“Dei a volta por cima e me orgulho. Faço parte da história”

ABRE ASPAS

“Dei a volta por cima e me orgulho. Faço parte da história”

De Travesseiro, Matheus Henrique Zanatta, 35 anos, é exemplo de superação e força. Foi usuário de drogas, passou por momentos difíceis na juventude, mas reencontrou o rumo da vida com o apoio da família. Hoje, segue ativo nas atividades tradicionalistas do Vale do Taquari. Longe do vício há 16 anos, divide a rotina com os eventos do CTG e a valorização da cultura gaúcha. Mais recentemente, foi um dos cavaleiros que conduziu a Chama Crioula até o Cristo Protetor de Encantado

“Dei a volta por cima e me orgulho. Faço parte da história”
Foto: acervo pessoal

O que significou para você a inauguração do Cristo Protetor?

Foi um momento marcante para todos nós que participamos. Levamos e representamos a tradição gaúcha para o mundo inteiro e estávamos participando de um evento visto por muitas pessoas. Isso me orgulha muito.

Como foi o seu primeiro contato com as drogas?

Começou cedo, eu tinha 14 anos. Estava descobrindo o mundo, indo em festas, baladas, e foi ali que a cocaína apareceu. Os amigos usavam, e eu fui junto. No começo parecia algo inofensivo. A sensação era boa, me dava coragem, eu achava que estava no controle.

Quando você percebeu que as coisas estavam saindo do controle?

Foi por volta dos 17 para 18 anos. O uso que era esporádico virou rotina. Cheirava quase todos os dias. Nessa época comecei a usar crack também. Aí foi ladeira abaixo. Perdi tudo que eu tinha. Minha vida virou um caos. Nem dormia mais. Só pensava em usar.

Como sua família lidou com esse momento?

Foi um sofrimento enorme para eles. Minha mãe, meu pai, meus tios, todos desesperados. Eu tinha desmaios, crises, ia parar no hospital. A dor da minha mãe implorando para eu não sair de casa é uma lembrança que carrego até hoje. Doeu muito.

O que te fez aceitar a internação?

Teve uma reunião com toda a família, amigos, gente que queria me ver bem. Eu já estava sem saída. Ou eu aceitava ajuda, ou não estaria mais aqui hoje. Fui internado no dia 8 de agosto de 2008. Foram 14 dias na desintoxicação e depois 46 dias internado. Foi duro, mas necessário.

Qual o papel da tradição gaúcha e o que isso significa para você?

Enorme. Quando monto no cavalo, quando visto a pilcha, sinto que estou fazendo parte de algo maior. Participar da cavalgada da Chama Crioula até o Cristo Protetor foi emocionante. É uma forma de honrar a minha história e mostrar que é possível dar a volta por cima. Tenho uma ligação muito forte com minha cidade e me envolvo em clubes esportivos.

O que você diria para os mais jovens?

Que isso destrói tudo. A vida, a família, as amizades. A maioria das amizades que eu tinha naquela época sumiram. Só ficaram os verdadeiros. E que ouçam os pais. Eu não ouvi os meus e paguei caro. Hoje, olho para trás com orgulho por ter vencido, mas não desejo aquela dor para ninguém.

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