artrose, processo de desgaste da cartilagem entre os ossos.
O processo de reabilitação, segundo Julia, exige confiança, tempo e enfrentamento. “Vai doer em alguns momentos. Mas é preciso explicar isso ao paciente, mostrar que sentir dor não significa piora. A dor, nesse contexto, pode ser parte do caminho para a melhora”.