Como você se tornou motorista?
Nasci em Venâncio Aires e aos 21 anos comecei a trabalhar como motorista de ônibus na cidade. Depois, conquistei uma vaga na empresa Expresso Azul de Lajeado e durante 30 anos conduzi universitários. O Ônibus saía às 17h e voltávamos a meia-noite.
O que você aprendeu com os universitários durante o trajeto até a faculdade?
Éramos como uma família. Além de aprender muito, pude transmitir conhecimento. Aprendi a ouvir e a valorizar a convivência em grupo. Frequentemente, eles me explicavam ideias, eu analisava, percebia que faziam sentido e, assim que possível, já repassava adiante.
Qual a diferença entre transportar estudantes e passageiros comuns?
É uma experiência completamente diferente. No transporte do dia a dia, as pessoas mudam a todo momento; já com os universitários, construímos uma verdadeira família. Até hoje, muitos me encontram pelas ruas, me reconhecem, e me abraçam.
Antes mesmo de começar a levar alunos para a Unisinos, já fazia o trajeto para a Unisc. Ao transportá-los para a faculdade, pude fazer trocas com eles.
Aprendi alguma coisa útil de todos os cursos, devido ao convívio pessoal com os universitários. Foi ótimo.
Quantos alunos você levou?
No ônibus cabiam 53 pessoas. Eu fazia 220 km por dia ou 1,1 mil km por semana. Havia alunos mais bagunceiros. Então, no começo do semestre, precisava chamar a atenção, e orientando a eles que não estavam mais no Ensino Médio. Cerca de 80% dos alunos trabalhava de dia e precisava se concentrar à noite. Eles aproveitavam o ônibus pra descansar ou estudar.
Você lembra de fatos curiosos?
Naquela época, o ônibus não tinha banheiro. Alunos pedia pra parar no caminho. A parada era sempre em Montenegro, onde havia estabelecimento com banheiro. Nos finais de ano, a turma do ônibus planejava os encontros de fim de ciclo. Era divertido.
Lembra de algum perigo que enfrentou na estrada?
Uma noite, voltando da Unisinos, percebi um caminhão que poderia se chocar. O motorista estava dormindo. Eu imaginava que teria de ir para o acostamento, mas ele acordou na última hora. Era um carro tanque, não ia ser nada bom bater contra caminhão-tanque.
A gente vê notícias de acidentes com motoristas de ônibus. O que um bom motorista precisa ter?
Responsabilidade e muita segurança. Tem que estar sempre alerta. Meu jeito era me preparar para uma visão ampla. Eu via cem metros adiante: se um automóvel ligava o freio, já reduzia a velocidade. Direção defensiva e visão longa. Essas são habilidades importantes para uma viagem segura.
Há outra questão: nunca reagir a provocações na estrada. A provocação pode vir em forma de ultrapassagem, não reaja. Conduza com segurança.