A “culpa” é da transmissão em vídeo

Opinião

Ezequiel Neitzke

Ezequiel Neitzke

Jornalista

Coluna esportiva

A “culpa” é da transmissão em vídeo

Neste sábado ocorre a primeira reunião para definir o Regional Aslivata 2025 e entre os assuntos que estão fervilhando nos bastidores está a cobrança de uma taxa dos veículos de comunicação que desejam transmitir os jogos em vídeo. A justificativa apresentada é que as transmissões estariam afastando o público dos estádios. Mas será que a culpa realmente é das transmissões em vídeo?

Antes de mais nada, é preciso deixar claro: a imprensa não é adversária do futebol amador, muito pelo contrário. Quando um veículo de comunicação transmite uma partida em vídeo, ele amplia o alcance do clube, dá visibilidade aos atletas, valoriza os patrocinadores e, acima de tudo, reforça o vínculo da comunidade com o esporte. Em vez de ver nisso uma ameaça, os clubes deveriam enxergar uma oportunidade.

A ausência de público nas arquibancadas não se explica apenas pela possibilidade de assistir ao jogo no celular ou na TV no conforto de casa. Há diversos fatores que afastam o torcedor – e muitos deles estão ligados às próprias decisões dos clubes.

Um exemplo claro é a formação dos elencos. Em vez de priorizarem os atletas da casa, os filhos dos voluntários que lavam os uniformes, cortam a grama e vendem rifas para manter o clube de pé, muitas equipes têm optado por montar elencos recheados de jogadores de fora. Essa prática, além de custosa, fragiliza a identificação da comunidade com o time. Se os jogadores não têm ligação com o bairro, com a vila, com a cidade, por que o torcedor teria?

Outro ponto importante é a estrutura. Os jogos ocorrem em campos com pouca ou nenhuma condição de conforto. Falta sombra, falta banheiro decente, falta segurança, falta acessibilidade. Ainda assim, o ingresso custa R$ 10 por partida. Para uma família de quatro pessoas que queira acompanhar os jogos do mês, o custo passa de R$ 160 – e isso sem contar com os refrigerantes, os lanches e a gasolina. É mais de 10% de um salário-mínimo só com o lazer de domingo. Mas é mais fácil jogar a culpa nas transmissões em vídeo do que analisar mais a fundo o problema.

O que percebo é que alguns clubes têm visto na cobrança da taxa das transmissões uma maneira de arrecadar recursos para pagar jogadores, geralmente de fora. Uma inversão de lógica. Em vez de transformar o jogo em um espetáculo acessível, valorizando a comunidade e o sentimento de pertencimento, optam por uma fórmula que cobra da imprensa a responsabilidade por problemas estruturais e administrativos.

É preciso mudar esse olhar. As transmissões em vídeo podem e devem ser aliadas dos clubes. Elas são uma vitrine poderosa para vender placas de publicidade, criar ações de marketing, ativar os patrocinadores e envolver ainda mais a comunidade. É possível, inclusive, pensar em parcerias entre clubes e veículos, em que ambos se beneficiem. Mas isso exige diálogo, planejamento e, acima de tudo, boa vontade.

O futebol amador sempre foi um espaço de encontro, de convivência, de paixão genuína. Mas para que ele continue vivo, é preciso que os clubes compreendam que a imprensa não é inimiga. Que parem de buscar culpados e comecem a buscar soluções.

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