Um ano depois, incerteza marca futuro do trem turístico

Ferrovia do Vale

Um ano depois, incerteza marca futuro do trem turístico

Região mobiliza empreendedores e prefeitos, mas o movimento empaca na relação complexa entre governo federal e Rumo Logística. Alternativa construída junto com o Estado busca autorização da concessionária para reformas pontuais em parte dos 46 quilômetros de Guaporé a Muçum

Um ano depois, incerteza marca futuro do trem turístico
Entre 2019 e 2023, mais de 112 mil turistas fizeram o passeio entre Guaporé e Muçum, segundo dados da Amturvales. (Foto: arquivo A Hora)
Vale do Taquari

Até a inauguração do Cristo Protetor de Encantado, em abril deste ano, a principal aposta turística da região eram os passeios do Trem dos Vales. A tragédia de maio de 2024 danificou mais de 700 quilômetros de ferrovias. Há um ano, nenhuma locomotiva chegou ao RS pela interligação com Santa Catarina.

Pelo diagnóstico prévio da Rumo Logística,seria necessário um investimento entre R$ 3 bi até R$ 4 bilhões para retomar o transporte. Como a concessão está no fim (encerra em 2027), há um debate de como será o financiamento, seja destinado à reforma ou projetos para mudanças em trajetos.

São mais de 3 mil quilômetros de rodovias que interligam o Paraná, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul aos estados do centro-oeste do país. Antes de maio, menos da metade da malha tinha transporte regular por locomotivas.

Neste conjunto, estão 46 quilômetros do trecho turístico, de Guaporé a Muçum. Desde a suspensão da operação, o turismo do Vale do Taquari sente os impactos. O trem movimentava hotéis, restaurantes e agências de turismo em toda a região. Entre 2019 e 2023, mais de 112 mil turistas circularam pelo trajeto de 46 km entre Guaporé e Muçum, segundo dados da Associação dos Municípios de Turismo da Região dos Vales (Amturvales).

A venda de pacotes era feita por mais de 200 agências em três estados do Sul, o que demonstra o alcance do projeto e o potencial de retorno. “Estamos buscando alternativas para um retorno dos passeios. Mas ainda não temos perspectiva de quando isso será possível”, diz o presidente da Amturvales, Rafael Fontana.
Em cima disso, a retomada dos passeios depende de uma série de medidas, com articulações políticas e administrativas.

Em reunião na quarta, vice-governador e presidentes das associações definiram próximos passos para o Trem dos Vales. (Foto: Rodrigo Ziebell\GVG/divulgação)

Liberação parcial

O esforço regional e do governo do Estado é tornar o processo mais ágil. Em reunião na quarta-feira, 14 de maio, o vice-governador Gabriel Souza, com o presidente da Amturvales e da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), Marlon Ilg, definiram os passos para uma liberação parcial para a região.

“Precisamos que a concessionária libere a entrada das associações no trecho turístico. Sem isso, não podemos intervir. Precisamos resolver isso juridicamente”, diz Fontana. Com essa cedência, se inicia o orçamento do que é preciso fazer para reconstruir a ferrovia. “O mais rápido seria no trecho de Muçum ao Viaduto 13, em Vespasiano Corrêa, o que dá entre 13 até 16 quilômetros.”
O passo seguinte será articular o financiamento de forma compartilhada: com participação dos municípios envolvidos, da iniciativa privada, da ABPF e, se possível, de fundos estaduais e federais.

Como o patrimônio da ferrovia é federal, isso impede que recursos estaduais sejam usados diretamente nas obras. “O vice-governador está empenhado, mas o Estado não pode investir dinheiro público em um patrimônio que é da União sem um acordo formal”, detalha Fontana.

Debate estadual e nacional

A conversa da quarta-feira foi um desdobramento direto da reunião ocorrida na sexta-feira passada, 9 de maio, em Brasília. Na ocasião, o vice-governador Gabriel Souza apresentou um diagnóstico sobre a malha ferroviária gaúcha e reforçou ao Ministério dos Transportes a necessidade de separar o trecho turístico da concessão atual da Rumo, permitindo que a gestão local possa atuar de forma independente.

Souza defende uma solução prática, em paralelo ao debate mais amplo sobre o futuro da concessão da Rumo, previsto para ser decidido até junho. “O trem turístico exige um investimento menor, é mais simples de viabilizar tecnicamente. A prioridade agora é recuperar o trecho do Viaduto 13 e retomar os passeios o quanto antes”, afirma o vice-governador.

A Rumo Logística, responsável pelas ferrovias no RS, apresentou ao governo federal uma proposta formal para reformular a concessão da Malha Sul. A empresa manifestou interesse em manter apenas o trecho entre Cruz Alta e o Porto de Rio Grande, passando por Bagé — o único com operação estável após as enchentes de 2023 e também o mais rentável da malha gaúcha.

Por contrato, em caso de devolução, é preciso arcar com indenizações, que vão desde deixar a ferrovia como estava e pagar uma multa por quilômetro devolvido.

Entre os trechos que podem ser devolvidos estão as ligações até Passo Fundo, Santa Rosa, Vale do Taquari e todo o norte do RS. A proposta está em análise pela estatal Infra S.A. e, se aprovada, será enviada ao Tribunal de Contas da União (TCU) antes do encerramento da atual concessão.

Situação do trem turístico

  • Trecho-alvo: entre Muçum e o Viaduto 13 (percurso de 13 a 16 km) 
  • Desafio imediato: autorização da Rumo Logística para intervenção no trecho 
  • Segundo passo: orçamento para recuperação dos trilhos 
  • Terceiro passo: busca de aporte financeiro dos municípios, da iniciativa privada e dos governos estadual e federal 
  • Danos totais: diagnóstico prévio diz que dos 46 quilômetros (Guaporé a Muçum) 23 km comprometidos após a tragédia de 2024 
  • Valor estimado para reestruturação total: R$ 300 milhões 
  • Relatório federal: grupo formado pelo Ministério dos Transportes apresenta decisão em junho.

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