A enchente no Vale do Taquari ocorreu devido a um conjunto de fatores, incluindo chuvas intensas, ciclone extratropical, o fenômeno El Niño, aquecimento global e as mudanças decorrentes da urbanização em áreas de inundação. Em maio do ano passado, a água do rio atingiu níveis recordes, superando a marca histórica de 1941 em Lajeado.
O Rio Taquari atingiu 33,66 metros na tarde do dia 2 de maio em Lajeado. As cheias que atingiram toda a região deixaram pontes destruídas e acessos bloqueados. Milhares de casas foram levadas pelas águas e dezenas de vidas perdidas. A tragédia ainda mudou a natureza, das terras e do rio.
Em áreas atingidas, municípios criam parques e apostam em tecnologias de absorção das águas para evitar danos maiores em uma possível nova cheia. Especialistas também defendem a necessidade do replantio de mata ciliar nas encostas dos rios.
Para amenizar tragédias
O engenheiro ambiental Flávio Foletto vive os desafios climáticos na sua propriedade. Como empreendedor rural, planta e vende. Como especialista, analisa o uso inadequado do solo como um dos fatores que agravam as enchentes no Vale do Taquari.
Segundo ele, a terra deveria ter maior capacidade de reter a água da chuva, o que ajudaria a reduzir os efeitos de eventos extremos. No entanto, isso não ocorre no Vale do Taquari. “Boa parte da região é agrícola. Por causa disso, temos uma baixa capacidade de infiltração, devido à forma como o solo é ocupado”, explica.

Escombros que ainda permanecem nos municípios, como em Arroio do Meio, também exigem medidas para limpeza das cidades. (Foto: FELIPE NEITZKE)
A baixa absorção do solo, associada ao volume excepcional de chuvas registrado em maio passado, potencializou a dimensão da tragédia. No entanto, com as ferramentas estatísticas insuficientes da época, “não teve como prever uma situação como a que aconteceu conosco.”
Para Folletto, a solução para amenizar os desastres é complexa, demanda ações estruturadas, planejamento a longo prazo e comprometimento coletivo. Só assim, o Estado deixaria de apenas reagir às tragédias e passar a atuar de forma preventiva.
Desassorear RS
Municípios da região ainda participam do programa Desassorear RS, do governo do estado. A iniciativa faz parte do Plano Rio Grande, e visa desassorear e limpar arroios, canais de drenagem e sistemas pluviais afetados por enchentes.
No Vale, Arroio do Meio foi o primeiro município a iniciar os trabalhos. Outras cidades, como Lajeado, Estrela, Taquari, Marques de Souza, Mato Leitão e Encantado também possuem planos para executar a limpeza dos recursos hídricos.
Em Lajeado, sete pontos recebem o desassoreamento, com um investimento de R$ 528 mil. Foram mapeados pontos nos arroios Saraquá, Engenho, e nos rios Taquari e Forqueta.
Mato Leitão também está na lista de municípios contemplados no programa. O objetivo no município é desassorear o Arroio Sampaio, que passa por localidades da região do Vale do Sampaio.
Ainda, Marques de Souza enviou cinco projetos de desassoreamento, no Arroio Tamanduá, Sanga Diesel, e três pontos ao longo do Rio Forqueta – antigo Camping do Neitzke, área urbana perto da ponte e outro no Distrito de Tamanduá.
A medida busca retirar sedimentos dos mananciais, para prevenir ou diminuir danos de novas cheias.
Medidas para a redução de danos
- Melhor manejo do solo por parte de agricultores e indústrias.
- Implantação de áreas de agrofloresta.
- Criação de um programa contínuo de desassoreamento do rio, especialmente nas partes superiores.
- Remoção constante dos cascalhos acumulados nos rios Forqueta e Taquari.
- Recuperação das margens com espécies vegetais adequadas, indo além do simples cumprimento de protocolos de reflorestamento.
- Desenvolvimento de um amplo estudo sobre a vegetação ideal para cada trecho, investigando a mata ciliar no Vale e em todo o Estado.
- Monitoramento estratégico dos rios, com instalação de sistemas de vigilância do nível nas diversas pontes ao longo do leito do Taquari, de Lajeado até São José dos Ausentes.