Os desafios de quem vive com diabetes

ENTRE O AÇÚCAR E A INSULINA

Os desafios de quem vive com diabetes

Condição crônica que afeta milhões de pacientes, a doença exige vigilância constante, mudanças de hábitos e acesso à informação para garantir qualidade de vida e autonomia

Os desafios de quem vive com diabetes
Cátia Kist, 36, vive os cuidados do diabetes tipo 1 há cerca de 10 anos, quando iniciou a aplicação de insulina. (FOTOS: BIBIANA FALEIRO)

A lajeadense Cátia Kist, 36, leva sempre na bolsa medidores de glicose, doses de insulina e um doce. Todos os dias, analisa o corpo e mede o quanto de carboidratos pode consumir nas refeições, além de quanta insulina deve aplicar para se manter saudável. Há pouco mais de dez anos, ela foi diagnosticada com diabetes tipo 1 e, desde então, vive os desafios diários da vida com a doença.

Ela é uma das mais de 3 mil pessoas com a condição em Lajeado, somando tanto o diabetes tipo 1 quanto o 2. Diante dessa realidade, Cátia se uniu a um grupo de profissionais para implantar um Centro de Diabetes em Lajeado. Por meio de parceria com o Hospital Bruno Born (HBB), essa demanda é levantada no município.

A ideia é também poder ofertar, em especial para crianças e pessoas de baixa renda, os sensores de medição da glicose modernizados, que auxiliam no tratamento.

Primeiros sinais

A advogada e assessora parlamentar descobriu os primeiros sintomas da doença aos 24 anos, durante um intercâmbio na Irlanda. “Minha visão começou a ficar ruim e comecei a ter uns pontinhos na visão. Eu ia várias vezes ao banheiro e tinha sempre uma sensação de fraqueza”. A partir de exames médicos, ela precisou de assistência urgente.

Quando voltou ao Brasil, Cátia já tinha consulta agendada com endocrinologista. “Tinha muitas incertezas, porque eu não sabia como a doença era tratada aqui”, lembra.

Há cerca de uma década, ela faz uso de duas insulinas, uma de forma basal, que mantém o corpo dela em funcionamento durante 24 horas, e outra insulina rápida, para combater os carboidratos e gorduras consumidos.

A convivência com o diabetes não é tranquila. Cátia diz ser preciso monitoramento 24 horas por dia. “É como se a gente tivesse que estar dizendo para um órgão a todo momento para ele funcionar. Mesmo dormindo, a gente tem que estar em alerta”.

Atenção diária

Uma das doenças crônicas mais prevalentes no mundo, o diabetes vai além do que popularmente se associa ao “corte do açúcar”. Envolve um diagnóstico que transforma a rotina do paciente e exige adaptações, compreensão sobre o funcionamento do próprio corpo e, principalmente, educação em saúde.

A médica endocrinologista Fernanda Kieling explica os efeitos da doença no cotidiano e também fala do ponto de vista pessoal, após o diagnóstico de diabetes tipo 1. Segundo a profissional, apesar de haver outros subtipos da doença, os mais conhecidos são o tipo 1 e 2. No primeiro caso, é considerada uma doença autoimune, já que os anticorpos destroem as células responsáveis por produzir insulina. Sem estoque, o paciente depende da aplicação dessa insulina para que os órgãos funcionem.

No tipo 2, ainda há produção de insulina, mas ela é insuficiente ou ineficaz. Em geral, esse diagnóstico é feito em fases mais avançadas e pode estar relacionado com fatores genéticos e estilo de vida, incluindo alimentação e sedentarismo.

“Com o aumento dos índices de obesidade, estamos vendo casos cada vez mais precoces, inclusive em jovens e crianças. É uma doença silenciosa, com diagnóstico tardio”, alerta Fernanda.

Pacientes precisam de medicações e aplicações de insulina diárias, além de controle da glicemia

Glicose em equilíbrio

Para quem vive com diabetes, controlar a glicemia é uma tarefa diária. A alimentação não requer restrições, mas sim consciência. “O paciente não é proibido de nada, mas precisa saber como e quanto pode consumir. Comer um doce não é o problema. O problema é não respeitar as quantidades e não entender o impacto glicêmico daquele alimento”, explica a médica.

Fernanda defende que a base do tratamento está na educação em saúde. “Nós, médicos, somos coadjuvantes. O paciente é o protagonista. Ele precisa entender o que fazer, como agir, como ajustar sua insulina ou medicação. Isso dá liberdade e segurança.”

Hoje, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece insulinas e medicamentos eficazes, mas a adesão e o entendimento do paciente são fundamentais. Apesar de não haver cura, Fernanda ressalta que há estudos para isso, com terapias gênicas, entre outras estratégias que podem, no futuro, transformar o tratamento da doença.

Se alimentar bem

Para a nutricionista Eveline Bald, educar também é a principal medida para o controle efetivo da doença. “O paciente precisa entender todos os detalhes da doença, porque é a partir disso que ele conseguirá conduzir sua rotina de forma mais segura ao longo dos anos”, afirma.

Eveline destaca que essa condição dos pacientes exige vigilância não apenas em relação ao açúcar, mas a todo o estilo de vida. “A glicose pode ser alterada por diversos fatores: estresse, sono ruim, sedentarismo, alimentação inflamatória, tudo isso entra no pacote”, explica.

O consumo excessivo de alimentos industrializados, ricos em gorduras ruins e aditivos, também é prejudicial. “Muitas vezes, um suco de laranja puro gera o mesmo pico glicêmico que um doce. Por isso, ensino meus pacientes a combinarem alimentos para diminuir o índice glicêmico”. Para a profissional, o controle do diabetes também está ligado a uma mudança cultural.

Prevenção

“É uma caminhada árdua até chegar ao ponto em que o paciente entenda e aceite que precisa mudar”, afirma a enfermeira Rosana da Rosa Benovit.

A profissional destaca a complexidade do enfrentamento à doença. A resistência ao diagnóstico, a dificuldade de adaptação e o impacto familiar são desafios constantes.

Rosane reforça a importância da prevenção, que deve ser trabalhada com toda a família, para a promoção de hábitos saudáveis. “Sempre tentamos equilibrar as coisas. Conversamos, combinamos metas pequenas. Se eles entram no acordo, os resultados aparecem. A mudança precisa vir com apoio, não com imposição.”

Outro ponto de alerta é o abandono do tratamento, a partir da falta de conscientização sobre a doença.

Confira aqui o programa Saúde em Dia

Dados de Lajeado

Informações da Secretaria municipal de Saúde

  • Há 674 pacientes com Diabetes Mellitus Tipo 1 no município;
  • Além de 2.414 pacientes com Diabetes Mellitus Tipo 2;
  • O município oferece diversos programas para os portadores de diabetes, incluindo grupo de caminhada, grupo de educação em saúde e grupo de musicoterapia;
  • No ano de 2024, foram registradas 13 internações por Diabetes Mellitus e 1 internação por pé diabético, além de 31 procedimentos associados à doença;
  • Segundo dados do Sistema de Informações de Mortalidade Base Local, o município registrou 30 óbitos em 2020, 26 em 2021, 26 em 2022, 24 em 2023 e 20 em 2024, sendo que estes últimos ainda estão em revisão.

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