A guerra comercial entre Estados Unidos e China volta a ganhar força e traz impactos diretos para o setor agrícola mundial. De acordo com Antônio Sartorti, consultor, sócio fundador e agrocorretor da Brasoja Agro Corretora, o cenário é de grandes incertezas, mas também de oportunidades para o Brasil.
“É um ano marcado por eventos geopolíticos e climáticos muito fortes, impactando nos preços do setor agrícola ao redor do mundo. Não é novidade que o Trump faria um tarifaço, mas ninguém esperava algo tão grande, violento e pesado”, afirmou Sartorti.
O especialista lembra que, há oito anos, quando Donald Trump assumiu a presidência, os Estados Unidos aplicaram uma tarifa de 25% sobre produtos importados da China. Em resposta, o governo chinês impôs a mesma tarifa sobre a soja americana, o que abriu espaço para o Brasil. “A soja americana ficou 25% mais cara e a do Brasil subiu 25%. Ganhamos não apenas em preço. Oito anos atrás, a China comprava metade dos Estados Unidos e metade do Brasil. Hoje, estamos com mais de 70% do mercado chinês”, ressaltou.
Apesar dos ganhos, Sartorti faz um alerta. “É uma guerra comercial. Ninguém ganha nada com guerra”, destacou. Segundo ele, o conflito comercial deve forçar a China a ampliar suas fronteiras agrícolas. “Ficou claro que a China não pode contar com os Estados Unidos como parceiro. Vai procurar utilizar a tecnologia que tem hoje para, em dez anos, transformar áreas desertas em áreas aráveis”, projetou.
A força financeira da China também é lembrada como um diferencial para essa transformação. “As maiores reservas do mundo estão na China, com US$ 3 trilhões e 300 bilhões. O Brasil tem pouco mais de US$ 300 bilhões. A China ainda tem dívida negativa de US$ 6 bilhões”, compara. Para Sartorti, o movimento de investimentos chineses deve crescer, contudo na África, na Rússia e no Brasil. “A princípio, é bom para nós, mas ainda é um leque de incertezas muito grandes”, avaliou o consultor.
O especialista também comenta que o setor de grãos, como soja e milho, tende a se beneficiar da tensão entre Estados Unidos e China, mas não com a mesma intensidade de oito anos atrás. “Crescemos bastante. Hoje temos mais de 70% do mercado chinês”. Para ele, o conflito é impulsionado pelo medo dos Estados Unidos de perder espaço no comércio global.
No Brasil, porém, os desafios são internos. “Em meio a essa briga, o tema para nós é produtividade. Este ano, a safra no Rio Grande do Sul, segundo cooperativas, era para ser de 25 milhões de toneladas. Hoje sabemos que será pouco mais de 15 milhões. Perdemos praticamente 10 milhões de toneladas, o que representa mais de R$ 20 bilhões”. Sartorti finalizou lembrando que, diante do cenário global, o produtor brasileiro precisa focar no que está ao alcance, eficiência e produtividade.
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