Mais retiradas do que depósitos reduzem crédito imobiliário

ECONOMIA

Mais retiradas do que depósitos reduzem crédito imobiliário

De janeiro a março, os saques da caderneta de poupança ultrapassam R$ 351 bilhões. Situação faz com que Caixa Econômica Federal tenha de reestruturar financiamentos para compra de imóveis para familiar fora do Minha Casa Minha Vida

Mais retiradas do que depósitos reduzem crédito imobiliário
Construção civil do Vale aguarda detalhes sobre a nova faixa de financiamento pelo MCMV para destravar contratos que estão parados (Foto: Filipe Faleiro)

O cenário econômico, aliado ao alto custo de vida e ao endividamento recorde das famílias, pressiona o sistema financeiro e mexe em uma tradição do brasileiro, a caderneta de poupança.

De janeiro a março, os saques superaram os depósitos em R$ 45,7 bilhões, quase o triplo do saldo negativo registrado em todo o ano de 2024, quando a diferença foi de R$ 15,5 bilhões.

Em março, foram R$ 340 bilhões em depósitos e de R$ 351 bilhões nos saques, segundo relatório do Banco Central. O volume é 43% maior do que em fevereiro. No mesmo período do ano passado, o saldo foi positivo em US$ 1,3 bilhão.

Apesar do rendimento creditado em março, de R$ 5,8 bilhões, o saldo total da poupança segue na casa de R$ 1 trilhão – mesmo patamar registrado desde junho de 2024. A perda constante de atratividade da aplicação impacta o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que sustenta parte significativa do crédito habitacional no país.

Com isso, a Caixa Econômica Federal, responsável por quase 70% dos financiamentos de imóveis no país, mudou as regras. Hoje o banco financia até 70% do valor do imóvel pelo Sistema de Amortização Constante (SAC) e 50% pela Tabela Price. Antes, os percentuais eram de 80% e 70%.

Com isso, o valor da entrada sobe para até metade do valor do imóvel, conforme a modalidade. A medida também veta novos contratos para quem já tem financiamento ativo na instituição. O teto para o valor do imóvel foi mantido em R$ 1,5 milhão.

Menos poupança, menos crédito

Conforme análise da Fundação Getúlio Vargas (FGV), as constantes retiradas da poupança reduziram a participação no crédito habitacional. O sistema já chegou a representar 70% desse mercado. Hoje, não chega a 34%, calculam os especialistas. Com isso, os bancos perderam o acesso a um recurso mais barato, e a mudança nas regras da Caixa se tornou inevitável. A instituição também lida com a manutenção da taxa Selic em 13,25% ao ano, o que encarece o custo dos empréstimos.

A Caixa informa que entre 2014 e setembro de 2024, houve crescimento de 40,6% na execução do crédito imobiliário, passando de R$ 120,3 bilhões para R$ 169,24 bilhões. A carteira de crédito habitacional ultrapassou os R$ 800 bilhões, com mais de 7 milhões de contratos ativos. Só em 2024, foram concedidos R$ 175 bilhões em crédito imobiliário, alta de 28,6% na comparação com 2023.

Mudanças

Segundo relatório do JP Morgan, a caderneta registrou saídas também em 2022 (R$ 103 bilhões) e 2023 (R$ 88 bilhões). A queda persistente reflete a perda de atratividade da aplicação na poupança, diante de opções mais rentáveis no mercado de renda fixa.

A Selic alta impulsiona os títulos conservadores, como LCIs, LCAs e CDBs, que oferecem rendimentos superiores a 12% ao ano e, em alguns casos, isenção de Imposto de Renda, destaca a consultoria.

Como o brasileiro está lidando com o dinheiro em 2025?

Um raio-x das finanças da população

1. Poupança: mais saques do que depósitos
Em março de 2025, os brasileiros sacaram R$ 11 bilhões a mais do que depositaram na caderneta de poupança.
Nos três primeiros meses do ano, a diferença negativa soma R$ 45,7 bilhões, o triplo de todo 2024
O que isso significa?
A população está sacando para pagar dívidas, cobrir despesas do dia a dia ou fugir de investimentos com baixa rentabilidade real (a poupança perde para a inflação).

2. Inflação e rendimento: o poder de compra diminui
A inflação acumulada em 12 meses gira em torno de 4%, enquanto a poupança rende apenas 0,5% ao mês + TR (Taxa Referencial).
Isso significa que deixar dinheiro na poupança resulta em perda do poder de compra ao longo do tempo.
Muitos ainda escolhem a poupança pela segurança e liquidez, mas ela não compensa financeiramente.

3. Crédito imobiliário em queda
Os financiamentos habitacionais com recursos da poupança (SBPE) caíram 16% em 12 meses.
Em fevereiro de 2025 foram financiados R$ 10,2 bilhões em imóveis, bem abaixo do patamar de 2023 e 2022.
Por quê?
Juros ainda altos, incertezas econômicas e queda no saldo da poupança, que é a principal fonte de crédito imobiliário.

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