Como começou a sua história com o circo?
Foi praticamente um caso de amor. Começou com a minha participação em um grupo de teatro em São Paulo. Também dava aula de teatro numa universidade, onde conheci meu marido, que era equilibrista. A gente começou a viver uma história de amor. Ele me convidou para assisti-lo num espetáculo lindo de palhaçaria e fiquei extremamente emocionada. Sorria e chorava muito durante o espetáculo. A partir desse dia, eu falei: “Eu não sei o que esse palhaço está fazendo, mas quero trabalhar com essa energia que dá alegria, do sonho e da poesia”.
Quais os maiores desafios enfrentados para se tornar a profissional que és?
Acredito que o maior desafio é a nossa luta com o ego. Como artista, principalmente no circo como palhaça, você não trabalha para si, mas para servir às pessoas. Sempre fui atenta à estética, mas sofria muito com os erros. Eu não entendia qual era, de fato, o meu propósito em cena. Depois que entendi que meu papel era abrir um canal de amor e relacionamento com as pessoas — e que a técnica era só uma desculpa — tudo mudou.
Como você se preparou para atuar no circo?
Esse é um trabalho de eterno estudo. Comecei pelo teatro físico, mímica clássica e moderna. Hoje em dia uso o texto porque acredito na força dele, mas antes não usava. No circo, tudo exige estudo.
Quais outras atividades desenvolve?
Sou equilibrista, caminho sobre garrafas, em cabo de aço,… e isso exige muito do corpo. Se você quer trabalhar com circo, tem que treinar o corpo. A palhaçaria, para mim, é uma grande faculdade com a vida. É preciso saber um pouco de tudo, principalmente improvisar.
Você costuma viajar muito. Como conciliar família e trabalho?
Meu marido é meu companheiro de circo. Trabalhamos juntos e buscamos uma relação de igualdade em casa. Ele cuida da nossa filha, tanto quanto eu. Ela cresceu na lona do circo, e é muito artística.
Como você enxerga o papel do circo na sociedade?
Quando fazia teatro, tinha muito preconceito com o circo. Achava brega, estereotipado, machista. Depois fui entender a importância dele e vi que era ali que eu queria estar. O palhaço leva comportamentos que as pessoas levam para casa. Faço elas aplaudirem suas mães, revisitarem valores populares. O riso não precisa ser humilhante. A gente pode brincar e rir da gente mesmo, com leveza.
O que representa para você trazer seu Espetáculo solo “Crash de Mágica”?
Participar da 10ª Edição do Sesc Circo foi uma honra, pois o Sesc sempre vem para elevar a arte circense. Eles tem algo lindo que é o olhar e sentir a importância que é diferente do teatro, da dança, música, uma arte muito viva, específica, particular, vibrante, popular abrangente e o tempo todo trazendo sempre uma renovação a partir de mensagens muitas vezes sutis, subliminares, pois a figura do cômico, a figura da palhaça, são personagens do inconsciente coletivo que trazem também um padrão de comportamento.