Em uma sociedade que ainda associa o peso corporal à força de vontade, especialistas reforçam: a obesidade é uma doença crônica, complexa e multifatorial. Trata-se de uma condição de origem biológica, influenciada por fatores genéticos, hormonais, comportamentais e ambientais. E, nesse contexto, obesidade e metabolismo convivem em complexidade.
Para a endocrinologista Ramona Fernandes Reckziegel, o diagnóstico da obesidade não deve ser encarado como um julgamento moral, mas como um alerta para o risco aumentado de complicações a partir da condição. Entre eles, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, apneia do sono, infertilidade e até mesmo câncer.
Segundo dados da Diretriz Brasileira de Obesidade 2024, mais de 55% da população brasileira vive com excesso de peso. O número de pessoas com obesidade triplicou nas últimas quatro décadas, transformando-se em um dos maiores desafios de saúde pública atual.
Ramona destaca que, ao contrário do que se imagina, a explicação para esse cenário vai muito além do sedentarismo ou de hábitos alimentares inadequados. O metabolismo, conjunto de reações químicas que sustentam a vida, costuma ser citado como o “vilão” por quem enfrenta dificuldades para perder peso. Mas ele é apenas uma parte de um sistema regulatório mais amplo.
Segundo a profissional, a taxa metabólica de repouso, que representa a energia gasta para manter as funções vitais em descanso, é modulada por fatores como idade, composição corporal, sexo, hormônios, qualidade do sono e até o histórico de dietas restritivas. Ela também desmistifica: “pessoas com obesidade não têm, necessariamente, metabolismo lento”.
Em muitos casos, explica, o gasto energético é até elevado, pelo esforço do corpo para manter a massa corporal aumentada. No entanto, ao iniciar um processo de emagrecimento, o corpo aciona mecanismos de proteção, que dificultam a manutenção da perda de peso.
“É como se o organismo tentasse economizar energia, reduzindo o metabolismo basal, aumentando a fome e diminuindo a saciedade”.Reeducação alimentar, prática de atividade física, preservação da massa muscular, sono de qualidade e manejo do estresse são estratégias para tratar a condição.