Um ano após a maior catástrofe climática da história do país, a Defesa Civil do RS apresenta as mudanças adotadas para mitigar prejuízos humanos e materiais. As ações fazem parte do Plano Rio Grande, criado em 2023, e serão detalhadas hoje, 6 de maio, em Porto Alegre.
Entre as principais medidas estão investimentos em tecnologia, reestruturação da rede de alerta e ampliação das equipes de resposta. Um dos principais projetos é a instalação de dez centros regionais de gestão de risco e desastres.
O primeiro será em Lajeado, com estrutura física permanente para atendimento a crises. Segundo o comandante regional da Defesa Civil, tenente-coronel Hélio Schauren, o modelo será replicado em outras regiões. “Estamos criando estruturas autônomas, com redundância energética e de comunicação, para garantir operação mesmo em contextos extremos”, resume.
A perspectiva é que o prédio seja concluído em 2026. “O Vale terá o primeiro complexo regional de Defesa Civil. Isso vai fortalecer o conhecimento e as estratégias de prevenção, monitoramento e socorro durante episódios extremos”, diz o comandante.
Conforme o Estado, a instalação é uma medida estruturante para adaptação e resiliência climática. Dentro das metas, estão a coordenação, planejamento e execução de medidas para mitigar consequências econômicas, sociais e ambientais.
A proposta é instalar nove centros no RS, com capacidade de reunir diferentes recursos humanos, além de coordenação e articulação mais adequadas às instituições e profissionais envolvidos na prevenção, preparação e resposta aos desastres. O local escolhido fica às margens da ERS-130, em área pública do Departamento Autônomo de Estradas para Rodagem (Daer).
Diagnóstico local
Além da nova estrutura, a Defesa Civil regional elabora um diagnóstico inédito da situação das coordenadorias municipais no Vale do Taquari. A intenção foi mapear capacidades, deficiências e potencial de resposta local. “Para entender e conhecer as nossas coordenadorias municipais, fizemos um levantamento sobre o alcance, os limites, o potencial e as fraquezas. Quando comparamos os dados, conseguimos enxergar onde fortalecer e acelerar”, destaca Schauren.
Esse levantamento permitiu, por exemplo, identificar municípios que ainda não possuem estrutura mínima de rádio comunicação ou acesso à rede de rádio amador. “Fizemos esse diagnóstico para saber se eles conhecem a rede, se têm o contato, e para estimular que se crie um núcleo de rádio amador. É um grande serviço, que pode ser usado em situações extremas, como para transmitir georreferenciamento para pouso de helicópteros”, completa.
Sistema de radares e comunicações
Ao todo, o Estado prevê quatro radares meteorológicos. Um está ativo em Porto Alegre, e os outros três estão em fase de licitação para as regiões Oeste, Serra e Sul. A meta é ampliar a precisão dos alertas e alcançar toda a população do RS. O edital prevê equipamentos de banda S, com monitoramento meteorológico e geológico em tempo real.
Na área de comunicação, os protocolos foram reformulados. A rede de rádio, que opera em sistema analógico, está sendo migrada para o digital, com maior alcance e eficiência. “Estamos mudando para o digital. A ideia é que cada município tenha pelo menos uma central de comunicação, com prioridades locais para a instalação dos equipamentos. Vamos implementar isso para todos, e criar uma rede regional robusta”, diz Schauren.
O comandante também destaca mudanças importantes que surgiram após a tragédia de 2023. “Antes não existia, e agora tem: a internet por satélite com geradores em pontos estratégicos. Não imaginávamos como isso seria necessário. Quando todas as linhas estavam cortadas, vimos que era essencial ter essa estrutura”, lembra.
Estrutura regional e mais equipes
Outro eixo do plano é o reforço no quadro de pessoal. Desde o início de 2025, foram incorporados 47 técnicos e 68 militares em todo o RS. Também foi autorizada a contratação temporária de dois mil servidores, para atuação em áreas como hidrologia, geologia e engenharia.
Em âmbito regional, o intuito é unir esforços. “Queremos que os municípios entendam que isso é um investimento. Estamos trabalhando a conscientização. Antes, cada cidade fazia sua própria forma. Agora, queremos pensar o Vale como um todo. Não adianta um município estar bem estruturado se os demais não tiverem o mínimo. Ninguém consegue enfrentar uma catástrofe sozinho”, pontua o comandante.
Investimentos somam R$ 6,7 bilhões
Segundo o governo estadual, desde maio foram aplicados R$ 6,7 bilhões em ações emergenciais, reconstrução e prevenção. O Plano Rio Grande reúne iniciativas de curto, médio e longo prazo. Ações como desassoreamento de rios e canais têm R$ 300 milhões reservados. A dragagem das hidrovias gaúchas está orçada em R$ 731 milhões.
Na área de prevenção, estão sendo instaladas 130 estações de monitoramento hidrológico em regime de missão crítica. Também será contratada a modelagem hidrodinâmica de bacias e rios, com elaboração de mapas de inundação, identificação de áreas de risco e implantação de sistemas de alerta.