Aristildes Dias, 73, mais conhecido como seu Polenta, enfrenta um dos momentos mais difíceis de sua vida. Aposentado, ele perdeu a casa que havia reconstruído após duas tragédias anteriores — um incêndio e uma enchente. Desta vez, a água invadiu novamente sua moradia e o que restou, conseguiu salvar às pressas. Hoje, vive improvisado em um ginásio público, no bairro Conservas, em condições que ele mesmo define como “pior do que cachorro”.
“Situação péssima, não queria estar aqui, queria estar dentro de uma casa, mas nunca vi uma coisa tão enrolada como essa. Estou há quatro meses esperando receber a minha casa, já assinei tudo e não recebo”, desabafa.
A frustração aumenta com a burocracia enfrentada no processo de realocação. Segundo ele, mesmo após ter escolhido o imóvel e assinado os documentos de pagamento para a antiga proprietária, ainda surgem novas cobranças. “Me ligaram, achei que era para buscar a escritura, mas era para pagar mais uma taxa. Caso contrário, não sai a escritura.”
Segundo a prefeitura, foi oferecido o benefício do aluguel social. Ainda assim, ele alega que não há o devido amparo. Com a dignidade comprometida, seu Polenta vê os dias no ginásio como um verdadeiro pesadelo. “Isso aqui não é vida, ainda mais para um velho como eu. O imposto mandaram pagar, mas nem casa eu tenho mais”, lamenta.
Condições do espaço
Dentro do ginásio, as condições são precárias: vento frio, presença constante de pombos, muita sujeira, falta de água potável e banheiros que não funcionam. Para se alimentar, ele depende unicamente da aposentadoria. “Fui pedir cesta básica e me disseram que eu não tinha direito. Se eu não pegar do meu dinheiro para comprar comida, morro de fome. Água para beber, buscamos no posto.”
A situação pode se agravar. Segundo ele, o espaço não tem condições mínimas de moradia e já foi apontado pela Defesa Civil como estruturalmente comprometido — deverá ser demolido em breve.
Com a voz embargada, ele resume sua realidade: “Estamos aqui atirados, pior do que cachorros. Estamos jogados às traças, completamente abandonados. Isso aqui é desumano.”
Ajuda negada
Conforme a diretora da Secretaria de Desenvolvimento Social, Laura Periolo Sudbrack, os dois moradores que ainda ocupam o ginásio da Associação de Moradores após perderem suas casas na enchente estão sendo acompanhados desde setembro do ano passado.
“A prefeitura ofereceu a inclusão desses moradores no programa de aluguel social, mas ambos recusaram a proposta”, afirma.
Em relação a Aristildes Dias, a diretora informa que ele foi contemplado pelo programa “Compra Assistida”. De acordo com a gestão municipal, ele será chamado nos próximos dias para assinar o contrato e receber as chaves do novo imóvel.