A agricultura, um dos motores da região, foi duramente atingida pelas enchentes. Mas quem é do campo tem a habilidade de não se abater. Essa força ensina sobre reconstrução. No Vale do Taquari, apesar dos desafios, os agricultores não querem abandonar o campo e buscam alternativas para recompor a terra, atuando para evitar erosões e regenerar o solo.
O criador de suínos Marcos Lohmann perdeu 300 animais na tragédia de maio. Morador do interior de Roca Sales, ele conta que a cheia arrasou a Granja Lohmann, atingindo casas, plantações, chiqueiros e galinheiros. Durante um mês, precisou se instalar na propriedade de um amigo, já que a sua ficou coberta por lodo e entulhos.
Um ano depois, Lohmann se enche de orgulho: “Minha propriedade está linda”. No fim de maio, ele conclui a instalação de um novo chiqueirão, com capacidade para 500 suínos. Recentemente, encerrou também a colheita da soja, conseguindo retirar 51 sacas por hectare.
O último ano foi de esforço redobrado, acordando por volta das 6h para recuperar a propriedade. “A enchente de maio foi muito lamacenta, mas tem de se virar. Se eu não tocar a vida, eu não chego lá.”
A força da família Lohmann está na vibração da voz, nas mãos que reatam o cultivo, na sagacidade de administrar após a tragédia. A colheita deste ano ainda não cobre todos os investimentos, mas ele terceiriza serviços e intensifica o trabalho.
Nos planos para 2025, estão a construção de um novo galinheiro e a reativação da vertente de água — o poço artesiano da comunidade fica em suas terras e 56 famílias dependem dele.
Lohmann cobra também mais esforço dos governos para olhar para o campo, incentivando os agricultores com linhas de crédito e melhores taxas de juros.
20 mil famílias atingidas
Na tragédia que atingiu a região no ano passado, 20 mil famílias de agricultores foram afetadas. Dessas, nove mil tiveram estábulos e roças invadidos pela água e precisaram interromper suas atividades. Um dado ainda mais duro: três mil famílias tiveram as propriedades totalmente destruídas. Casas que abrigavam pais, filhos e netos num mesmo terreno foram arrancadas da terra.
“Essas famílias, que também tinham chiqueirões, vacas de leite ou aviários, tiveram de migrar para outro ramo de atividade”, relata o coordenador regional da Emater, Cristiano Laste. Muitos pararam de criar suínos e vacas e passaram a cultivar soja, milho e pomares, que exigem investimentos menores. “São atividades de menor risco”, explica Laste.
Driblar dificuldades é parte do cotidiano do agricultor. A confiança na terra os faz fortes. “Não sei de onde retiram tanta força de vontade. Estão sempre dispostos a recomeçar”, reforça. No campo, se formou uma corrente de solidariedade: um ajuda o outro, e essa empatia os torna ainda mais unidos. “Há uma cultura de apoio, de não se entregar”, observa Laste.
O coordenador enfatiza que há uma grande preocupação ambiental. Hoje, os produtores isolam as áreas próximas aos rios e deixam o solo se regenerar, para permitir que a vida cresça espontaneamente.
A Emater atua junto nessa reconstrução, com 140 técnicos apoiando as famílias. “A Emater está interligada com todos os municípios”, comenta Laste.
A devastação em números
- 20 mil famílias do campo foram afetadas pela enchente no Vale
- 9 mil tiveram roças e estábulos invadidos e interromperam as atividades
- 3 mil famílias tiveram as propriedades completamente destruídas