No som, no toque de um instrumento ou no ouvir de uma canção, além do lazer, também há cuidado. Uma prática cada vez mais conhecida, é assim que a musicoterapia, unindo técnicas, arte e ciências, auxilia no acolhimento e tratamento em diferentes fases da vida.
O musicoterapeuta Ricardo Petter, com 30 anos de atuação na área, explica que a musicoterapia é uma prática clínica que utiliza elementos musicais, como ritmo, melodia, harmonia e improvisação para promover saúde e bem-estar.
Segundo Petter, ela se difere da musicalização infantil ou da recreação musical, pelo foco terapêutico. “Ela parte de demandas específicas. Pode atuar, por exemplo, em crianças que não desenvolveram a fala, auxiliando no estímulo à comunicação”, destaca.
O profissional atua, em especial, com crianças. Mas afirma que as técnicas podem ser benéficas em todas as idades e o acompanhamento é individualizado para atender cada demanda.
“Terapia gentil”
Petter aponta como um dos principais diferenciais da musicoterapia, a “gentileza terapêutica”. Segundo ele, ao contrário de práticas que dependem da repetição técnica, a música proporciona engajamento lúdico e afetivo. “A música se oferece como uma terapia mais gentil. Repetir um exercício numa sessão musical não é cansativo para a criança, é envolvente. E essa repetição é essencial para o desenvolvimento.”
Segundo ele, a prática é eficaz para com crianças com atrasos no desenvolvimento, transtornos de fala e condições como o autismo. “A música organiza o corpo, a fala, reduz a ansiedade. Ela dá estrutura”, aponta.
Memória
Petter descreve quatro estratégias principais dentro da musicoterapia: a recriação, em que se reutiliza uma música conhecida de forma adaptada ao momento terapêutico; a improvisação, em que terapeuta e paciente criam de forma espontânea, descobrindo emoções e expressões ocultas; a composição, quando se criam músicas novas; e a audição receptiva, na qual ouvir músicas específicas ajuda na evocação de memórias e sensações, fundamental, por exemplo, em pacientes com Alzheimer.
“A gente conversa com a família para descobrir qual é a identidade sonora daquele paciente, o que ele gosta, o que o toca”, afirma.
Petter destaca que a música ajuda a resgatar memórias que pareciam perdidas. “A memória musical é a última a ser afetada. Muitas vezes, mesmo sem reconhecer familiares, o paciente canta uma canção inteira. Isso é poderoso.”
Para ele, trabalhar hoje em um ambiente terapêutico integrado, ao lado de outros profissionais, tem ampliado sua capacidade de atuar de forma assertiva. “Cada um olha para a criança com um foco diferente, e juntos conseguimos apoiar de forma mais significativa.”
Benefícios da musicoterapia
Melhora o humor e aumenta a disposição.
Reduz a ansiedade, o estresse e a depressão.
Melhora a expressão corporal e a capacidade de comunicação.
Aumenta a autoconfiança e facilita o relaxamento.
Estimula a criatividade e promove a conexão social.
Auxilia na memorização na infância, e no resgate da memória na velhice.