Milton da Silva, 65, caminha entre o entulho e o silêncio. Um ano depois da tragédia climática de 2024, ele retorna ao bairro Carneiros, em Lajeado, onde morou por mais de quatro décadas. Diante do que restou da casa onde criou sete filhos e viu crescer 19 netos, o aposentado respira. “É difícil voltar. Perdi a identidade aqui. Isso não é só uma casa, era minha vida”, desabafa.
A enchente de setembro de 2023 já havia tirado quase tudo, quando sua esposa, resgatada por um helicóptero durante o alagamento, caiu nas águas do Taquari sem colete salva-vidas. Milton assistiu à cena da varanda. No ano seguinte, em maio, uma nova cheia, de proporções ainda maiores, que o deixou, também, sem teto.
“Peguei três enchentes e um vendaval que arrancou o telhado da casa onde eu estava tentando recomeçar. O carro que eu ainda pagava ficou pra trás”, relata agora, mais contido.
Mesmo diante da destruição, Milton não perdeu completamente a fé. Ele agradece a ajuda de um empresário local, que arcou com suas despesas durante os meses mais difíceis. Em troca, Milton doou um pequeno pedaço de terra que possuía. “Se não fosse ele, eu não teria nem o que colocar no prato”, conta com humildade.
Hoje, ele mora em Santa Clara do Sul, em uma casa construída com a ajuda de muitos voluntários que se sensibilizaram com a história. Vídeo publicado em maio de 2024 pelo Grupo A Hora alcançou mais de 7 milhões de visualizações nas redes sociais. Na nova cidade, e com a nova companheira, ele encontra algum amparo emocional. “Ela me ajudou muito. Eu não vivo no passado, mas também sinto o que aconteceu”.
Apesar do esforço para se reerguer financeiramente, ele ainda não conseguiu trabalhar. Mas tenta, aos poucos, tentar se restabelecer. Apesar das tragédias, Milton insiste em sorrir.