“Se os Estados Unidos não lutarem politicamente contra a maior tirania do mundo, então, inevitavelmente, terão que lutar economicamente e, eventualmente, militarmente.”
Wei Jingsheng, dissidente chinês ao congresso americano em 2000.
Em 1976 o então presidente americano Richard Nixon enviou o chanceler Henry Kissinger a China para restabelecer relações diplomáticas e afastar os chineses da influência soviética.
Há muito existia um argumento liberal de que a interdependência econômica diminui a probabilidade de guerra entre países. Durante algumas décadas esse fato foi verdade para as relações ali iniciadas entre EUA e China, até que cinquenta anos depois o recém eleito presidente Donald Trump se aproxima do presidente russo Putin, de maneira aparentemente inexplicável, já que esse havia atacado a Ucrânia. Na verdade, o objetivo seria para afastar dessa vez a Rússia da influência chinesa.
Assim é o mundo e suas voltas. Finda a guerra fria, iniciada na segunda metade do século XX, estamos prontos novamente para outra grande guerra, e ela já iniciou: “China e Estados Unidos não estão apenas em uma guerra comercial. É uma luta pelo século XXI”, escreveram Matt Pottinger e Liza Tobin, ambos especialistas em assuntos chineses e veteranos do primeiro governo Trump.
Silenciosamente e de maneira surpreendentemente ingênua, duas décadas de produtos chineses baratos ajudaram a manter os preços baixos para os americanos, mas também aceleraram a perda de empregos na indústria dos EUA e financiaram uma militarização chinesa em massa que acabou por desafiar abertamente o poder dos EUA em todo o mundo. Essa é a motivação para os acontecimentos atuais, e por isso erra quem tenta entender os atuais acontecimentos apenas pela economia.
Atualmente os produtos chineses estão inseridos inclusive nas cadeias de suprimentos da indústria de defesa americanas. As intenções hegemônicas chinesas já eram percebidas no primeiro governo Trump e também durante a presidência de Joe Biden, tanto que em 2023 as exportações da China para os Estados Unidos caíram para apenas 13% do total em comparação com quase 20% em 2016. De forma similar as importações chinesas também caíram de quase 10% para 7% nesse período.
Ou seja, o afastamento que precede a guerra já havia iniciado, o que mudou nesse ano foi a estridência com que Donald Trump envolveu o resto do mundo na guerra das duas super potências.