Correr sem parar por 24 horas pode parecer um desafio impossível para a maioria das pessoas. Mas para o barbeiro Gilberto Ferreira, essa é mais uma chance de se superar, ir além dos próprios limites e mostrar por que é um dos principais nomes do Brasil nas ultramaratonas. No próximo fim de semana, ele disputa a tradicional Ultramaratona 24 Horas de Toledo, no Paraná, e tem um objetivo bem claro: garantir índice para representar o país em competições internacionais.
O atleta já percorreu mais de 200 quilômetros em uma única prova e carrega consigo uma mentalidade forjada na disciplina, no autoconhecimento e na superação de dores, cansaços e adversidades.
Preparação começa cedo e exige disciplina extrema
A jornada para encarar uma prova como essa começa meses antes. Desde janeiro, Gilberto tem se preparado de forma intensa, com uma rotina de treinos pesados e foco total. A Travessia Torres-Tramandaí (TTT), prova de 84 quilômetros realizada no início do ano, foi um dos testes dentro da preparação.
“Desde lá, já rodei mais de 2 mil quilômetros. Foi bastante puxado. Agora, nas últimas semanas, estou apenas fazendo o polimento final, descansando o corpo. A preparação para uma 24 horas não é só física, ela exige muito da mente também”, conta.
Correr com a mente
Em uma prova que exige que o corpo se mantenha em movimento durante um dia inteiro, o preparo psicológico ganha um papel central. Gilberto destaca que treina o controle mental com tanto afinco quanto os treinos físicos.
“Nunca escutei música treinando. Sempre preparo minha mente. Penso na prova, no que quero, em onde quero chegar. Tenho acompanhamento de uma psicóloga também. Se tua mente não estiver bem, dificilmente tu vai conseguir concluir.”
Durante as 24 horas, a fadiga extrema e a dor muscular aparecem com força, e é nesse momento que o foco mental e o equilíbrio emocional se tornam diferenciais. “A cabeça comanda tudo. Já tive provas que pareciam impossíveis de terminar, e o que me salvou foi o emocional.”
Uma equipe que corre junto
Ao contrário do que parece, provas de ultramaratona exigem trabalho em equipe. Em Toledo, Gilberto contará com cinco pessoas ao seu lado: treinador, diretor esportivo, esposa, nutricionista e massoterapeuta. Cada um tem uma função específica para que ele consiga se concentrar apenas em correr.
“Eles cuidam de tudo. Eu só me preocupo em correr. Se eu não tivesse essa equipe, não conseguiria realizar essa prova. São eles que me entregam alimentação, controle de tempo, ajustes de roupa e tênis, massagens… Tudo mesmo.”
Essa estrutura também contribui para que a estratégia traçada previamente seja cumprida com precisão. “A gente traça uma estratégia para as primeiras 12, 13 horas. Sabemos onde precisamos chegar em termos de quilômetros. As paradas são mínimas.”
“Na madrugada, quando o corpo pede trégua, entra a emoção”
Por volta das 2h ou 3h da madrugada, com 12 a 15 horas já percorridas, a prova atinge seu ápice de dificuldade. É quando o sono, o frio e a exaustão se somam. Mas é justamente nesse momento que Gilberto busca inspiração nas pessoas que o apoiam.
“A coisa fica feia mesmo. Aí eu penso nas pessoas que estão lá fora, me apoiando. As mensagens que recebo do Vale e do Brasil todo durante as 24 horas são repassadas pra mim na pista. Isso me move.”
Ele explica que, mesmo cansado, consegue se emocionar ao lembrar de quem torce por ele. “Já chorei no meio da corrida ouvindo uma mensagem. Isso te dá uma força absurda. Tu vê que não tá sozinho.”
Foco no índice internacional
Apesar da dificuldade e do desafio em si, Gilberto tem um objetivo específico nesta edição da 24 Horas de Toledo: conquistar um novo índice internacional. Em 2022, ele já havia obtido a marca necessária para correr na Grécia, mas não pôde viajar por falta de apoio financeiro. Agora, quer fazer ainda mais.
“Já tenho índice para a Grécia, mas por questões financeiras não fui ainda. Então quero melhorar meu índice para estar ainda melhor ranqueado. Sei que tenho capacidade de ir além.”
Histórias que só a corrida conta
Além dos feitos esportivos, Gilberto também coleciona histórias curiosas. Uma delas viralizou este ano, durante a Travessia Torres-Tramandaí. “Um cachorro me atacou de novo. Eu estava alertando os outros corredores, e o bicho veio em mim. As fotos circularam nas redes e deram muitos likes. A TTT tá ficando famosa pelo cachorro”, brinca.
Apesar do susto, ele completou a prova normalmente. “O pessoal depois vinha me perguntar: ‘mas e o cachorro, tá bem?’ Eu só ria.”
Busca por apoio
Para continuar o Vale e o Brasil nas ultramaratonas, especialmente em provas fora do país, Gilberto conta com o apoio da comunidade e busca novos patrocinadores.
“A hora que tu for fazer a matéria, pode dar uma forcinha pra mim aí no final. A gente está buscando patrocinadores. Ano que vem a gente quer voar mais alto. A ideia é viajar pra fora do Brasil. Pretendo ir pra Grécia. Então já estamos buscando apoio, e quem quiser nos ajudar é muito bem-vindo.”