A possível presença de escorpiões-amarelos na rua Pinheiro Machado, no Centro de Lajeado, preocupa moradores e coloca autoridades em alerta. Em investigação nesta semana, a 16ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) localizou dois escorpiões adultos, mas não confirmou se os animais pertencem à espécie Tityus serrulatus, considerada a mais venenosa da América Latina, ou se são da espécie comum.
Os animais foram localizados com o auxílio da luz ultravioleta, mas para fazer a identificação é necessária a captura. A suspeita é que a espécie tenha chegado à região por meio de transporte de cargas de outros locais. “A coordenadoria do Estado também investiga a relação dessa aparição com as cheias”, afirma o Secretário de Meio Ambiente (Sema), Luís Benoitt.
Ele ressalta que muitas bocas de lobo não puderam ser abertas para a captura dos animais. “Vamos investigar mais locais nesta região central no período da noite para saber se houve aumento ou foi apenas um caso isolado”.
A busca de exemplares do escorpião para análise é prioridade, conforme explica o biólogo e especialista em saúde da 16ª CRS, Bruno Egídio Cappelari. As amostras coletadas serão enviadas para identificação taxonômica e, a partir do resultado laboratorial, o município poderá implementar as medidas adequadas de vigilância e controle.
Segundo Cappelari, o escorpião-amarelo já vem sendo identificado em algumas regiões do Estado e o controle é considerado complexo. “Inseticidas não funcionam contra eles. Na verdade, eles inclusive se irritam com os produtos, o que pode causar ainda mais dispersão a novas áreas, o que não é o nosso objetivo no controle”, destaca.
No Vale, escorpiões também foram encontrados em Bom Retiro do Sul e Venâncio Aires e aguardam a confirmação da espécie.
À noite
As buscas pelos animais são feitas à noite, devido aos hábitos noturnos da espécie. Entre os profissionais que atuam na captura, está a estudante de biologia, Stefani Fontanive. “Como eles são muito pequenos e nossos bueiros são muito compridos e altos, é difícil identificar esses pontos. Fizemos duas buscas em cada bueiro e na segunda vez que passamos por aqui, encontramos os dois escorpiões adultos, mas não conseguimos capturá-los”. A investigação foi feita entre as ruas Pinheiro Machado, Tiradentes e Júlio de Castilhos.
Ela afirma que os animais costumam procurar ambientes úmidos e com presença de insetos como baratas, que servem de alimento. Ela orienta que a população mantenha ralos fechados e não aplique qualquer tipo de veneno.
Riscos
O escorpião-amarelo apareceu pela primeira vez no estado em 2002, em Torres, e possui outros casos ao longo dos anos. Segundo o biólogo Hamilton Grillo, a suspeita é que a espécie, originária do Sudeste e Nordeste do Brasil, assim como Santa Catarina, tenha sido transportada de forma involuntária em cargas de frutas e verduras vindas de outras regiões do país.
“Essa espécie se diferencia dos escorpiões nativos do Rio Grande do Sul, que são menores, de coloração preta ou marrom escura, e inofensivos”, destaca o profissional.
Segundo ele, o escorpião gaúcho tem pinças robustas, parecidas com “luvas de boxe”, enquanto o amarelo apresenta pinças finas e alongadas, característica comum entre as espécies peçonhentas.
A presença do escorpião-amarelo é motivo de preocupação pela sua toxicidade. “Eles possuem uma peçonha que pode causar desde sintomas leves, como vermelhidão e formigamento, até reações mais graves, como náuseas, vômitos, arritmias cardíacas e edema pulmonar. Por isso, é essencial procurar atendimento médico imediato em caso de picada”, alerta Grillo.
Ele afirma que, além do transporte por mercadorias, outro fator pode contribuir para a aparição do escorpião-amarelo no estado são as mudanças climáticas. “Com os invernos cada vez menos rigorosos, organismos típicos de regiões mais quentes têm conseguido sobreviver e se estabelecer por aqui. Isso vale para algumas aves, que deixaram de migrar, e também para artrópodes como os escorpiões”, observa o biólogo.
A orientação dos órgãos de saúde é para que a população redobre os cuidados com a limpeza de terrenos e áreas próximas às residências, evitando o acúmulo de materiais que possam servir de abrigo ao animal. O uso de calçados fechados e luvas ao manusear entulhos, madeiras ou restos de construção também é recomendado.
Outro ponto importante, segundo Grillo, é preservar os predadores naturais da espécie, como sapos, corujas, morcegos e lagartos, que ajudam a controlar a população do escorpião de forma natural.
Sobre a espécie
- Possui pernas e cauda de cor amarela clara, enquanto o tronco é mais escuro.
- Pode medir até 7 centímetros de comprimento.
- É um animal noturno e se esconde durante o dia em locais escuros e úmidos, como entulhos, ralos, roupas e frestas de paredes.
- Reproduz-se por partenogênese, o que significa que a fêmea não necessita de um macho para se reproduzir, podendo gerar cerca de 20 filhotes por ciclo.
- O veneno é altamente tóxico e causa dores intensas, podendo, em casos mais graves, levar à morte, especialmente em pessoas com comorbidades, idosos e crianças.