A ciência já nos ensinou que tudo no corpo está interligado. Ainda assim, insistimos em dividir o ser humano em partes. Coração, fígado, rins, pâncreas — cada órgão com seu especialista, cada queixa com seu consultório. Mas o corpo não segue essa lógica compartimentalizada. Ele responde como um todo. E é por isso que precisamos falar sobre a boca.
Pacientes com diabetes têm um risco aumentado de desenvolver periodontite — uma inflamação crônica que compromete a gengiva e o osso ao redor dos dentes. Esse dado, que por muito tempo pareceu restrito aos consultórios odontológicos, hoje tem peso nas principais diretrizes internacionais sobre o manejo do diabetes.
A conexão é clara: a inflamação periodontal libera substâncias que circulam pela corrente sanguínea e pioram a resistência à insulina. O resultado é uma glicemia mais difícil de controlar — e muitas vezes, uma frustração silenciosa para o paciente e o médico. É um ciclo: a glicose elevada favorece a inflamação, que por sua vez dificulta o controle da glicose.
Apesar disso, sintomas como sangramento gengival, retração da gengiva ou mobilidade dentária seguem sendo normalizados. “É só um sangramentinho”, “faz parte da idade”, “depois eu vejo”. Mas não são sinais inofensivos. São alertas do corpo, que pedem escuta.
A boa notícia é que a periodontite tem tratamento. Melhor: seu tratamento pode, inclusive, melhorar os níveis de glicose. É um cuidado que se soma — e não raro, surpreende positivamente tanto o endocrinologista quanto o próprio paciente.
Cuidar de quem tem diabetes exige um olhar que ultrapasse a balança e o glicosímetro. Exige tempo, escuta e integração entre diferentes áreas. E, acima de tudo, exige que a saúde bucal deixe de ser um detalhe para ocupar o lugar que lhe cabe: o de peça-chave na construção de um organismo em equilíbrio.
Por Clínica SAVIĒ
Michel Reckziegel, periodontista e impantodontista; Ramona Fernandes Reckziegel, endocrinologista
