Depois das águas turvas, dos escombros e do lodo deixado pelas inundações que devastaram o Vale do Taquari entre setembro de 2023 e maio de 2024, nasceu um projeto que busca construir um entendimento coletivo sobre os eventos climáticos extremos e o impacto na região.
Foi lançado neste mês de maio de 2025, quando o evento de 2024 completou um ano, o livro digital Marcas na paisagem: memórias para construir a resiliência no Vale do Taquari. Obra gratuita e de acesso livre que reúne, em cerca de 230 páginas, mais de 600 imagens sobre os impactos, as causas e os caminhos possíveis diante das inundações e movimentos de massa que marcaram a história recente da região.
- O material em formato completo, digital e gratuito para reprodução, pode ser acessado AQUI.
Idealizada pela professora e pesquisadora Elisete Maria de Freitas, doutora em Botânica e docente da Universidade do Vale do Taquari – Univates, a obra é fruto de uma construção coletiva que envolveu o engenheiro ambiental Cleberton Bianchini, a fotógrafa Monique Bruxel, o jornalista Lucas George Wendt e o biólogo Mathias Hofstätter.
Juntos, eles reuniram relatos, registros visuais e interpretações técnico-científicas para compor um testemunho dos extremos vividos pela população do Vale do Taquari e de suas implicações ambientais, sociais e culturais. A diagramação do material foi feita pelo designer Marlon Cristófoli, da Editora da Univates.
Com registros fotográficos cedidos por inúmeros profissionais e amadores, antes, durante e após as inundações, o livro não se limita à documentação da destruição, mas também à captura dos gestos de solidariedade, dos esforços de reconstrução e da força das comunidades que resistiram e continuam resistindo. As imagens, em grande parte, foram reunidas a partir da colaboração da população.
O e-book não tem fins comerciais – o objetivo central é ampliar o debate público sobre os impactos das inundações, estimular a reflexão sobre o modelo de desenvolvimento vigente e inspirar práticas sustentáveis de ocupação e uso do território. O trabalho dos pesquisadores na concretização da obra foi voluntário. Para além das análises técnicas e das paisagens fotografadas, a força da obra está na multiplicidade de vozes que ela acolhe.
Memória visual e crítica dos eventos
Dividido em oito capítulos, além de prefácio, introdução e referências, Marcas na paisagem traça uma linha narrativa que parte da contextualização geográfica e histórica do Vale do Taquari e da Bacia Hidrográfica Taquari-Antas, avançando por temas como os eventos climáticos extremos, os impactos sobre as matas ciliares, a fauna, a flora e as áreas urbanas e rurais, até chegar às dimensões simbólicas da superação, da memória e da educação ambiental a partir dos eventos.
As águas e as causas
Embora traga elementos emocionais e simbólicos, o fotolivro se ancora em dados técnicos e interpretações científicas. Um dos pontos centrais do projeto é revelar as causas estruturais históricas que potencializaram os impactos das cheias, como a degradação das matas ciliares, o uso inadequado do solo, a urbanização desordenada e a ausência de políticas públicas eficazes de prevenção.
Além disso, o livro insere o Vale do Taquari em uma discussão mais ampla sobre mudanças climáticas e vulnerabilidade socioambiental. Ao mostrar como a topografia da região – com planaltos, encostas íngremes e planícies de inundação – influencia a dinâmica das águas, a obra contribui para a compreensão de que a convivência com o rio exige planejamento, conhecimento técnico e respeito às características naturais da paisagem.