Para além da herança genética recebida ao nascer, entender o DNA tem o poder de melhorar a ciência, os tratamentos médicos e de entender o próprio corpo. Nesse campo, se destaca a epigenética, uma área da biologia molecular que estuda como fatores externos, como alimentação, estresse e ambiente, podem ativar ou não determinados genes, sem alterar a sequência do DNA.
Para a médica oncologista Lívia Gravina, que atua também com mapeamento genético, esse campo representa uma revolução silenciosa na medicina preventiva e de precisão. “A epigenética conecta a biologia molecular à prática clínica, tanto na oncologia quanto na prevenção de doenças. Estamos aprendendo a ler e interpretar os sinais do nosso DNA com cada vez mais precisão”, avalia a especialista.
O mapeamento genético, conforme explica Lívia, é popularmente conhecido assim, mas no universo científico ele se refere ao sequenciamento genético. Trata-se de técnicas modernas que leem grandes porções do DNA. “Nos anos 90, isso era impossível de fazer com a rapidez que temos hoje. O Projeto Genoma foi o primeiro passo para decifrarmos a ordem dos nossos genes. Hoje, conseguimos sequenciar centenas de genes com precisão, o que abre um leque enorme para prevenção e tratamento”, explica.
Benefícios
A oncologista aponta que, ao mapear o DNA de um paciente, é possível identificar alterações hereditárias, como genes associados ao câncer de mama, por exemplo, mas também polimorfismos genéticos, pequenas variações que podem aumentar a predisposição a doenças como diabetes, obesidade e Alzheimer.
“Esses polimorfismos são alterações pequenas, mas frequentes na população. Quando olhamos para elas em conjunto, conseguimos identificar riscos aumentados. É como montar um quebra-cabeça”, explica. Uma das descobertas mais promissoras da genética moderna é que o estilo de vida pode modular esses genes, tornando-os mais ou menos ativos.
“É como se cada pessoa tivesse um ponto fraco genético, e a epigenética nos permite trabalhar exatamente ali. Com bons hábitos de vida, suplementações e mudanças na rotina, conseguimos ‘silenciar’ genes prejudiciais ou ‘ativar’ os protetores”, afirma Lívia.
Essa abordagem é especialmente poderosa na nutrigenética, que analisa como os genes influenciam a forma como o corpo processa nutrientes, vitaminas e minerais. A profissional ainda destaca a importância desse estudo para a prevenção.
“Quando mostramos para o paciente que ele tem um risco maior para Alzheimer, por exemplo, ele entende que precisa cuidar mais do sono, fazer exercícios, evitar metais pesados, manter estímulos cognitivos. Não é sobre alarmar, é sobre dar ferramentas”, destaca Lívia.
Segundo ela, a genética também transformou a oncologia. Com o sequenciamento genético de tumores, médicos podem personalizar tratamentos de forma mais eficaz e com menos efeitos colaterais.
Tipos de mapeamentos genéticos: entenda as diferenças
HEREDITARIEDADE
Foco: câncer e histórico familiar
- Investiga mutações hereditárias com alto impacto, apesar de raras.
- Avalia o risco de síndromes genéticas associadas ao câncer.
- Indica estratégias de prevenção, rastreamento e intervenção precoce.
- Quando fazer: histórico familiar com múltiplos casos de câncer ou síndromes hereditárias.
NUTRIGENÉTICO
Foco: estilo de vida e predisposição a doenças crônicas
- Avalia polimorfismos genéticos comuns que influenciam hábitos, metabolismo e bem-estar.
- Indica predisposição à intolerância à lactose, doenças intestinais, obesidade, diabetes, metabolismo de vitaminas e minerais, alterações de humor e hormonais.
- Foco total na prevenção e personalização da rotina alimentar e de cuidados.
- Quando fazer: para quem busca mudanças de estilo de vida baseadas na genética.
FARMACOGENÉTICO
Foco: resposta a medicamentos
- Analisa como o corpo processa medicamentos, com destaque para antidepressivos, analgésicos e drogas oncológicas.
- Pode evitar falhas terapêuticas e efeitos colaterais indesejados.
- Permite a escolha personalizada de fármacos, especialmente útil em psiquiatria e oncologia.
- Quando fazer: em casos de múltiplas tentativas sem sucesso com medicamentos ou antes de iniciar tratamentos complexos.